segunda-feira, 17 de setembro de 2018

ALIMENTAÇÃO E SONO PODEM AFETAR FERTILIDADE MASCULINA


 Pesquisas na UEL investigam a relação de elementos, como privação do sono e ingestão de agrotóxicos através dos alimentos, com possíveis danos à vida reprodutiva. 

   Em busca de respostas sobre as possíveis causas dos distúrbios reprodutivos no sexo masculino, a bióloga Glaura Scamtamburlo Alves Fernandes coordena há sete anos uma série de pesquisas no Laboratório de Toxicologia e Distúrbios Metabólicos da Reprodução, da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
   Os estudos avaliam diversos elementos que podem, em um médio ou longo prazo, gerar danos à fertilidade masculina. As linhas de pesquisa envolvem desde a tecnologia, como consumo de agrotóxicos por alimentos até comportamental, como a privação do sono, consumo de álcool, entre outros.
   Para isso, o grupo de pesquisas do (CCB) Centro de Ciências Biológicas da universidade utiliza roedores machos de 40 dias de idade, que mimetiza a fase da adolescência (período peripuberal) dos seres humanos. A análise de roedores nesta faixa etária torna a pesquisa inédita. 
   “Com essas análises, consigo traçar um perfil de tratamento e provar que realmente há uma alteração devido a tal evento. O organismo do roedor é mais resistente que o do humano e, em relação à reprodução, a gente já constatou alterações, o que significa que a chance disso acontecer nos homens é maior”, afirma. 

   HORMÔNIOS SEXUAIS
   Entre os resultados, um ponto de atenção é com relação aos distúrbios do sono. O estudo conduzido pela doutora Gláucia Eloísa Munhoz de Lion Siervo mostrou que a privação do sono reduz a motilidade (capacidade móvel) dos espermatozoides em até 50%, mata as células dos testículos, o que reflete na produção dos espermatozoides, e provoca alterações na produção de hormônios sexuais, como testosterona, LH (hormônio luteinizante) e corticosterona. 
   “A gente sabe que os adolescentes têm um padrão de sono diferente. Eles chegam a dormir cinco, seis horas, enquanto a necessidade de sono deles é entre 10 e 11 horas por dia. Esse comportamento, lá na frente, pode afetar a fertilidade”, aponta Siervo. 
   Para chegar a essa resposta, o estudo intitulado “Efeitos de restrição de sono durante a peripurbedade sobre o desenvolvimento testicular e epididimário”, usou métodos para reduzir o tempo de sono dos roedores pela metade, A pesquisadora explica que eles precisam dormir 12 horas por dia.
   “Para privá-los de sono, nos os colocamos em um tanque com blocos de concreto e um pouco de água no fundo. Eles ficavam sobre essas plataformas, mas quando dormiam e entravam na etapa mais profunda do sono (REM), chamada REM, quando ocorre a atonia muscular, eles encostavam o focinho na água e acordavam”, detalha.
   O trabalho de Siervo já foi publicado em revistas internacionais e, futuramente, ela espera se dedicar ao desenvolvimento de uma droga contraceptiva masculina. 

   AGENTE TÓXICOS
Além do sono, Glaura Fernandes, que é responsável pelo laboratório, destaca também a investigação sobre o consumo de agrotóxico através da alimentação e o insucesso reprodutivo.
   Desde 2008, o Brasil ocupa o lugar de maior consumidor de agrotóxicos do mundo, conforme o dossiê da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). Para se ter uma ideia, a estimativa, segundo a campanha “Viva sem veneno”, é de que cada brasileiro consome, em média, 7,3 litros de veneno por ano. 
   “Estamos injetando uma dose mínima diária, na boca do animal, por um processo chamado gavagem. Utilizamos a via gástrica para mimetizar mais ainda a exposição do indivíduo a esses agentes tóxicos. São dois trabalhos. Um analisa um inseticida usado no combate do mosquito Aedes aegypti e outro em um herbicida utilizado nas lavouras”, explica. 
   De acordo com a bióloga, quanto menos dose é absorvida, mais efeito tem. “Quando um elemento vai chegando em menor dose e mais lentamente no organismo, a capacidade de defesa do organismo vai sendo driblada por aquele agente. E com isso, vai lesando um pouquinho de cada vez. E o interessante do nosso trabalho é que os animais não têm efeito de intoxicação”, diz.
   É o caso também dos humanos. Fernandes comenta que em doses pequenas os homens não sentem nenhuma alteração, mas quando se investiga, no caso a questão reprodutiva, os pesquisadores estão constatando uma diminuição da qualidade espermática, com alterações no tecido epididimário e testicular. 
   Além da alimentação e do sono, há ainda o uso de fármacos, o consumo de álcool, açúcar e gordura, sedentarismo, obesidade, disfunção tireoidiana, estresse e ansiedade, que podem interferir na saúde reprodutiva masculina. Vale lembrar que tudo isso está associado ainda ao processo de envelhecimento. 
   “Estamos trabalhando com vários elementos que podem desbalancear a morfofisiologia desse sistema reprodutor. Os prejuízos na fertilidade dos indivíduos podem ocorrer em qualquer fase, inclusive na vida intrauterina porque a mãe está sendo exposta à essas condições externas”, completa. 

