sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

PRIMO NERSO


   Era janeiro, o sol escaldante que castigava a roça de milho que estava quase na época da colheita. Tempo parado sem uma pequena brisa, só se ouvia o cantar das cigarras. Tio Gerso e os filos na labuta no meio do milharal. Todos de camisa de manga comprida, pois as folhas da planta em contato com a pele causavam uma coceira danada. 
   Primo Nerso, isso mesmo, era o nome dele, não gostava muito do trabalho da roça. Gostava mesmo era de fazer uns “negocinhos”, como compra e venda de bezerros, porcos, galinhas, relógios e até bicicletas. Tinha seus vinte e poucos anos, e quando ia para a cidade ou nos bailes, passava glostora no cabelo para assentar e usava o perfume Royal Briar, um tanto enjoativo. 
   Nesse dia após o almoço Nerso sofreu um desmaio, ficou pálido, lábios roxos, e suando muito, molhando toda a roupa. Imediatamente socorrido pelos irmãos e levado ao carreador, embaixo de uma frondosa mangueira, tiraram a camisa e jogaram água fresca da moringa na sua cabeça. “Recobrou” os sentidos e foi levado para casa. Tia Orélia correu no quintal e veio com um punhado de ervas medicinais fazendo chá adoçado com mel de abelha jataí. 
   No dia seguinte, no café da manhã, Nerso, para o espanto da família, comunicou a todos que iria ajudar no término da colheita e não trabalharia mais na roça. Iria tentar a vida na cidade. 
   Dias depois mandou uma carta para seu Josué, que tinha sido vizinho de sítio e mudara com a família há tempos para São Paulo, dizendo de sua intenção de trabalhar lá. Dias depois, a resposta do seu Josué colocando a casa a sua disposição. 
   Chegou o dia da partida, tio Gerso, um gaúcho, enérgico e durão, deixou cair lágrimas ao despedir do filho. Tia Orélia não se conformava, tinha chorado muitos dias antes. Os outros irmãos inconsolados levaram Nerso até a rodoviária que partiu rumo a grande cidade. 
   Dias depois, no ABC paulista, estava trabalhando como vendedor em uma loja popular onde só vendia calças faroeste. 
   Muitas vezes, principalmente a noite, ficava pensando se tinha sido boa decisão largar a família e vindo para a grande cidade. Saudades dos pais e dos irmãos. Chorava muito, mas tinha seus objetivos. Um de seus piores dias foi quando numa manhã indo para o trabalho o ônibus estava muito lotado, e no empurra-empurra sua marmita caiu e foi pisoteada pelos demais passageiros expondo seu almoço (um ovo frito e um torresmo como mistura). Envergonhado juntou a mesma, toda amassada. Naquele dia ficou sem o almoço. 
   Católico, ia aos domingos à missa, como recomendação da mãe. Às vezes não ajoelhava pois seu sapato precisava de uma nova meia sola, e ele não tinha dinheiro para consertar. 
   O tempo passou, já morando em uma pensão e com as economias comprou uma Kombi e com algumas calças passou a frequentar as portas das fábricas, negociando suas mercadorias. Negócios prosperavam, já tinha saído do emprego, comprou mais uma perua e trouxe dois irmãos para trabalhar com ele. 
   Anos se passaram, já proprietário de suas lojas e com toda a família morando na capital, veio nos visitar com seu carrão, um Simca Chambord. Tinha vencido na vida. 
   Meu pai, então perguntou ao sobrinho se ele tinha saudades do milharal. Ele respondeu: “Olha tio, só me lembro de milho quando estou comendo algumas espigas na praoia “Zé Menino” em Santos. (FONTE: Crônica escrita por Sidney Girotto, leitor da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, 25 e 26 de novembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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