Depois de Londrina, o lugar onde a gente
encontra mais londrinenses é nas praias
de Itapoá. Então estou lá, cumprimentando
os conhecidos que passam, quando passam três meninas. A do meio vai levando na mão
uma travessa coberta de filó, ladeada
por uma que vai com um caderninho na mão e outra com bolsinha a tiracolo.
A
pessoa vem vindo pela praia, a primeira sorri levantando o filó da
travessa para mostrar brigadeiros enfileirados, e as outras falam:
- Quer comprar brigadeiro caseiro?
- É muito gostoso
A maioria das pessoas diz que não leva
dinheiro para a praia, mas elas vendem alguns. Chamo com a mão, elas vem
rapidinho, as três sorrindo esperançosas. Digo que melhor será venderem na rua marginal da praia, onde passa
gente com roupa e, portanto, com bolsos e dinheiro. Elas confabulam e vão para
a rua, ligeiras que só vendo. Também vou para lá, sento numa mureta e fico
observando.
Uma sorri oferecendo os brigadeiros,
as outras falam e, se a pessoa compra, uma abre a bolsinha e dá o troco, outra
anota a venda no caderninho.
Em meia hora vendem toda a travessa
com mais de dúzia de brigadeiros, aí correm para uma antiga casa de madeira,
logo saem com a travessa cheia de novo. Chamo com a mão, elas vem rapidinho,
sorrindo orgulhosas. Digo que venda é arte de transformar defeitos em
qualidades:
- Muita gente pode não comprar por serem brigadeiros caseiros. Então vocês
podem dizer que são caseiros mas feitos por doceira profissional.
Elas se olham, as cabeças balançando a
concordar.
-Muita gente tem receio de comer doces e engordar, então também podem dizer que
são feitos com pouco açúcar.
Elas voltam a vender e, em quinze
minutos, vendem a segunda travessa. Voltam para a casa e retornam com a
travessa novamente cheia. Quando passam por mim, sigo que quero comprar três
brigadeiros. Meia dúzia de olhos me olham faiscando de alegria.
Dou uma nota de cinco, recebo uma nota de dois, mas não pego os brigadeiros.
Conto que vou voltar para casa pela
praia, só de maiô, sem bolso onde levar os brigadeiros.
- Então vou deixar para cada uma de vocês dar um a uma pessoa de quem gostem,
ou para vocês mesmas comerem, ou para fazer o que bem entenderem.
Quando me afasto, falam alto:
- Eu vou dar para a minha professora!
- Eu vou dar para um pobre!
A terceira fala baixo mas ainda ouço:
- Eu vou vender de novo!
Chego em casa. Dalva pergunta porque
estou sorrindo, digo que é porque acabo de conhecer uma estudante do tipo
antigo, que leva presente para a professora, uma idealista, que dá doce para pobre,
e uma empreendedora. ( CRÔNICA do escritor londrinense Domingos Pellegrini,
página 21, espaço
DOMINGOS PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.obr facebbok.com/escritordomingospellegrini - cultura, domingo, 18 de outubro de 2015,
publicação do JORNAL DE LONDRINA
Nenhum comentário:
Postar um comentário