   ‘A SOCIEDADE AINDA RESPONSABILIZA A MULHER’ 

   Além da descoberta de algumas causas dos distúrbios na reprodução masculina e do fornecimento de informações para tratamentos futuros, as pesquisas na UEL também colaboram para desmitificar a ideia de que a mulher é responsável pela não reprodução ou pelas alterações genéticas do filho (a). 
   “Falar sobre problemas reprodutivos na mulher, até por uma questão cultural, é normal, mas para o homem é como se interferisse na masculinidade. Na maioria das vezes, não há essa relação, pois os homens têm desempenho sexual e libido normais. A sociedade ainda responsabiliza a mulher. Tem que desmistificar isso”, diz a pesquisadora e professora do Departamento de Biologia Geral da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Glaura Scantamburlo Alves Fernandes. 
   De acordo com ela, “o homem contribui, e muito, para o insucesso reprodutivo do casal e ainda pode ser o responsável por alterações no descendente, como Síndrome de Down.”
   Em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 50 milhões de pessoas são consideradas inférteis (casal que mantém relações sexuais sem métodos contraceptivos durante 12 meses sem engravidar). No Brasil, a estimativa é que oito milhões de pessoas apresentam essa condição (M.O.) 

   CAMPANHA QUER ATINGIR JOVENS 

   No mês de Julho, Curitiba sediou o “Movimento da Fertilidade” um evento inédito da SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) para conscientizar jovens sobre a importância de preservar a fertilidade natural e as limitações do sistema reprodutivo. 
   O especialista em reprodução humana Álvaro Ceschin, membro da SBRA, explica que a idade também interfere na qualidade espermática em homens acima de50 anos, apesar dos espermatozoides serem produzidos de forma contínua. 
   Mas mulheres, o passar o tempo é ainda mais impactante, pois elas nascem com aproximadamente um milhão de óvulos e vão perdendo essa reserva ao longo dos anos. Para se ter uma ideia, na adolescência, esse número cai para 300 mil e, desses, estima-se que a mulher vai utilizar cerca de 300 em idade reprodutiva. 
   “O marco é aos 35 anos, com declínio acentuado depois dos 40. Além da quantidade, há alterações também na qualidade. Então, o alerta é para que as pessoas tenham uma consciência da importância de adotar hábitos saudáveis”, ressalta. Para um prognóstico maior de engravidar, o especialista destaca a alimentação saudável, a prática de atividade física e a saúde emocional. 
   Ceschin cita ainda que cada vez mais as mulheres estão engravidando mais tarde. “Houve uma mudança social. No Brasil, o número de mulheres que optam por serem mães após os 40 anos aumentou 49,5% nos últimos anos”, aponta. 
   Dados do Sinasc (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos), do Datasus, mostram que entre 2010 e 2016 o número de mulheres que tiveram filhos na faixa dos 35 aos 49 anos, subiu 28%, passando de 299 mil em 2010, para 384 mil em 2016. 
   “Hoje, já existem alternativas como congelamento de óvulos para aumentar a possibilidade de engravidar no futuro, especialmente em jovens com alguma redução por conta de doença oncológica. Para o futuro, já se tem pesquisado muito o congelamento de tecido ovariano, visando a possibilidade de concepção natural”, conclui. (M.O.) (FONTE MICAELA ORIKASA – Reportagem Local, página 10, FOLHA SAÚDE, segunda-feira, 17 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).


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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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