O presidente Michel Temer anunciou a construção de mais presídios federais de segurança máxima. Isso vem depois de 90 presidiários mortos no Amazonas e em Roraima em duas rebeliões das mais sangrentas, às quais não faltaram requintes de crueldade – como presos decapitados e com o coração arrancado. O anúncio da construção de mais presídios, nos quais serão investidos milhões, chega juntamente com as desculpas indiretas quando o presidente afirma “esperar que daqui a vinte anos quem esteja nesta tribuna possa dizer que está construindo só escolas” em vez de prisões. No Brasil é preciso primeiro ocorrer a carnificina para depois as autoridades suspeitarem de que havia uma bomba-relógio armada com potencial de ataque terrorista. E isso vem de longa data, como consequência da superlotação dos presídios que não extrapolaram o número desde que Temer assumiu a Presidência, mas transbordaram há décadas porque uma lotação de 10 mil presos, onde cabem 3 mil, não acontece da noite para o dia.
Para piorar, as facções criminosas hoje se assemelham à formação de um Estado Islâmico com leis muito próprias, mas o nível de analgesia em relação à escalada da violência faz com que outras ações criminosas não passem de números porque as estatísticas dos assassinatos nas periferias das grandes cidades, por exemplo, não são levadas muito em conta enquanto não atingem algum reduto urbano onde a “visibilidade” do crime é medida pela classe dos cidadãos envolvidos. Quem pensa que a tragédia está sempre distante se engana. Reportagem nesta FOLHA, no último domingo, mostrou a vulnerabilidade do Paraná onde os organismos policias enfrentam facções criminosas em três regiões, incluindo Londrina.
Na falta de saída para a violência latente, a construção de presídios soa como uma necessidade, mas não se trata de demanda nova. Há quase 40 anos o antropólogo Darcy Ribeiro já vaticinava: “Se os governos não construírem escolas, em 20 anos vai faltar dinheiro para construir presídios.”
Na verdade, os governos que antecederam Temer já sabiam disso, de FHC a Dilma todos sabiam, mas as promessas de educação num país que seria a “Pátria Educadora” nunca saiu do papel e os soldados do “EI” nacional continuam sem escola, perambulando pelas ruas, para serem cooptados por um sistema criminoso que ostenta suas ações violentas como troféus. O mais lamentável é que sem escolas a juventude pobre continuará por mais vinte anos a ser vítima de um pensamento que Darcy Ribeiro também deixou como alerta: “A crise da educação no Brasil não é crise: é um projeto”. Quem suas palavras não se percam, nem sejam ocultadas pela construção de presídios de segurança máxima. Isso pode ser uma necessidade, mas nunca será uma solução. (OPINIÃO, página 2, terça-feira. 10 de janeiro de 2017. Publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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