quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O TEATRO PERDE UMA LUZ

Bibi Ferreira, que faleceu nesta quarta´feira(13), aos 96 anos, estreou no palco com 24 dias de vida; a carreira quase centenária nunca lhe tirou o entusiamo de principiante

   Pelos dados oficiais Bibi Ferreira tinha 77 anos de carreira. Mas a atriz e diretora, que morreu aos 96 anos de idade, nesta quarta-feira (13), estava no teatro havia muito mais tempo. Sua estreia ocorreu ainda aos 24 dias de vida – quando foi levada à cena para substituir uma boneca que havia sumido – e ela, desde então, esteve sob os holofotes. Dizia adorar as luzes. E, fosse cantando, fosse representando, havia sempre um próximo espetáculo nos planos de Bibi. 
   A carreira praticamente centenária, não lhe tirou, contudo, o nervosismo de iniciante. “Sabe que eu ainda sinto uma angústia naqueles instantes antes de entrar em cena? Aquele lugar, depois que você sai do camarim, e ainda não está no palco. Aquele caminho... É ali que eu sinto um terror”, ela relatou em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, quando completou 90 anos. 
   Falar com Bibi era estar diante do teatro brasileiro e de suas pequenas grandes revoluções. Filha de Procópio Ferreira (1898-1979), ela carrega do pai o amor pela cena e o pendor para o sucesso – a família vivia da bilheteria de seus espetáculos e não podia se dar ao luxo de um fracasso. Mas, curiosamente, foi Bibi uma das primeiras a suplantar o modelo de atuação que Procópio representava. Considerado o maior artista de seu tempo, ele reinava soberano quando as cortinas se abriam. Em cena, fazia o que bem queria, ajustava os textos ao seu talento, relegava todos os outros ao lugar de coadjuvantes. Tratava-se de um tempo em que o diretor não passava de mero ensaiador e todo o público estava interessado, unicamente, em ver o primeiro ator brilhar.
   Bibi era filha da tradição (do teatro de comédia e do teatro de revista, onde trabalhava sua mãe), porém representante da modernidade. Nos anos 1940, tudo começava a mudar. O Teatro Brasileiro de Comédia chegava com novas ideias; o ator precisava decorar os seus diálogos, haveria um enredo que decidiria a concepção das montagens, sofisticava-se o repertório. A jovem Bibi se alinhava a essa corrente. À sua presença arrebatadora, acrescia uma técnica para os padrões da época. Ainda menina, integrou o Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e, em 1946, foi estudar na Royal Academy of Dramatic Arts de Londres. Ao voltar, surpreender a crítica com sua primeira direção em “Divórcio” (1947) e fez ainda mais sucesso com a encenação de “A Herdeira” de Henry James (1952). 
   Na sala do apartamento onde morava, no Rio, a atriz guardava um retrato emoldurado do pai. Mas não creditava apenas a ele as lições aprendidas. Era descendente de cantores líricos. “Meus avós se conhecer no coro do Teatro Solis, de Montividéu”, contava. “E minha avó, filha deles, já acordava cantando áreas de óperas. Cantava o dia inteiro”. Bibi também cantava o tempo todo. E cantava sem perceber. Parecia que cada lembrança de sua vida era acompanhada por uma canção, que ela desfiava a melodia como se fosse parte da história a ser contada.
   Foi no teatro musicado, aliás, que Bibi deixou sua maior contribuição. Será lembrada por suas grandes atuações no gênero, como em “My Fair Lady, (1964) e em “O Homem de La Mancha” (1972) – ambos com Paulo Autran. Outra parceria profícua na carreira ela estabeleceu com seu quarto e último marido, Paulo Pontes. Dele, dirigiu o musical “Brasileiro, Profissão e Esperança”, obra de imenso sucesso, e protagonizou “Gota D’Água” (1975). A peça escrita por Pontes e Chico Buarque deu à atriz a oportunidade de viver uma personagem de coloração trágica. Talvez Joana tenha sido sua mais memorável interpretação – ninguém nunca superou sua versão para aquelas canções e ela ainda sabia, 40 anos depois, seus diálogos de cor.
   Bibi dizia que o segreo para a saúde era a vida regrada. Não fumava, não bebia. “Não que eu seja contra”, ela justificava. Mas seus vícios eram outros. Um par de sapatos sempre muito altos – para compensar a baixa estatura -, batom sempre vermelho, um copo de Coca Cola, que ela ia tomando devagarinho enquanto conversava, e o trabalho. A grande atriz não pensava em parar. Ela ainda precisava voltar a viver Piaf, tornar a cantar Frank Sinatra, viajar pelo mundo. Estar sempre e mais uma vez no palco. (FONTE: MARIA EUGÊNIA DE MENEZES – Agência Estado, caderno FOLHA 2, quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019, Milton Fukuda/Estadão Conteúdo, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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