domingo, 29 de julho de 2018

MEIA VOLTA, VOLTA E MEIA


   Quando me descobri avó, senti vontade de resgatar músicas aprendidas na infância, repassadas para meus alunos e filhas, como um legado de carinho que herdei da mãe, da avó e do tempo. Fomos relembrando as letras, “lembra aquela?”, num exercício gostoso e recordações ainda mais gostosas. Num estalo surgiram “Ciranda,Cirandinha”, “Caranguejo não é peixe”, “Meu galinho”, “Atirei o pau no gato”musiquinhas de sapatinhos, de cachorrinhos, de gatinhos...”O Samba Lêlê”, “O cravo e a rosa”, “A borboleta”.
   Com essas, outras lembranças foram aparecendo: as brincadeiras. Abrindo um arquivo na memória, eis que descubro um baú cheinho de brincadeiras com cores, sons, imagens, ritmo e muita emoção: aqueles momentos únicos que a gente vive e carrega pela vida inteira como um valioso tesouro!
   Diferente dos tempos atuais o cotidiano de nossa infância estava recheado de movimentos, de espontaneidade. Era simples assim: a gente abria a porta para a vida e estava na rua. Com tantas crianças na vizinhança, sempre havia alguém para conversar e brincar. “Quem chegar por último é mulher do sapo...” “Lá em cima do piano tem um copo de veneno...” “Você gosta de amora? Vou contar pro seu pai que você namora!!!””Hoje é domingo, pé de cachimbo...”Ou a gente chegava e batia no ombro do outro para provocar a brincadeira: feda, agacha-agacha, pique, esconde-esconde...”, 1,2,3, quem escondeu, escondeu, quem não escondeu, lá vou eu... Então saíamos correndo, nos escondíamos, éramos pegos, éramos salvos, não tínhamos parada!
   “Vamos brincar de roda? Ah, não, vamos brincar de melancia” – e já ia dando um croc na cabeça para dizer se estava madura. Ou de fita – e ia girando o amigo e gritando “quantos metros” 1,2,3”, e, de tanto girar, ficávamos tontinhos. De uma brincadeira ia logo para outra ”Passa anel” ou “Somos Três Marinheiros da Europa. Que vieram fazer? Trabalhar! Como gente ou como burro? Claro, como gente! Então trabalha pra gente ver”. Começavam as mímicas e a gente ia adivinhando e trocando de lado. 
   Bastava uma parede e uma bola para começar o “Ordem, sem lugar, sem rir, sem falar, um pé, ao outro, uma mão, a outra, bate palmas, pirueta, trás com frente, mão cruz, queda feita... Sem rir agora...”, e a gente começava a rir e tinha que passar a bola. “Vamos brincar de lenção atrás?” E a roda ficava grande, todos sentados, quem recebesse o lenço levantava e saía correndo para pegar quem jogou e, se pegasse, esse ficava chorando no meio da roda tentando roubar do mais distraído. 
   Éramos tão animados que o dia ficava pequeno demais para tantas travessuras. As noites de lua eram muito bem-vindas, pois podíamos brincar na rua até mais tarde. Nos dias de chuva ficávamos olhando pela janela, enfastiados, mas quando a chuva parava, corríamos para brincar nas poças d’água. Tinha ainda o “Feijão Queimado”, “Balança Caixão”, “Céu, Inferno”, contação de histórias e piadas bobinhas, de adivinhações tipo “o que é, o que é?” E quem errasse tinha que pagar castigo que não eram aceitos e sempre acabava em briga.
   Mas as preferidas sempre foram as brincadeiras de roda. Crianças iam chegando de todos os lados e a roda aumentando; até os meninos brincavam... “Ciranda, Cirandinha”, “Você gosta de mim, Maria?” “Terezinha de Jesus”, “Mariquinha na roda”, “Penedo vai, Penedo vem”, tu és das outras e nossa também. Nessa brincadeira íamos formando duas rodas em intersecção, numa coreografia tão perfeita, uma canção bonita, suave, ritmada...
   Fechando os olhos e sintonizando o coração num tempo distante, ainda consigo ouvir aquelas canções, aquelas alegres vozes infantis, o vai e vem das grandes rodas, embalando os sonhos de uma geração privada de quase tudo, mas cheia de ternura, criatividade, tendo à disposição uma grande rua no meio das casas sem muros e, principalmente, aquela imensa alegria de viver... (FONTE: Crônica escrita por ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, leitora da FOLHA, caderno FOLHA RURAL, página 2, coluna DEDO DE PROSA, 28 e 29 de julho de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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