sábado, 23 de junho de 2018

AS DUAS FACES DA FÉ


   Sempre que saio de casa ponho no pescoço meu escapulário. Trata-se de um ato místico, de fé muito particular. Ele tem duas faces, duas medalhas: uma de Nossa Senhora, outra de Jesus Cristo. Troco as posições entre o colo e as costas conforme o dia, de qualquer forma me sinto protegida e isso também é uma questão particular, uma questão de fé sobre quem você escolhe para levar à rotina do dia, à superação das dificuldades e também àa alegrias. 
   Todos os dias têm coisas alegres e tristes, vez ou outra a notícia da doença de alguém nos pega de surpresa, assim como o nascimento de um bebê na família da sua melhor amiga que já é avó. O milagre da vida é de uma renovação constante, pelo sim, pelo não vou por aí levando meu escapulário. Mas desconfio que, na verdade, ele é que me leva. 
   Não me lembro de onde trouxe este que uso agora, tenho mais de um, mania de comprá-los em igrejas quando vou a cidades desconhecidas. Trouxe um de Ouro Preto, um de Recife, outro da Catedral da Sé, outro ainda é da Catedral de Londrina. Durante muitos anos fiquei sem frequentar igrejas, missas nem pensar. Não me faziam falta. Até que um dia, a partir de um momento angustiante e com problemas a resolver, ouvi de minha amiga Yara Ramos, astróloga e esotérica, que devemos às vezes retornar à nossa religião de raiz. No meu caso era o catolicismo, por conta da fé de minha mãe que frequentava missas e novenas, cantando com voz aguda e afinada aquela canção que fala “no céu, no céu, com minha Mãe estarei”. Minha mãe não exagerava, tinha fé na medida de sua necessidade de se aproximar de Deus, mas guardando o espaço entre as coisas do céu e da Terra, sem forçar a porta da eternidade antes da hora. Vem dela meu costume de rezar, já usar escapulário é coisa minha, muito própria. 
   Lí que os escapulários apareceram no século 13, na Ordem das Carmelitas que sequer era reconhecida pela Igreja e que chegou a ser perseguida pelos mouros que a expulsaram do Monte Carmelo, origem de sue nome. Um prior chamado Simão Stock foi quem instituiu o uso dos escapulários, a partir de uma revelação e, segundo ele, depois de um milagre de Nossa Senhora que permitiu que a ordem das carmelitas fosse, enfim, reconhecida pelo Papa. Minha história com o escapulário é mais simples: nunca fui perseguida pelos mouros, nem faço parte de uma ordem religiosa, mas o trago comigo como sinal de proteção, assim como foi para quem passou a usá-lo no século 13. Cada um tem com seu escapulário uma história pessoal, acredito. Sei que muitos são joias finíssimas, mas os meus são comuns, desses feitos com barbante. 
   Sempre os acomoda embaixo da golas, echarpes e sei que eles não “brigam” com colares, às vezes até os completam. São muitos discretos como a minha fé que ressurgiu de forma muito suave, sem excessos, como quem canta com voz afinada uma canção de amor que a gente não precisa esgoelar para ser ouvida. Eu gosto de silêncio para ter fé, não consigo participar de religiões, cultos e missas demasiadamente expressivas, com gritarias, até estranho um pouco as que têm muita música e fotografia dos fiéis. Minha fé só se revela no silêncio de igrejas quase vazias, em momentos de muita concentração como na hora da consagração da hóstia. Minha fé é como meu escapulário, simples, discreto, mas assegurada por um barbante forte, um fio sagrado que me preserva de algumas quedas, embora meus tropeços sem grandes. 
   Bom final de semana a todos, que cada uma via segundo suas crenças e escolhas. Fé também é liberdade.*Texto publicado na edição do dia 3 de julho de 2016 – A jornalista Célia Musilli está de férias. (FONTE: Caderno Folha 2, página 2, coluna CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com , 23 e 24 de junho de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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