Aplicativos já oferecem terapia virtual; Conselho Regional de Psicologia estabelece regras para esse tipo de serviço
Fazer terapia por um aplicativo e atacar problemas da mente humana por meio de uma plataforma online é algo possível hoje. E trata-se de uma possibilidade que ter se tornado cada vez mais atrativa, uma vez que o contato virtual já faz parte da rotina pessoal e profissional de muitas pessoas. Exemplo é o FalaFreud, um aplicativo criado no Vale do Silício pelo brasileiro Yonathan Yuri Faber que conecta terapeutas a usuários, tal qual os conhecidos aplicativos de transporte.
O FalaFreud foi lançado em outubro e, apesar de não divulgar o número de usuários, diz que tem a pretensão de chegar aos 150 mil clientes no período de um ano. Segundo o fundador, 50 profissionais estão cadastrados na plataforma, mas mais de 7 mil se cadastraram interessados em atender pelo aplicativo. “Antes de cadastrarmos o terapeuta na plataforma é feita uma triagem rigorosa e análise dos documentos e credenciais fornecidas pelo profissional”, assegura o criador.
Os usuários pagam R$ 299 para falar de maneira ilimitada com um terapeuta. O profissional acessa a plataforma pelo menos duas vezes ao dia para atender às demandas dos usuários. “Os terapeutas trabalham com os seus pacientes no decorrer do dia , mas a partir do momento que ele estiver trabalhando com um paciente, a sua atenção será única e exclusiva para aquele paciente”, explica Faber.
O criador do aplicativo contou, em entrevista por e-mail, que resolveu criar o FalaFreud quando precisou entrar em contato com a antiga terapeuta, mas naquele momento estava morando em Nova Iorque, “Iniciamos um contato pelo WhatsApp e daí surgiu a ideia de que muitas pessoas estariam na mesma situação eu a minha. Fazer terapia por meio do app é mais simples, moderno e acessível ao público em geral.”
Ele ressalva, entretanto, que nem todas as demandas dos usuários podem ser atendidas pelo aplicativo. “Existem vários estudos que comprovam a eficácia da terapia online, mas há as suas limitações e nem todas as demandas podem ser trabalhadas online. O próprio profissional vai recomendar a terapia presencial. Isso mostra que o aplicativo não irá substituir o consultório, pois sempre haverá demanda para ambos.”
DIFERENÇAS
Coordenador da Comissão Gestora da Sub-sede de Londrina do Conselho Regional de Pesicologia da 8ª Região (CRP-08), o psicólogo Stelios Stoukos destaca que há diferença fundamentais entre o atendimento online e o presencial por um profissional da Psicologia. “O atendimentos presencial tem características que não conseguem ser reproduzidas online no que diz respeito a construção de um vínculo, relação humanizada e questões de observação do seu cliente. Todo ambiente online tem restrições de contato, de interação.”
Ao mesmo tempo que alerta para as diferenças entre o atendimento online e o presencial, Sdoukos opina que os serviços virtuais de orientação psicológica são uma nova modalidade que segue a tendência de digitalização. “A gente vive em uma era que é digital. Então, a gente vai ter essa transição de serviços que são presenciais e se tornam digitais, essa é uma demanda real. Acho que isso de orientação online existe também para atender uma demanda como essa. Ninguém é contra (as orientações psicológicas online), o Conselho Federal de Psicologia também não é, só especifica que sejam feitas orientações online, e não psicoterapia. A psicoterapia ainda é de caráter experimental quando no ambiente online. Ainda não é iberada para ofertar à população.”
CFP REGULAMENTA SERVIÇOS PSICOLÓGICOS POR MEIOS TECNOLÓGICOS
A resolução 011/2012, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), reconhece serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de comunicação à distância. Porém, determinam que estes serviços devem solicitar um cadastro ao seu Conselho Regional de Psicologia. Aqueles com cadastro aprovado podem ser consultados pela população no site do CFP (cadastrosite.cfp.org.br/cadastro).
Entre outros pontos, a resolução define que os serviços psicológicos por meios tecnológicos ou de comunicação à distância devem prestar apenas orientação psicológica – e não atendimento psicoterapêutico – e ser limitados ao máximo de 20 encontros ou contatos virtuais. Além disso, devem merecer site exclusivo com registro de domínio no Brasil e contendo informações básicas sobre o “responsável técnico”, como número de inscrição no CRP, currículo, contato e o selo de aprovação do Conselho. CFP, a situação do serviço aparece como em “suspensão temporária”. Nota emitida pelo Conselho Regional de Psicologia da 20ª Região diz que a ferra menta chegou a ser aprovada em outubro, mas que depois de um tempo o site teria passado por modificações não referendadas pelo CRP da 20ª Região ou pelo CFP, entre elas, a mudança do domínio do site para www.falafreud.com. Como as irregularidades não teriam sido corrigidas, o Conselho Regional decidiu pela suspensão temporária do cadastro do site.
CAMINHO SEM VOLTA
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o FalaFreud afirmou que “ está em constante contato com o Conselho Brasileiro de Psicologia, e em nenhum momento tomou qualquer atitude sem prévio debate com os responsáveis”. “A evolução do atendimento para canais online é um caminho sem volta. O FalaFreud acredita que os profissionais precisam se adequar e reinventar a forma de atender pacientes, acompanhando o ritmo de vida da maioria das pessoas”, ressalta a nota. (M.F. C)
AJUDA ACESSÍVEL E DE MANEIRA PRIVADA
Pesquisa realizada pelo FalaFreud mostrou que a maioria dos usuários resolveu aderir ao aplicativo porque sente vergonha de conversar pessoalmente com um profissional ou porque nunca fez terapia e gostaria de começar. O fato de estar sempre online é outro motivo para o cadastro na plataforma. A busca de ajuda terapêutica provém de razões como angústia, tristeza esgotamento emocional, problemas no relacionamento ou com a família e stress e pressão no trabalho.
O alto valor do atendimento psicoterapêutico e a resistência das pessoas em procurar um profissional são fatores que levaram dois psiquiatras a criarem uma plataforma d “autoterapia” on-line. “O que nos motivou é fazer com que as pessoas tenham acesso a coisas legais que surgem na psicologia de maneira privada e barata”, conta Diogo Lara, um dos fundadores, que também é pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC- RS). O Código da Mente, segundo ele , não é psicoterapia, porque não é realizado por um profissional. “ É mais parecido com autoajuda. Tem a eficácia da psicoterapia com preço de autoajuda”.
EMOÇÕES NEGATIVAS
Antes da “autoterapia”, o usuário faz um teste para saber qual emoção negativa mais o afeta no momento – medo, raiva, impulsividade e ansiedade são exemplos. A plataforma faz então uma recomendação de módulos relacionados a essas emoções negativa em ordem de prioridade para o .recursos como texto, áudios e vídeos para ajudar o usuário a progredir.
Lara, que também atende em consultório, compara o Código da Mente e ferramentas online de aprendizado de línguas. Para algumas pessoas, só a ferramenta já é o suficiente para o aprendizado, mas para outras, faz-se necessário o auxílio de um professor. O Código da Mente, diz, pode ser utilizado como uma ferramenta adicional no processo de psicoterapia, mas o seu uso sozinho já pode trazer bons resultados. A plataforma disponibiliza conteúdo gratuito aos usuários, e para conteúdo premium, cobra o valor de R$ 19,90 mensais. (M.F.C). (MIE FRANCINE CHIBA – Reportagem Local, página 4, Mercado Digital – Finanças, caderno FOLHA ECONOMIA & NEGÓCIOS, quinta-feira, 5 de janeiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário