domingo, 29 de outubro de 2017

A PACIFICAÇÃO DO SURFE

   Usada pelos surfistas, a palavra ‘aloha’ significa ‘afeto, paz, misericórdia e compaixão’

   Peruanos e polinésios disputam a criação do surfe. A única certeza é que ele nasceu no Oceano Pacífico e, talvez por isso, eu me sinta tão pacificada quando vejo moças e rapazes deslizando sobre suas pranchas. Eu me senti assim na última quarta-feira quando Gabriel Medina venceu mais uma etapa em Peniche (Portugal) e agora segue rumo à final do Circuito Mundial (WCT), que deverá acontecer em dezembro. A estrela de Medina brilha. Não tenho palavras para descrever a sensação que ele causa quando entra e sai dos tubos marítimos como um campeão que torna possível o que para mim parece impossível: pegar ondas, entrar dentro delas e sair do outro lado como quem desce de uma escada rolante. 
   Medina ainda me tira o fôlego quando foz seus “aéreos”, manobras com a prancha a alguns metros de altura que me fazem pensar que ele levita como se fosse um mago. Na verdade, o surfe mais que um esporte, é arte, cinema, pintura que se materializa no corpo plástico de um homem em perfeita sincronia com o mar. 
   No país em que todos falam de futebol, o surfe ainda não merece a devida atenção, nem os canais fechados transmitiram o campeonato em Peniche, embora nosso Neymar das ondas estivesse lá para mostrar que o Brasil não é lugar de um único esporte. Vivi na telinha do celular campeões brasileiros como Medina, Adriano de Souza e Miguel Pupo levarem para os mares do mundo a bandeira do país que tem uma das maiores costas marítimas do planeta. Seus dribles acontecem dentro d’água, seus gols são líquidos e certos, feitos com as pranchas que aderem a seus pés como veículos do outro mundo. 
   Entre os polinésios, quem tinha a melhor prancha era o líder da tribo, sempre o mais habilidoso nas ondas, que ganhava também a prancha feita com a melhor árvore. Muitos séculos se passaram até a universalização do surfe que chegou à Califórnia no início do século 20 e fez a fama de pessoas que formaram a turma do “Waikiki”, dentre elas George Freeth e Duke Kahanamoku, considerados os primeiros “beah boys”. Antes disso, o surfe era conhecido no Havaí onde, desde o fim de 1700, os nativos o praticam com uma habilidade que irritou os missionários calvinistas britânicos que, a partir de 1882, chegaram à ilha para impor sua religião e oprimir os costumes nativos. A velha história da religião que censura qualquer sinal de liberdade. 
   Não existe nada mais livre que um surfista e suas ondas, um corpo que vem e vai numa prática de autocontrole físico, que é também controle mental, e isso basta como controle de uma espiritualidade que não está só nas igrejas, mas nos templos da natureza cujo maior exemplo é o mar. Penso que o surfe não é apenas um esporte dos homens, mas dos deuses que nos levam ao impossível. Então, aloha! Que significa simplesmente “oi” e “tchau”, mas que nas origens é a palavra usada como demonstração de “afeto, paz, misericórdia e compaixão”. Precisa dizer mais? (FONTE: Crônica escrita pela jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com caderno FOLHA 2, página 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 28 e 29 de outubro de 2017 publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).    

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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