domingo, 20 de janeiro de 2019

EDUCAÇÃO SEXUAL UM TABU A SER ENFRENTADO

Mary Neide Figueiró afirma que não se deve esperar que as crianças perguntem para instruí-las

   Entrevista concedida e publicada pelo jornal FOLHA DE LONDRINA, 19 e 20 de janeiro de 2019, página 3, Folha Entrevista. Reportagem Local , Pedro Moraes, concedida por MARY NEIDE DAMICÓ FIGUEIRÓ, psicóloga, doutora em Educação e especialista em educação sexual
   De onde bem os bebês? A pergunta aterroriza muitos pais que não conseguem identificar o momento ideal para conversar sobre sexo com seus filhos. Insegurança, vergonha e desconforto não faltam. Fora a dúvida sobre qual idade é a melhor para introduzir o assunto. A psicóloga Mary Neide Damico Figueiró, doutora em Educação e especialista em educação sexual, afirma que não se deve esperar que as crianças perguntem. Os adultos devem aproveitar de situações cotidianas para começar a tocar no tema. “Os pais deve aproveitar situações espontâneas, como uma tia grávida na família. A partir dessa notícia, é possível estabelecer o que deve ser aprendido em casa. Mas também há um espaço na escola para conversar sobre essas questões”, explica Figueiró, que acaba de lançar um novo livro. 
   Intitulado “Educação Sexual: Saberes Essenciais Para Quem Educa” (Editora CRV) – informações sobre a venda no site www.maryneidefigueiro.com.br – reúne textos produzidos pela psicóloga ao longo de seus mais de 30 anos de carreira, grande parte desse período ela passou como professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina), instituição a qual ainda tem ligação por meio de linhas de pesquisa como professora sênior. A publicação, originalmente editada com foco para a formação de professores, é abrangente inclusive para os pais. Eles são estrutura fundamental para a educação de seus filhos. “Os pais educam ao dar um modelo positivo de vida a dois, mas, quando não se conversa sobre o tema, também acaba sendo uma forma de educação sexual “ – explica, que tira dúvida sobre o tema em seu canal no Youtube.
   Nesta entrevista concedida à FOLHA, a psicóloga defende que a escola também é espaço para conversar sobre sexo com as crianças e alerta que a educação sexual, além de ensinar sobre a vida, é capaz de evitar casos de abuso. Ela ainda faz críticas aos profissionais de ensino que adiaram a implantação da matéria e defende que os professores precisam estudar p tema. “Ninguém vai ensinar a fazer sexo, a mudar a orientação sexual, até porque isso é algo da identidade de cada um, não há escolha ou opção. Esclarecer, não fazer campanha nem pró nem contra. O professor deve falar dos temas ligados à vida, sim”, conclui.

   No que exatamente consiste a educação sexual?
   A educação sexual consiste nas oportunidades em que pais e educadores têm para conversar com as crianças sobre as questões ligadas ao corpo e que envolvem a sexualidade, nas quais possam esclarecer as dúvidas que surgem. Os temas estão no cotidiano e as crianças acabam tendo conhecimento e, por isso, é bom que perguntem. O diálogo pode ser travado tanto em casa como na escola Pode ter um caráter formal, planejado e intencional, quando um pai conversa com a ajuda de um livro ou quando um professor prepara uma aula para falar sobre métodos anticonceptivos. A educação sexual também acontece sem que os adultos se deem conta, no espço das ações cotidianas. Os pais educam ao dar um modelo positivo de vida a dosi, mas quando não se conversa sobre o tema também acaba sendo uma forma de educação sexual. Os filhos captam aí a mensagem que é um assunto que não deve ser falado e acaba se passando a ideia de que é um tabu. As crianças acabam buscando respostas entre os amigos, pela mídia ou pela internet, que é o pior caminho. 

   Quando é o momento certo para se tocar no assunto?
   É importante antecipar essa formação e não se deve esperar as crianças perguntarem. Os pais devem aproveitar situações espontâneas, como uma tia grávida na família. A partir dessa notícia, é possível estabelecer o que pode ser aprendido em casa. Mas também há um espaço na escola para conversar sobre essas questões. Onde os alunos podem debater e discutir o assunto em um mesmo nível intelectual e de conhecimento. Normalmente, as crianças se sentem mais à vontade perguntando na sala de aula para sua professora de confiança. Quanto maiores, as crianças pensam que perguntar sobre o tema significa que querer fazer sexo. Pode inibir a criança. Depende muito de como foi construída a relação com os pais, como foram as respostas às primeiras perguntas. Se os pais desconversam, ela não vai desenvolver uma confiança em voltar a perguntar. 

   De que se trata o livro?
   Trago neste livro tudo o que construí na minha prática profissional como docente na UEL, ao longo de 30 anos, Tenho muitos artigos distribuídos em periódicos e outros em capítulos de livros pelo País. Agora decidi revisar e atualizar todos eles. A maioria surgiu a partir de convites para palestrar em instituições de ensino. Em um deles, estratégias de ensino. Também é útil para os pais. 

