domingo, 2 de setembro de 2018

SINAIS DO TEMPO


   Depois do almoço de família, estava na sala tentando conversar com meus sobrinhos adolescentes e concorrer com os smartphones. Era difícil conseguir a atenção deles, cada qual mergulhado no seu mundo virtual. Enquanto navegavam pela internet e redes sociais, fiquei pensando nas profissões que eles e seus filhos irão exercer no futuro próximo. Então me ocorreu uma ideia: falar com eles sobre meus avós, antepassados deles, mesmo sabendo que acham o século passado um período jurássico. De repente dei um grito na sala e consegui assustá-los, atraindo assim a atenção. Agi rapidamente e dirigindo-me a todos perguntei; 
- Vocês sabem quais eras as profissões do vô João e do vô Francisco?
   Ninguém respondeu, mas ficaram me olhando como se eu fosse um ser de outra galáxia. Aproveitei o momento e disse que o vô João, nascido em 1904, tinha saído “sapateiro” e o vô Chico, nascido em 1907, fora “ourives”. Não houve o efeito que eu desejava, mas a Jéssica e a Camila morderam a isca:
   Tio, a gente pode, tipo assim, pesquisar o que é isso? 
   Em menos de três minutos todos conseguiram informações sobre as profissões de seus bisavós e começaram a comentar que era muito estranho saber que antigamente alguém ganhava a vida consertando sapatos. Embora continuassem olhando primeiro para o celular e depois para mim, aproveitei a oportunidade dizendo que, segundo o último censo do IBGE, a cidadezinha onde nasci e morei até os dezenove anos possui em torno de vinte mil habitantes. Como fa muitos anos que deixei de residir naquele local, estimo que na época da minha infância a cidade deveria ter oito ou nove mil habitantes, sendo que mais da metade morava na zona rural devido ao fato de ser uma região que acolheu muitos imigrantes italianos e alemães, que tiveram como destino inicial o trabalho na agricultura. Tentando reproduzir no Brasil o modo de vida que tinham na Europa, se instalaram nas regiões do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que se assemelhavam às suas terras de origem quanto aos aspectos climáticos e geográficos. 
   Percebi que estavam dando ouvidos à mina história estiquei o assunto e salientei que o vô Chico era italiano e o vô João era caboclo. E que o vô João havia casado com uma italiana e o vô Chico com uma mulata. Isso porque com a introdução da ferrovia no sul do Brasil a mão de obra para os trabalhos mais pesados havia sido recrutada entre os negros, índios e caboclos, o que acabou favorecendo a mistura de povos que representa o nosso País. Depois, com a chegada da era industrial, os imigrantes, nativos e ex-escravos foram aos poucos deixando a lavoura e se fixando na cidade como ferreiros, sapateiro, alfaiates, barbeiros, costureiras, lavadeiras, pedreiros, ourives, carpinteiros e comerciantes, dentre outras ocupações. 
   - Então, de boa, véio, você tá dizendo que nós somos mestiços? Indagou Luan. 
   - Exatamente, respondi. 
   Em seguida a Gabi, que é esperta nos números, argumentou com espanto que não entendia como o vô João conseguiu criar oito filhos consertando sapatos e o vô Chico manteve onze filhos trabalhando com joias e acertando relógios. 
   Bizarro isso, falou Rafael, quem iria hoje em dia arrumar sapatos ou usar relógio?
   - Sinais do tempo, “era outra vibe e não existia a web”, finalizou. (FONTE: Crônica escrita por GERSON ANTONIO MELATTI, leitor da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, 1 e 2 de Setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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