Dizem que só a lama cura. Quem nunca passou pela derrocada de um amor? Esperar em carne viva numa esquina quem não vem? Uma situação muito próxima de como os africanos entendem a saudade – a saudade, para eles, é o lugar onde uma criança chora e a mãe não escuta.
O coração clama a presença do amado, mas o Eu não quer mais ouvir o coração. O que fazer para silenciar esse coração? Talvez seja esse um problema comum do amor no mundo atual, aprisionado na visão da ciência e atropelado pela velocidade cotidiana. Coitado do amor, foi colonizado por ditadores. O amor não é literal, o coração é uma metáfora. E a cicatriz é o amanhã.
Um conselho aos psiquiatras: não tenham medo da lama, em nome dos pacientes – como diz Dalai Lama: “ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente”. Mas deixemos a autoajuda para os best-sellers.
Um médico receitou. calmantes para uma amiga que atravessava tal lama, mas ele não percebia que na palavra lama tem ama, alma e mala. Ele via esse sentimento como um ralado de quem caiu da bicicleta, logo, pensou em Merthiolate. Até porque, hoje, Merthiolate não arde mais.
Aí o que aconteceu: o paciente percorreu o lamaçal com roupa de astronauta. Chegando ao outro lado do pântano, percebeu que a desilusão amorosa não foi sentida, como se tivessem roubado ela essa experiência. Como quem sai da anestesia pós-cirurgia sem saber o que foi feito nesse meio tempo. Ela continuava em standy. Pensou então que a cicatrização de uma ferida como essa precisava de sofrimento.
Outro caso. Após a dolorosa separação, o desiludido resolveu se engatar num novo romance. Aí apareceu o diabo da impotência. Resolveu tomar Viagra. Não deu certo. Eram brochadas extremamente sinceras.
O senso comum alega que os subterfúgios para evitar a lama é tapar o sol com a peneira. Parece que o que faz sarar não é o Band-Aid no coração. ( FÁBIO BRINHOLLI, mestre de Psocologia e professor de Psicologia na Unopar, espaço ponto de vista, página 2, sexta-feira, 23 de outubro de 2015. Publicação do JORNAL DE LONDRINA).
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