domingo, 18 de fevereiro de 2018

PESSOAS QUE SÓ SE RELACIONAM COM MÁQUINAS


   O fenômeno cocooning – que significa “aconchego do casulo” – aponta um tipo de comportamento no mundo contemporâneo. Se parece poético falar de uma pessoa excessivamente centrada em si mesma – que tem pouco ou nenhum contato social, preferindo viver em casa – por outro lado, há quem aponte que isso pode gerar comportamentos esquizoides, levando à angústia, à frustração e ao medo de enfrentar a realidade. 
   O Japão, um dos países mais tecnológicos do mundo, criou outro termo para essas pessoas, geralmente trancada com seus computadores, apontando para uma mudança de comportamento que leva a relações extremas entre homens e máquina, como o abandono completo das relações sociais e de grupo. Lá, esses isolados se chamam Hikikomori, termo para o qual os britânicos também já têm uma expressão própria: NEET. 
   Os japoneses estão preocupados com o que já consideram um síndrome: o número crescente de pessoas, sobretudo do sexo masculino, entre 15 e 39 anos, que se relacionam basicamente com o mundo digital. Quem criou o termo foi o psicólogo japonês Saito Tamaki, nos anos 1990, ao observar que no Japão cerca de um milhão de jovens do sexo masculino sofre desse distúrbio que leva à extrema exclusão e isolamento social.
   Ao traçar o perfil dessas pessoas, notou-se que a maioria vive em ambiente de muito conforto e tecnologia, entre seus interesses marcantes estão os mangas, animes e videogames, embora isso não seja uma regra. Mas vivendo numa concha, eles não trocam esse tipo de entretenimento por coisas que seriam naturais para outras gerações: como a roda de amigos ou reuniões familiares. Essas pessoas quase sempre chegam também aos 40 anos dependendo financeiramente dos pais, mas o que pode parecer “vagabundagem” é, sobretudo, o medo de enfrentar o mundo. Na verdade, com o isolamento, eles têm um medo cada vez maior de contatos. Geralmente não param em empregos e desenvolvem baixa autoestima, vivendo de forma claustrofóbica, sem ligar muito para si mesmos ou para sua imagem, chegando a dispensar cuidados com a higiene. Afinal, tudo passa a não ter muita importância. 
   O serviço de saúde pública do Japão chegou a criar a figura das assistentes sociais que ajudam no tratamento do Hikikomori, uma espécie de confraria de “super irmãs”, formada por pessoas do sexo feminino que telefonam e escrevem cartas aos isolados, convidando-os para ir ao cinema, shoppings, festas, enfim, os estimulam a ter vida social. 
   Claro que o extremo isolamento não tem nada a ver com o fato da necessidade de algumas pessoas ficarem sozinhas para se dedicar a coisas de seu interesse. Em outra direção, existem pesquisas que afirmam que sem isolamento circunstancial, as pessoas não criam. Escritores, cientistas, intelectuais e artistas em geral, às vezes precisam de reclusão para desenvolver um trabalho, que não combina com um mundo ruidoso no qual a atenção é dispersada constantemente. É necessário um bom senso para perceber as diferenças e não sair tachando um comportamento singular como isolamento doentio. Mas em sociedades cada vez mais adaptadas a tecnologias, na qual sonda-se a possibilidade até da imortalidade com o implante de chips que clonam consciências, transportando-as para outros corpos – como na série “Altered Carbon”, literalmente “caderno alterado” – nada mais parece impossível, e nasce um estranho mundo novo que vai muito além das especulações de Aldous Huxley. Mas essa é outra história que vou contar outro dia. (FONTE: Crônica escrita por CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com, jornalista em Londrina e escritora, caderno FOLHA 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 17 e 18 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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