O relógio batia seis horas da
tarde e as meninas já estavam impacientes. De repente, o barulho da chave na
porta e o buona notte do pai, que ia direto para o banho, vestia a roupa de fim
de semana, colocava o boné na cabeça e carregava as malas para o carro,
enquanto a mãe terminava de embalar os lanches e guardava na sacola o cantil
azul com água gelada.
Devidamente acomodados, partiam rumo ao interior, para um feriado em família. Não sem antes enfrentar pelo menos uma hora de congestionamento da casa deles até o início da rodovia. Iam ouvindo as notícias do trânsito na tradicional rádio enquanto isso.
Na estrada, a trilha sonora era previamente escolhida pelo pai e administrada pela mãe, responsável por virar a fita cassete assim que terminava um dos lados. Clássicos italianos, rock dos anos 1960 e músicas infantis animavam a viagem. Seriam longos 500 quilômetros até a lombada que indicava que o sítio do nonno estava perto.
No caminho, conforme se afastavam da cidade, as estrelas começavam a aparecer no céu. E quanto mais perto da cidadezinha, mais estrelas abrilhantavam a noite. A paisagem trocava os prédios e fábricas por pasto e de repente, um cheiro ruim invadia o carro: era a cana que estava se transformando em álcool na usina. Mais um sinal de que estavam quase chegando ao destino.
Já no primeiro trevo de acesso à cidadezinha, se deparavam com o milho alto, pronto para ser colhido. Certamente os tios e primos iriam trabalhar no feriado e enquanto o pai fingia entender de lavoura, a mãe e as filhas passeavam pela cidade sem semáforos.
Não foram poucas as vezes que visitaram os tio no campo enquanto colhiam os grãos. Até no caminhão cheio de soja elas entraram, na companhia da prima do interior, com quem exploravam a cidade de bicicleta. Também comiam manga do pé, sujavam os chinelos de terra vermelha e esfregavam a sola dos pés durante o banho para tirar o cascão. Desciam até o riozinho para ver a roda d’água e os peixinhos minúsculos que nadavam naquele fio de água. Encantavam-se com a colhedeira barulhenta e subiam na caçamba da caminhonete a caminho de casa, encarando o poeirão da estrada de terra e o frio na barriga toda vez que o primo passava mais rápido por uma lombada, no fim de mais um dia de férias.
De manhã, o barulho da tia preparando a mesa do café só não superava o cantarolar dos passarinhos. “Bem-te-vi, gritavam eles, despertando a meninada do sono justo.
Os dias passavam com calma, dava tempo de comer o pão fresquinho com creme de amendoim e chocolate no café, brincar de tanta coisa, almoçar o macarrão gostoso da tia, enxugar a louça, descansar na frente da tevê, comer bolo no café da tarde na casa da outra tia e ainda brincar de outras tantas coisas antes de guardar a bicicleta, banhar, jantar a sopinha e dormir de novo.
Mas o feriado era curto: quando viam o pai arranjar as malas no carro, a mãe colocar o galão azul de água gelado debaixo do banco e a prima chorar tristonha num canto, já se sabia que era hora de ir embora.
E no caminho de volta, as estrelas iam dando lugar às nuvens e a lavoura dava lugar ao pasto, que dava lugar aos prédios e lá estavam eles de volta à rotina no apartamento. A escapada ficava guardada na lembrança por uns bons dias e a saudade da família crescia para ser saciada só na próxima folga. ( MARIANA GUERIN, jornalista na FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, sábado, 17 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).
Devidamente acomodados, partiam rumo ao interior, para um feriado em família. Não sem antes enfrentar pelo menos uma hora de congestionamento da casa deles até o início da rodovia. Iam ouvindo as notícias do trânsito na tradicional rádio enquanto isso.
Na estrada, a trilha sonora era previamente escolhida pelo pai e administrada pela mãe, responsável por virar a fita cassete assim que terminava um dos lados. Clássicos italianos, rock dos anos 1960 e músicas infantis animavam a viagem. Seriam longos 500 quilômetros até a lombada que indicava que o sítio do nonno estava perto.
No caminho, conforme se afastavam da cidade, as estrelas começavam a aparecer no céu. E quanto mais perto da cidadezinha, mais estrelas abrilhantavam a noite. A paisagem trocava os prédios e fábricas por pasto e de repente, um cheiro ruim invadia o carro: era a cana que estava se transformando em álcool na usina. Mais um sinal de que estavam quase chegando ao destino.
Já no primeiro trevo de acesso à cidadezinha, se deparavam com o milho alto, pronto para ser colhido. Certamente os tios e primos iriam trabalhar no feriado e enquanto o pai fingia entender de lavoura, a mãe e as filhas passeavam pela cidade sem semáforos.
Não foram poucas as vezes que visitaram os tio no campo enquanto colhiam os grãos. Até no caminhão cheio de soja elas entraram, na companhia da prima do interior, com quem exploravam a cidade de bicicleta. Também comiam manga do pé, sujavam os chinelos de terra vermelha e esfregavam a sola dos pés durante o banho para tirar o cascão. Desciam até o riozinho para ver a roda d’água e os peixinhos minúsculos que nadavam naquele fio de água. Encantavam-se com a colhedeira barulhenta e subiam na caçamba da caminhonete a caminho de casa, encarando o poeirão da estrada de terra e o frio na barriga toda vez que o primo passava mais rápido por uma lombada, no fim de mais um dia de férias.
De manhã, o barulho da tia preparando a mesa do café só não superava o cantarolar dos passarinhos. “Bem-te-vi, gritavam eles, despertando a meninada do sono justo.
Os dias passavam com calma, dava tempo de comer o pão fresquinho com creme de amendoim e chocolate no café, brincar de tanta coisa, almoçar o macarrão gostoso da tia, enxugar a louça, descansar na frente da tevê, comer bolo no café da tarde na casa da outra tia e ainda brincar de outras tantas coisas antes de guardar a bicicleta, banhar, jantar a sopinha e dormir de novo.
Mas o feriado era curto: quando viam o pai arranjar as malas no carro, a mãe colocar o galão azul de água gelado debaixo do banco e a prima chorar tristonha num canto, já se sabia que era hora de ir embora.
E no caminho de volta, as estrelas iam dando lugar às nuvens e a lavoura dava lugar ao pasto, que dava lugar aos prédios e lá estavam eles de volta à rotina no apartamento. A escapada ficava guardada na lembrança por uns bons dias e a saudade da família crescia para ser saciada só na próxima folga. ( MARIANA GUERIN, jornalista na FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, sábado, 17 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).
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