Eu acredito em amor à primeira
vista. Quando eu vi um pé de amora pela primeira vez, bateu aquela sintonia. Na
inocência infantil, achava que a fruta era uma espécie de bebê uva, mas me disseram
que nunca cresceria, então me
certifiquei de que eram anãs. Para quem já gostava de uvas, o encantamento do
primeiro encontro ficou mais fácil assim.
Alguém avisou que aquilo soltava tinta ,o que era ainda mais impressionante, um lápis de cor que pintava as mãos e roupa. Deixei os chinelos na sombra de sua copa e subi o tronco com facilidade. Fiquei lá, na praça da rua da minha avó, em Americana, no interior de São Paulo, batendo papo com as primas enquanto colhia as amoras mais roxas e pintando. Tudo.
As amoras era uma espécie de união de todos os produtos de beleza que não podia usar: batom, sombra, blush, tinta de cabelo, esmalte... Quando voltamos para a casa da avó, com as mãos cheias de frutas e de cor, fomos repreendidas, proibidas de subir no pé de amora.
Mas no dia seguinte nós já estávamos lá de novo. O combinado era não deixar vestígios. Todo cuidado era pouco, então montamos um protocolo: só era permitido pegar a fruta pelo cabo e jogá-la direto na boca, sem tocar nos lábios, erros não eram permitidos. Arquitetamos levar luvas cirúrgicas nas próximas vezes, mas onde conseguiríamos? Fizemos o máximo que podíamos, mas os dedinhos roxos não nos deixavam mentir. Por algum momento me senti traída, a fruta da qual eu tanto gostava sempre me denunciou.
Quando voltamos a Londrina, me despedi dos tios, primos, vó, mas não me despedi da amoreira, Que triste vê-la ficando pequena no vidro do carro. Já na cidade natal, busquei nas pracinhas algum sinal roxo. Teve uma árvore que me deixou encucada, a examinei atentamente até me certificar de que aquilo era mesmo um pé de amora. Minha mãe disse que não era época, “ ora, e por acaso amora tem disso?”. Acreditei que meu amor não era correspondido até voltar para Americana e ver que todo Natal ela estava lá me esperando.
Quando cresci, entendi que era uma espécie de amor de verão e como todo amor de verão, um dia vai se perdendo. Nem sempre eu conseguia viajar no Natal. Não superei, a minha fruta preferida é um pouco difícil, seu pé parecia existir só na praça da casa da minha avó. Foram aos de separação e coração partido para eu entender que era hora de tocar em frente.
Para a cura consegui o meu próprio pé de amora. Estou confiante, mas as frutas ainda estão bastante tímidas; enquanto não surgem, me perco nas lembranças das amoras vividas com o olhar confiante para o futuro: que venham os próximos amores! ( LAIS TAINE, jornalista em Londrina, página 2, FOLHA RUAL, espaço DEDO DE PROSA, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 12 de setembro de 2015).
Alguém avisou que aquilo soltava tinta ,o que era ainda mais impressionante, um lápis de cor que pintava as mãos e roupa. Deixei os chinelos na sombra de sua copa e subi o tronco com facilidade. Fiquei lá, na praça da rua da minha avó, em Americana, no interior de São Paulo, batendo papo com as primas enquanto colhia as amoras mais roxas e pintando. Tudo.
As amoras era uma espécie de união de todos os produtos de beleza que não podia usar: batom, sombra, blush, tinta de cabelo, esmalte... Quando voltamos para a casa da avó, com as mãos cheias de frutas e de cor, fomos repreendidas, proibidas de subir no pé de amora.
Mas no dia seguinte nós já estávamos lá de novo. O combinado era não deixar vestígios. Todo cuidado era pouco, então montamos um protocolo: só era permitido pegar a fruta pelo cabo e jogá-la direto na boca, sem tocar nos lábios, erros não eram permitidos. Arquitetamos levar luvas cirúrgicas nas próximas vezes, mas onde conseguiríamos? Fizemos o máximo que podíamos, mas os dedinhos roxos não nos deixavam mentir. Por algum momento me senti traída, a fruta da qual eu tanto gostava sempre me denunciou.
Quando voltamos a Londrina, me despedi dos tios, primos, vó, mas não me despedi da amoreira, Que triste vê-la ficando pequena no vidro do carro. Já na cidade natal, busquei nas pracinhas algum sinal roxo. Teve uma árvore que me deixou encucada, a examinei atentamente até me certificar de que aquilo era mesmo um pé de amora. Minha mãe disse que não era época, “ ora, e por acaso amora tem disso?”. Acreditei que meu amor não era correspondido até voltar para Americana e ver que todo Natal ela estava lá me esperando.
Quando cresci, entendi que era uma espécie de amor de verão e como todo amor de verão, um dia vai se perdendo. Nem sempre eu conseguia viajar no Natal. Não superei, a minha fruta preferida é um pouco difícil, seu pé parecia existir só na praça da casa da minha avó. Foram aos de separação e coração partido para eu entender que era hora de tocar em frente.
Para a cura consegui o meu próprio pé de amora. Estou confiante, mas as frutas ainda estão bastante tímidas; enquanto não surgem, me perco nas lembranças das amoras vividas com o olhar confiante para o futuro: que venham os próximos amores! ( LAIS TAINE, jornalista em Londrina, página 2, FOLHA RUAL, espaço DEDO DE PROSA, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 12 de setembro de 2015).
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