No último fim de semana
tivemos as provas do Enem, assunto de que tratamos na coluna da semana passada.
É normal que um exame desse tamanho,
envolvendo alunos do Brasil inteiro, cause alguma polêmica, mas houve um questão
em especial que despertou discussões acaloradas nas redes sociais, ao citar um
texto da escritora Simone de Beauvoir em que ela afirma que “ninguém nasce
mulher: torna-se mulher”.
Essa citação foi suficiente para incitar críticas por parte de alguns e aplausos por parte de outros, independente do que era cobrado na questão. O grande problema é que boa parte dos que criticaram (e dos que aplaudiram também) não levaram em consideração o contexto de tal afirmação, o que pode fazer toda a diferença.
Independentemente do que era perguntando na questão do Enem, o maior erro de muitas pessoas que comentaram a afirmação da escritora francesa foi não levar em consideração a história de vida dela ( uma feminista veemente) nem mesmo o momento histórico em que ela escreveu isso (um período em que as mulheres lutavam por seus direitos). A mesma frase, dita por outra pessoa em outro momento, poderia adquirir um sentido totalmente diferente.
O fato é que, seja no Enem, no vestibular ou em qualquer momento da vida, o contexto em que algo é dito (ou escrito) faz toda a diferença. Até uma citação da Bíblia, fora do contexto, pode soar como uma coisa totalmente distinta (“atire a primeira pedra” poderia ser uma incitação à violência, não acha?).
Por isso, ao fazer a interpretação de um texto, sempre leve em consideração o meio em que ele foi produzido. Parece só um “detalhe”, mas vai muito além. Há muita coisa a ser considerada quando se lê (ou se ouve) algo.
Primeiramente, há o contexto histórico: o que se fala ou se escreve em um momento pode parecer absurdo em outro. A escravidão, por exemplo, já foi “legalizada”, constando das leis de diversos países (inclusive o Brasil). Sendo assim, um trecho da constituição de um desses países, naquele momento da história, vai parecer absurdo para nós, que vivemos no século 21. O mesmo vale para alguns trechos do velho testamento, que falam de escravos como algo natural.
Há ainda que se considerar o contexto geográfico, pois a realidade de diferentes lugares pode influenciar (e muito) o que se escreve por lá. Um autor africano ou asiático vai tratar de certas realidades que para nós podem parecer ficção, do mesmo modo que um nordestino pode “ver” muitas coisas de um modo diferente do nosso.
Muitas outras variantes podem ser levadas em conta, como o contexto social (um texto escrito por um morador de favela pode soar estranho a pessoas de classe alta e vice-versa) ou até mesmo elementos individuais, como levar em consideração o texto de uma criança ou de um idoso, por exemplo).
O fato é que nunca se deve avaliar um texto baseando-se apenas nas palavras. Há muito mais para ser analisado. Isso vale para as avaliações escolares (incluindo o Enem e os vestibulares), mas também vale para a vida. Afinal de contas, até um palavrão, naturalmente ofensivo, pode ser algo natural e aceitável, dependendo do contexto.
Vale dizer que isso tudo vale para textos verbais e não verbais, ou seja, nunca considere um imagem isolada de seu contexto, sob pena de acabar fazendo uma interpretação “deficiente”. Apenas ao considerar tudo o que há (e pode haver) na origem desse texto, é que você poderá, enfim, formar uma opinião coerente (a favor ou contra).
Se tiver algum comentário sobre o assunto (ou dúvidas), mande para nosso e-mail (bemdito14@gmailcom). Até a próxima terça! ( FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS e ESPANHOL, página 5, Folha 2, espaço BEM DITO, terça-feira. 27 de outubro de 2015.publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
Essa citação foi suficiente para incitar críticas por parte de alguns e aplausos por parte de outros, independente do que era cobrado na questão. O grande problema é que boa parte dos que criticaram (e dos que aplaudiram também) não levaram em consideração o contexto de tal afirmação, o que pode fazer toda a diferença.
Independentemente do que era perguntando na questão do Enem, o maior erro de muitas pessoas que comentaram a afirmação da escritora francesa foi não levar em consideração a história de vida dela ( uma feminista veemente) nem mesmo o momento histórico em que ela escreveu isso (um período em que as mulheres lutavam por seus direitos). A mesma frase, dita por outra pessoa em outro momento, poderia adquirir um sentido totalmente diferente.
O fato é que, seja no Enem, no vestibular ou em qualquer momento da vida, o contexto em que algo é dito (ou escrito) faz toda a diferença. Até uma citação da Bíblia, fora do contexto, pode soar como uma coisa totalmente distinta (“atire a primeira pedra” poderia ser uma incitação à violência, não acha?).
Por isso, ao fazer a interpretação de um texto, sempre leve em consideração o meio em que ele foi produzido. Parece só um “detalhe”, mas vai muito além. Há muita coisa a ser considerada quando se lê (ou se ouve) algo.
Primeiramente, há o contexto histórico: o que se fala ou se escreve em um momento pode parecer absurdo em outro. A escravidão, por exemplo, já foi “legalizada”, constando das leis de diversos países (inclusive o Brasil). Sendo assim, um trecho da constituição de um desses países, naquele momento da história, vai parecer absurdo para nós, que vivemos no século 21. O mesmo vale para alguns trechos do velho testamento, que falam de escravos como algo natural.
Há ainda que se considerar o contexto geográfico, pois a realidade de diferentes lugares pode influenciar (e muito) o que se escreve por lá. Um autor africano ou asiático vai tratar de certas realidades que para nós podem parecer ficção, do mesmo modo que um nordestino pode “ver” muitas coisas de um modo diferente do nosso.
Muitas outras variantes podem ser levadas em conta, como o contexto social (um texto escrito por um morador de favela pode soar estranho a pessoas de classe alta e vice-versa) ou até mesmo elementos individuais, como levar em consideração o texto de uma criança ou de um idoso, por exemplo).
O fato é que nunca se deve avaliar um texto baseando-se apenas nas palavras. Há muito mais para ser analisado. Isso vale para as avaliações escolares (incluindo o Enem e os vestibulares), mas também vale para a vida. Afinal de contas, até um palavrão, naturalmente ofensivo, pode ser algo natural e aceitável, dependendo do contexto.
Vale dizer que isso tudo vale para textos verbais e não verbais, ou seja, nunca considere um imagem isolada de seu contexto, sob pena de acabar fazendo uma interpretação “deficiente”. Apenas ao considerar tudo o que há (e pode haver) na origem desse texto, é que você poderá, enfim, formar uma opinião coerente (a favor ou contra).
Se tiver algum comentário sobre o assunto (ou dúvidas), mande para nosso e-mail (bemdito14@gmailcom). Até a próxima terça! ( FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS e ESPANHOL, página 5, Folha 2, espaço BEM DITO, terça-feira. 27 de outubro de 2015.publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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