Na década de 1950 morava em
uma cidade pequena, que prosperava com a chegada de mais habitantes. A maioria
vivia da agricultura em Adamantina (SP). O povo era muito simples, porém tinha
fazendas e sítios. E cada família tinha seu bangalô com alpendre enfeitado de
azulejos. Meu pai era uma pessoa aventureira e por intermédio de um amigo
fazendeiro, o senhor Carlito Vilela, saiu de Marília, uma excelente cidade,
para ficar rico em Adamantina e com certeza melhorar de vida.
A cidade não tinha ainda clube de carteado, time de futebol e jogo do bicho; em Marília, já havia muitos. No início estranhei a cidade, era quase sem ruas, a não ser a avenida, com muitas lojas, a maior parte de japoneses e árabes, e os bangalôs dos ricaços. Um detalhe que achava engraçado era o salão de beleza e a barbearia funcionarem no mesmo local: os donos eram mineiros e tinham uma clientela fantástica.
Estranhei, mas pouco a pouco acostumei, principalmente na época escolar. Nossa escola era só para meninas e ainda era particular. Para ir ao colégio, as crianças tinham que passar por um córrego. Quantas vezes tirávamos a meia e sapato e ficávamos brincando na água limpinha.
Uma lembrança alegre e feliz foi brincar com o Chico, o macaquinho de dona Sebastiana, que morava em frente ao hotel. Às tardes, a meninada colocava boné e laços de fitas. As pessoas com quem mais tinha amizade, fora as colegas de classe, era o povo do hotel, da cozinheira aos hóspedes. Aprendi cedo a gostar de futebol, ia aos jogos com meu pai ver o Adamantino Clube.
Uma das funcionárias havia deixado o emprego no hotel e às vezes eu escutava falar sobre o local onde ela tinha ido morar. Era um nome esquisito: zona do meretrício. Certo dia, em um domingo, eu vi minha amiga do hotel bem arrumada, chique e maquiada, com outras mulheres do outro lado do campo de futebol . Escapei de meu pai. Corri e subi no colo dela e dei um abraço. Ela me beijou e pediu para que eu não fizesse mais aquilo. Ela sentia muito, mas não podia voltar a falar comigo. Minha mãe, meu pai e até os donos do hotel falaram a mesma coisa. Passados uns três anos, já adolescente, entendi o que era a tal zona do meretrício e o porquê da distância. Aprendi na própria carne, muito cedo, o que é o preconceito. Hoje, com 74 anos, aquela lembrança, graças a Deus, me livrou e libertou de crescer preconceituosa e não escolher ou selecionar amigos por status. Porque quando criamos laços, não vemos cor da pele, profissão ou religião. ( MARIA APRECIDA MARIANO, leitora da FOLHA. Página 2,FOLHA RURAL, espaço DEDO DE PROSA, sábado, 24 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
A cidade não tinha ainda clube de carteado, time de futebol e jogo do bicho; em Marília, já havia muitos. No início estranhei a cidade, era quase sem ruas, a não ser a avenida, com muitas lojas, a maior parte de japoneses e árabes, e os bangalôs dos ricaços. Um detalhe que achava engraçado era o salão de beleza e a barbearia funcionarem no mesmo local: os donos eram mineiros e tinham uma clientela fantástica.
Estranhei, mas pouco a pouco acostumei, principalmente na época escolar. Nossa escola era só para meninas e ainda era particular. Para ir ao colégio, as crianças tinham que passar por um córrego. Quantas vezes tirávamos a meia e sapato e ficávamos brincando na água limpinha.
Uma lembrança alegre e feliz foi brincar com o Chico, o macaquinho de dona Sebastiana, que morava em frente ao hotel. Às tardes, a meninada colocava boné e laços de fitas. As pessoas com quem mais tinha amizade, fora as colegas de classe, era o povo do hotel, da cozinheira aos hóspedes. Aprendi cedo a gostar de futebol, ia aos jogos com meu pai ver o Adamantino Clube.
Uma das funcionárias havia deixado o emprego no hotel e às vezes eu escutava falar sobre o local onde ela tinha ido morar. Era um nome esquisito: zona do meretrício. Certo dia, em um domingo, eu vi minha amiga do hotel bem arrumada, chique e maquiada, com outras mulheres do outro lado do campo de futebol . Escapei de meu pai. Corri e subi no colo dela e dei um abraço. Ela me beijou e pediu para que eu não fizesse mais aquilo. Ela sentia muito, mas não podia voltar a falar comigo. Minha mãe, meu pai e até os donos do hotel falaram a mesma coisa. Passados uns três anos, já adolescente, entendi o que era a tal zona do meretrício e o porquê da distância. Aprendi na própria carne, muito cedo, o que é o preconceito. Hoje, com 74 anos, aquela lembrança, graças a Deus, me livrou e libertou de crescer preconceituosa e não escolher ou selecionar amigos por status. Porque quando criamos laços, não vemos cor da pele, profissão ou religião. ( MARIA APRECIDA MARIANO, leitora da FOLHA. Página 2,FOLHA RURAL, espaço DEDO DE PROSA, sábado, 24 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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