   A sociedade brasileira sofreu drásticas mudanças socioculturais nas últimas décadas. Hoje é possível afirmar que a educação sexual está mais precoce?
   Em palestras, eu sempre perguntava aos jovens se eles se sentiam livres. Todos diziam que sim, Mas eu garantia a eles que não são. Há hoje uma pressão para que se viva o que é dito para fazer e, se não fizer, a pessoa é careta. O filósofo francês Michel Foucault, no qual nos pautamos sobre a educação sexual, fala que a falta de liberdade não está só naquilo que proíbe, mas também naquilo que se manda fazer. O importante é a pessoa ter autonomia de pensar sobre o que quer fazer. Apesar disso, nas últimas décadas, houve uma mudança positiva para as mulheres que passaram a ter a vida sexual mais ativa sem esperar o casamento. 

   Em sua opinião, de que forma deveria ser implantada o tema na educação formal brasileira?
   Tínhamos um bom começo: os Parâmetros Curriculares Educacionais, chamados de PCN criados pelo Ministério da Educação em 1996. Eles foram distribuídos para todas as escolas e havia uma indicação sobre o que os professores deviam ensinar em cada matéria, série por série. E a Educação Sexual entrava como tema transversal, que poderia perpassar por todas as disciplinas. Português, por exemplo, pode pegar um texto de atualidade e fazer um gancho para debater. Acho essa uma maneira válida de trabalhar porque não fica a cargo de um único professor. Só que a Escola tem que ter reunião para ter um planejamento conjunto. Agora o modelo foi substituído pela Base Curricular Nacional, que é um retrocesso, já que o ensino das questões ligadas ao corpo e a 

   Os professores estão preparados para dar aulas obre sexualidade?
   Na verdade, todos os professores que fizeram licenciatura deveriam ter tido aulas de educação sexual, mas não têm. O ideal seria que depois houvesse uma formação continuada. A rede municipal e estadual poderia ter profissionais que dessem suporte, seria o ideal. Os professores têm muitas dúvidas e vejo que muitos não se sentem preparados. O assunto ainda é tabu. A aceitação dos professores em trabalhar a educação sexual nas escolas vinha crescendo de uma forma positiva, mas as discussões que surgiram sobre o tema abalaram essa trajetória. Os professores têm que trabalhar com os alunos para ganhar confiança e só então trabalhar com os pais. 

  Ajuda também na prevenção de alunos?
   Escrevi um texto novo para esse livro que trata deste assunto. “Abuso Sexual Infantil: Como fazer a prevenção ‘pra valer’” Somente agora pessoas estão caindo em si sobre o tema. E não adianta começar a falar sobre quando a criança tiver 6 anos. É preciso falar ainda aos 2 anos, explicando sobre qual parte do corpo não pode ser tocada. Ensinar que não pode tocar em determinada parte do corpo de outra pessoa. Fazer uma prevenção direta e clara. Muitos textos e vídeos falam sobre o tema de forma indireta e a criança acaba não sendo capaz de entender. Os pais ainda hoje estão mal informados, cheios de preconceitos. Hoje, se educa com o medo porque os pais não leem a respeito; não se informam.

   Houve algum erro no caminho durante o processo da adoção do tema na educação brasileira?
   Quando os PCNs surgiram, faltou às escolas abraçarem o material e colocarem em prática. Esse foi o grande erro. Discursos distorcidos não teriam o alcance que têm hoje se nossas escolas estivessem mais amadurecidas em termos de estrutura para trabalhar a educação sexual. 

   Como ganhar a confiança e modificar o atual panorama de educação sexual no País?
   Só tem uma maneira: os professores estudarem o tema da educação sexual e compreenderem de fato o que é, e como pode ser desenvolvido em cada disciplina. Teria que ter o desenvolvimento da convicção de que é papel da escola também contribuir nesta parte, porque trabalha temas ligados à vida. Eu garanto: os alunos passam a gostar mais dos professores que tratam desses temas, veem a escola de forma mais motivadora. Então a saída é essa. Ninguém vai ensinar a fazer sexo, a mudar a orientação sexual, até porque isso é algo da identidade de cada um, não há escolha ou opção. Esclarecer, não fazer companha nem pró nem contra. O professor deve falar dos temas ligados a vida, sim. Não devem se posicionar em regras, porque este é o papel da família. O papel da educação é discutir o assunto de forma científica sem fazer campanha para algum lado. Ensinar o respeito e a igualdade. 
  Confira a entrevista completa utilizado aplicativo capaz de ler QR code e posicionando no código abaixo:
FONTE: PEDRO MORAES, Reportagem Local, página 3, Folha Entrevista, 19 e 20 de janeiro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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