Dentro do carro parado, vi que o tempo da moça
esperando seu ônibus era agonizante, ainda mais no dia em que o Brasil ia
enfrentar outra seleção na Copa do Mundo. Mas, calma! O trânsito estava caótico
pra ela e pra todo mundo. O busão não a esqueceu, o relógio dela estava
funcionando e até adiantado, seu patrão também era brasileiro e por mais que
bancasse o “ pseudointelectual “ e adotasse
o discurso pronto e vencido que torcer pela seleção é aceitar a
roubalheira, mais cedo ou mais tarde,
ele iria entrar no clima do Mundial e deixar a garota sair mais cedo.
Aquele meio de tarde nunca ficou
tão cheio de lataria velha e nova nas ruas de Londrina. A imensa fila, paralela
em dois sentidos, levava a um “ mesmo destino “: uma casa com uma TV
funcionando. Antes da seleção verde e amarela pisar no gramado, a população corria aflita pelo
asfalto lotado de carros e afins. Pois é, até o Rei enfrentou congestionamento em São
Paulo e ouviu o primeiro tempo no rádio. É nessa hora que a isonomia que tanto
ouvimos na constituição funciona. O trânsito interrompe qualquer hierarquia
social. Meu Palio 1.0 iria chegar à
mesma hora que a Hilux 3.0 do meu lado. Ou seja, foi dinheiro jogado fora, Tio Patinhas.
Demorou, mas tão bonita comoção social
chegou numa temporada em que os ânimos dos brasileiros, estão inflamados. Não tá
fácil pra ninguém, a comida encareceu, o
PIB está diminuindo, e a CPI da Petrobras e do Caso Siemens esfriadas. A
situação é complicada, mas é preciso tirar um dia de folga, pelo menos nos
jogos do Brasil. Toda manifestação é bem-vinda. Porém, com a casa entupida de
visitas, os protestos podem ser presentes e menos barulhentos. Os gringos estão
aqui, não fica legal recebê-los com
balas de borrachas e cassetetes daqueles que as usam de forma repressora. Roupa
suja se lava em casa e os vizinhos (
lê-se aqui turistas ) não precisa ouvir nossa briga com o plenário. Isso a gente
resolve depois, temos nossa experiência das manifestações de Junho como carta na manga, relaxa.
Cheguei em casa a tempo, a Hilus também.
Já a garota, não sei, mas deve ter
pegado o final do hino nacional. Ela assistiu à partida, comemorou com os
amigos cada gol e depois se deu conta de que a passagem para Ibiporã subiu de
novo. Com o espírito do Mundial, penso que ela irá aderir ao espírito da Copa,
aplicando indignada um cartão vermelho ao aumento da tarifa.
( Crônica escrita por BRUNO NASCIMENTO, 21 anos, estudante de Ibiporã - PR, extraída do espaço CRÕNICA , do jornal FOLHA DE LONDRINA, quarta-feira, 25 de Junho de 2014 )
( Crônica escrita por BRUNO NASCIMENTO, 21 anos, estudante de Ibiporã - PR, extraída do espaço CRÕNICA , do jornal FOLHA DE LONDRINA, quarta-feira, 25 de Junho de 2014 )
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