Paraná recebe primeiro trator do mundo movido a biometano
Santa Helena – No Paraná que lidera a produção avícola e está na segunda colocação de suínos, um olhar mais minucioso aponta para um potencial de 8,7 bilhões de metros cúbicos de biogás por ano, boa parte oriunda dos dejetos desses animais. Só o esterco de aves, porcos e bois tem capacidade de responder por 20% do volume de gás no Estado, uma alternativa importante que transforma passivos ambientais em ativos energéticos.
Apesar do cenário promissor do biogás – que gera energia térmica, elétrica e veicular (biometano) -, a utilização paranaense ainda não chega a 5%, sendo localizada principalmente na região Oeste, entre algumas propriedades e cooperativas com biodigestores. Atentas a esse futuro, empresas ligadas à tecnologias de maquinário agrícolas começam a trabalhar com equipamentos focados nesta energia limpa.
Saindo na frente dos concorrentes, a New Holland é a primeira empresa mundial a apresentar protótipos de tratores movidos a biometano. O projeto iniciado em 2013 na Inglaterra dá um passo importante e o Paraná faz parte desta história. Pela primeira vez, uma propriedade na América do Sul, mais precisamente em Santa Helena – próxima a Foz do Iguaçu – recebe um trator movido por este combustível. São apenas quatro unidades no mundo realizando testes há cerca de dois anos, e hoje estão localizados no Paraná, Canadá, Austrália e rodando pela Europa, Aliás, uma segunda geração desses protótipos já está no velho continente com um motor bem mais potente e existe uma expectativa de que chegue ao mercado entre 2019 e 2020.
INVESTIMENTO
O modelo T6, de 140 cavalos de potência, chegou à propriedade da família Haacke em dezembro e, após a Show Rural Coopavel, feira que ocorre de 6 a 10 de fevereiro em Cascavel, deve seguir para Castro. De acordo com o gerente de marketing da empresa. Nilson Righi, até agora já foram investidos US$ 15 milhões no desenvolvimento do trator. ”Anteriormente, já tínhamos realizado todo um trabalho por um tratar movido a hidrogênio, mas como as baterias de lítio não baratearam ao longo dos anos, o projeto acabou engavetado. Agora, nossa expectativa finalmente é chegar a um produto comercial”.
Esperança de implementação para garantir o desenvolvimento da tecnologia no País. Os tratores New Holland já são produzidos em Curitiba, sendo que a planta fabril tem capacidade de produzir de 170 tratores e 40 colheitadeiras por dia, mas hoje, claro, não está neste patamar devido ao cenário econômico. “Para nacionalizarmos a tecnologia e ter volume, estamos muito confiantes que a matriz energética (do biogás)se desenvolva nos próximos anos”.
Nos testes realizados na Itália, a economia de combustível chegou a 40% comparado ao trator a diesel. O protótipo alocado em terras paranaenses tem capacidade de armazenar 300 litros de metano comprimido distribuídos por nove cilindros e autonomia de 5 horas de trabalho, considerada pequena para uma lida intensa no campo “O nosso desafio ainda é a capacidade de autonomia versus o tamanho do implemento, quando se acopla uma plantadeira pesada como é geralmente o trabalho no Brasil. Aqui na propriedades dos Haacke, o trabalho com trator foi leve”, finaliza Righi. (O jornalista viajou a convite da New Holland).
ECONOMIA DE R$ 90 MIL EM QUATRO ANOS
A Itaipu Binacional possui 249 veículos, sendo que 59 são abastecidos por biometano e até o final desse semestre mais 14 unidades devem ser incorporados nesta frota. Além disso, mais 55 carros são movidos por energia elétrica. Boa parte deles é abastecida através do gás gerado na propriedade da família Haacke, em Santa Helena, desde o ano passado. O biometano é produzido na área e levado até Itaipu em cilindros. Não por acaso, foi lá que a New Holland resolveu levar pela primeira vez sua tecnologia do trator movido pelo combustível limpo.
A granja Haacke trabalha com 220 mil aves de postura, sendo que os dejetos de 80 mil desses animais abastecem o biodigestor para a produção de energia elétrica e biometano. Além disso, são mais 550 cabeças de gado abatidas por ano e 10 alqueires de lavoura para alimentar os bovinos.
O trabalho com biodigestor começou em 2011, quando foi implementado um aviário automático e a família sentiu dificuldade para o tratamento dos dejetos de acordo com as normas ambientais. André Haacke explica que o biodigestor acabou sendo a solução para o problema. “Além disso, a energia que a Copel nos oferece aqui não é das melhores. Agora também fornecemos energia para eles através do Sistema de Compensação de Energia Elétrica, em que colocamos o excedente de energia produzida na rede e trocamos por crédito”.
O investimento em toda a estrutura para a viabilidade desse trabalho foi de R$ 700 mil e a economia de energia nos últimos quatro gira em torno de R$ 90 mil. O custo de produção de 1 kWh é de R$0,11 a R$0,15, enquanto hoje a Copel comercializa a R$ 0,34. “A produção de biogás em nossa propriedade fica em torno de 1.500 metros cúbicos por dia. O nosso desafio inicial era a dificuldade de aumentar a produção devido aos dejetos, mas agora estamos entendendo melhor este outro lado do trabalho”. Além do tratar para testes básicos na propriedade, a família abastece seu veículo particular com biometano produzido na propriedade. (V.L).
MATRIZ ENERGÉTICA PODE TRANSFORMAR ECONOMIA DA REGIÃO
Apesar do cenário promissor do biogás, a utilização paranaense ainda não chega a 5% |
O Centro Internacional de Energias Renováveis- Biogás (CIBiogás) é uma instituição científica, tecnológica e de inovação constituída como associação sem fins lucrativos criada a partir de um projeto da Itaipu Binacional. Aliás, o Centro fica instalado dentro do Parque Tecnológico da hidrelétrica, em Foz do Iguaçu.
O diretor presidente do CIBiogás, Rodrigo Régis de Almeida Galvão, explica que para bater as metas estipuladas na 21ª Conferência das Partes (COP-21), realizada na França em 2015, é necessário um incremento do biogás. “Com o aumento de produção no agronegócio, é preciso tratar dos dejetos. A capacidade produtiva de biogás no Paraná seria capaz de abastecer 4,8 mil casas durante um ano. É um matriz energética que pode transformar a economia energética de toda a região”, explica Galvão, referindo-se, primeiramente ao Oeste do Estado.
O representante do Centro aproveita para falar dos desafios para o desenvolvimento do setor. O primeiro deles, segundo Rodrigo, está nos entraves tributários, ainda muito parecidos com o gás fóssil. Segundo ele, o Paraná tem um projeto para tirar o ICMS da geração distribuída, o que pode fomentar os trabalhos no futuro. “Ainda há uma falta de estrutura da Copel para que tudo seja implementada com mais velocidade. É preciso criar incentivos, vencer desafios tecnológicos e colocar de pé modelos de negócios viáveis para produtores”, complementa. (V.L). (FONTE: VICTOR LOPES – REPORTAGEM LOCAL, página 4, caderno FOLHA ECONOMIA & NEGÓCIOS, Agronegócios, Energia Limpa, terça-feira.24 de janeiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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