quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

MONJOLO OU RODA D'ÁGUA?


   Embora acostumado ao verão de Londrina, não foi fácil suportar as altas temperaturas dos últimos meses. Dizem que foi o janeiro mais quente dos últimos quarenta anos e por onde andei, só ouvi gente reclamando da falta de chuva, procurando ambientes com ar-condicionado. 
   É sempre assim: quando faz calor ficamos perguntando quando é que vai começar o inverno e quando chega o frio ficamos lembrando como são bons os dias de verão. Ainda existem aqueles que afirmam que o ano deveria ser sempre primavera, enquanto outros alegam que, devido ao aquecimento global, não há mais distinção entre as estações. 
   Estava pensando nessas coisas e nas dificuldades que a população enfrenta quando ocorre falta de água, tendo sido interrompido pela chamada telefônica do amigo José Matias convocando para ajudar na instalação de um monjolo em sua propriedade rural localizada no distrito de Maravilha, à margem do rio Tibagi. Durante a conversa ele contou que após há vários meses havia conseguido autorização para usar a madeira de uma árvore derrubada por um temporal. Adiantou que estava quase tudo ajeitado, pois já tinha feito as peças necessárias: eixo, pilão, cuba e soquete, precisando de ajuda apenas para montar a engrenagem. 
   Conforme combinado, naquele sábado saí de casa bem cedo para fugir do calor e aproveitar o dia. Quando cheguei ao lugar eram sete e meia da manhã e não encontrei o Zé Matias, pois ele tinha ido até o sítio vizinho buscar mais gente para ajudar na empreitada. Enquanto isso, fiquei andando pelo sítio de onde se tem uma vista espetacular do rio,, com seus remansos, ilhas e corredeiras. Curioso para saber das melhorias que o Zé Matias disse que tinha feito no sítio, fui ver a mina d’água que brota atrás do bambuzal, ciente de que o sujeito que tem uma nascente de água potável dentro da propriedade é dono de um privilégio, é um abençoado. 
   Fiquei impressionado pelo capricho que o Zé Matias dedicou à proteção da nascente, contribuindo para tornar ainda mais belo aquilo que a natureza criou. Ele aproveitou o declive do terreno e construiu uma canaleta para favorecer o deslocamento da água e fazer girar uma roda d’água vinte metros abaixo da nascente. E o mesmo volume de água que roda foi direcionado por meio de outra canalização, mais extensa, para o local onde seria instalado o monjolo. Não sei mensurar quanto tempo fiquei por ali aproveitando o frescor da mata e admirando a roda d’água e só soltei à realidade quando ouvi as vozes do pessoal que o Zé tinha ido buscar. 
   Com o mutirão feito pela vizinhança, em torno do meio dia o serviço estava pronto e dava gosto de ouvir o barulho da água movimentando a engenhoca. Era engraçado observar a alegria daquelas pessoas a contemplar um maquinário tão rudimentar em funcionamento. Devia ser a lembrança de outros tempos e lugares, quando os moinhos faziam parte da paisagem rural. Ainda interessado no assunto, foi prazeroso verificar que a água movimenta a roda e o monjolo, segue em direção ao córrego dos jabutis que passa na divisa do sítio e desagua no Tibagi. Tudo ecologicamente correto. 
   Naquela noite dormi no sítio e pela manhã, enquanto tomava café com a família do Matias, agradeci por ter ajudado a preservar o que eu chamei de “patrimônio cultural da roça”. Mas assim como existem pessoas que apreciam um dia de calor e outras que gostam do frio, estou dividido entre o monjolo e a roda d’água. Fico horas matutando e não consigo definir qual é o mais bonito. (FONTE: Crônica escrita por GERSON ANTONIO MELATTI, leitor da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, 23 e 24 de fevereiro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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