Além de acender velas, torcedores têm atitudes inusitadas
Depois do Brasil perder a Copa, resta relaxar vendo uma espécie de videocassetadas que aconteceram durante os jogos. Aqui mesmo no Paraná, logo depois do jogador chileno Aléxis desperdiçar um pênalti no jogo contra o Brasil, Rafael Gambarim deu um tapa tão forte na TV que quebrou o aparelho. Um vídeo do momento do soco, feito por um primo, viralizou na internet e fez tanto sucesso que Rafael foi recompensado, ganhando de um rede varejista três aparelhos de TV e um projetor.
Quem acha a atitude exagerada precisa saber que há coisas piores, como a atitude do argentino que jogou a TV pela janela, após a eliminação da seleção de seu país nas oitavas de final. O aparelho espatifou-se entre os carros – há vídeos no YouTupe mostrando a cena – e tudo que se ouve é um engraçadinho, que passava pelo local, gritando “olé” .
As emoções catárticas são coisa antiga entre os torcedores, há quem acenda velas, faça macumba ou chore copiosamente em caso de vitória ou derrota. Eu mesma tenho um sobrinho, torcedor do Corinthias, que é um homem feito, mas que chora feito criança durante boa parte dos campeonatos. O motivo da alegria ou da tristeza é sempre o time do coração, ao qual devota atenção equivalente ou até maior do que a dedicada às namoradas. Brinco com ele dizendo que vai morrer corintiano e solteirão.
A mania vem de longe, tive um tio italianíssimo cuja paixão era o Palmeiras. Aos domingos, quando almoçávamos em sua casa, suas tardes era em frente à TV para ver os jogos. Na sala espaçosa – de um assoalho brilhante, graças aos cuidados da tia Maria – ele literalmente driblava e dava passes aos jogadores de seu time. Quanto mais a partida esquentava, mais jogava o meu tio, cujos olhos azuis acendiam feito faróis na hora do gol. São inesquecíveis as cenas em que ele se levantava do sofá e começava a driblar os jogadores invisíveis, tendo aos pés uma bola que só ele enxergava.
Quantos gols ele ajudou a fazer não sei, mas suas jogadas eram de mestre e devem ter ajudado o Palmeiras, se não pela presença em campo, pela enorme fé de empurrar o time apesar da distância considerável entre o Norte do Paraná e os estádios de São Paulo.
Ainda criança, tive também um vizinho que acompanhava os jogos pelo rádio. Nelsinho cujo quintal era separado do nosso por uma cerca de balaústres, narrava o jogo junto e tão alto que Galvão Bueno deve ter se inspirado nele para estrear na gritaria. O time local, de Cornélio Procópio, era o Comercial pelo qual Nelsinho torcia tanto quanto pelo Santos.
Entre corintianos, palmeirenses, santistas e torcedores do Tubarão aprendi o que sei da cultura do futebol, sempre observando mais os comportamentos do que sabendo do esporte que, para mim, ainda tem mistérios como identificar, afinal, quando um jogador comete a falta.
Só sei que acontecem de fato quando são empurrados, pisados ou se contorcem como gatos que comeram pimenta ou engoliram um Sonrizal. Ainda assim fico em dúvida, porque dizem que os gatos são muito mais sinceros que os craques quando rolam pelo chão. (FONTE; Crônica escrita pela jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com página 2, caderno FOLHA 2, coluna CÉLIA MUSSI, 21 e 22 de julho de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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