sábado, 20 de junho de 2015

CALDEIRÃOZINHO, UM SÍMBOLO DA ROÇA




   Sempre que vejo pais preocupados em enfeitar os pratos para dar aos seus filhos uma alimentação saudável, me vem à lembrança o tempo de infância, passado no sítio. Tudo começou em 1922 com a vinda dos meus  avós da Itália. Meu pai era uma criança de oito anos quando a família desembarcou no porto de Santos  e instalou-se em Nova Dantzig, antigo nome de Cambé. No início, a família trabalhou no ramo de serralheria e depois de muitos anos de esforço e economia, pode comprar um sítio na Gleba Ribeirão Vermelho, na região de Rolândia. O sítio Santo Antônio tinha 20 alqueires e acabou sendo tocado pelo meu pai e meus tios, que plantavam café, arroz, milho e feijão. Outras culturas como mandioca, batata doce e cana eram produzidas conforme necessidade de sustento  e pode-se dizer que em certas épocas havia fartura, pois jiló, quiabo, moranga e e diversas espécies de abóboras eram abundantes. Na horta, sempre se colhia cebolinha, couve, salsa, cenoura, rabanete, almeirão, batata e cará. Inhame e taioba brotavam na beira do brejo enquanto os pés de chuchu cresciam nos barrancos e iam se esparramando pelas cercas e arbustos. Sempre se achava uma fruta conforme a estação: melancia, laranja, pêssego, maracujá, jabuticaba, abacate, manga, goiaba, banana, mamão. Ovos eram alimentos diários e nunca faltava galinha assada, maionese e macarronada nos almoços de domingo. Os poucos produtos que se compravam na venda era o sal, o açúcar e o querosene.
   Mas o que me dava mais alegria era observar minha mãe preparar o almoço para eu levar na roça onde meu pai e meus tios trabalhavam diariamente. Excelente cozinheira, por volta das nove horas da manhã ela preparava a comida e meia hora depois os homens estavam esperando para comer. Eu levava os caldeirãozinhos  envoltos em panos de pratos, amarrados por cima junto com a colher.
   Embora fossem iguais, cada trabalhador de longe sabia qual era o seu. Não era preciso falar nada e cada qual ia pegando o seu. Eles sentavam no chão ou em troncos de árvores. Primeiro  papai dobrava o joelho sobre a terra, fazia o sinal da cruz e rezava um breve agradecimento. Depois, sentado no chão, enrolava suavemente o pano de prato e tirava a tampa do caldeirão, mas não comia de imediato. Olhava para a comida e para o céu. Olhava para o céu e para a comida, como que agradecendo novamente  por receber aquele alimento. Só então começava a comer, bem devagar, saboreando cada pedaço, cada grão de alimento produzido naquela abençoada terra roxa. Colocava uma colherada na boca e ficava olhando qualquer ponto distante na roça, pensando.  Eu ficava ali, de cócoras, quieta, parada, olhando ele comer e ficava sonhando com o dia em que eu poderia comer daquele jeito.
   Comer no caldeirãozinho é um ritual, que somente aqueles que viveram no sítio conhecem. A comida era retirada no sentido vertical, para poder pegarr um pouco de cada ingrediente: o feijão que ficava no fundo , o arroz no meio e partes da mistura  e dos legumes refogados que fica vam por cima. Pedaços de carne ou de frango eram os últimos a serem  degustados, porque não era todo dia que faziam  parte da boia.
   Depois de comer, ele bebia uma caneca d’água ou de limonada e, se tivesse, chupava uma laranja ou manga, depois começava a tirar um breve descanso. Embora tivesse uma  enorme vontade  de comer no caldeirão, eu voltava feliz, pois sabia que a mamãe já me esperava  com o almoço servido, não sem antes  pedir paa eu arriar os calderãozinhos e pendurá-los no paneleiro, deixando-os pronto para a lida do dia seguinte.  ( Texto escrito por MARIA DE LOURDES PIVETTA e GERSON ANTONIO MELATTI, leitores da FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, publicação do jornal  FOLHA DE LONDRINA, sábado, 20 de junho de 2015).  

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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