sábado, 14 de janeiro de 2017

AS AGRURAS DE UM AGRICULTOR


   Era nos anos 1960, meus pais agricultores, após tempos de duro trabalho e economia finalmente conseguiram comprar um pequeno sítio. Era uma propriedade com um cafezal, um pequeno pasto, e uma casa grande em madeira de peroba-rosa. Mas tudo precisava de cuidados, o cafezal de uma boa poda, adubagem, correção do solo. O pasto bem degradado com muitas ervas daninhas e as cercas em péssimo estado. A casa necessitava de uma boa reforma. Não tinha paiol e a tulha carecia de uma melhoria. Como toda a economia foi dada na compra, não tínhamos nada para iniciar o trabalho que a propriedade exigia. 
   Certo dia, compareceu em nossa casa o sr. Admilson, que era gerente do Banco do Brasil na cidade. Veio conhecer nossa família e vendo a situação, prontificou-se a fazer um financiamento. Meu pai fez o empréstimo bancário para pagar em três anos. Animado, foi a cidade e comprou o adubo, contratou o Zecão do Trator parar arar o pasto, comprou sementes de colonião para a pastagem e arame farpado para as cercas. Tudo foi ficando muito bonito com o tempo. Naquele primeiro ano a colheita de café não foi muito boa pois a adubagem demoraria a melhorar a lavoura. 
   No segundo ano, foi uma colheita boa, mas o inesperado aconteceu. Em julho daquele ano uma grande geada que arrasou com a nossa região e a nossa lavoura. Levara alguns anos para a recuperação. O dinheiro da colheita não dava nem para pagar uma parte da dívida no banco. Meu pai então foi ao banco conversar com o sr. Admilson, que aliás constantemente vinha em casa para almoçar e levar frutas. Meu pai voltou arrasado pois o gerente foi muito frio e disse que não tinha jeito, e que meu pai teria que honrar o compromisso, caso contrário o banco tomaria a propriedade. Desesperado, colocou o sítio a venda, o que aconteceria meses depois por um valor muito abaixo do mercado. Saldou a dívida e ficamos quase sem nada. 
   Mudamos para a fazenda Santa Cecília, onde o fazendeiro, muito rígido, colocou para meu pai as regras. Sem opção fomos trabalhar lá sendo uma verdadeira humilhação para a nossa família. Tínhamos que comprar os mantimentos e roupas na “venda” da fazenda. No final do primeiro ano do contrato, depois de muito trabalho de todos nós, meu pai foi fazer o acerto, e nada sobrou. Pela segunda vez, vi meu pai chorar. Meus irmãos mais velhos resolveram então ir para a cidade para aprender o ofício de mecânico na oficina do compadre Elpídio, padrinho do nosso irmão Álvaro, o que deixou minha mãe triste. Ele iriam para a cidade e enviariam os seus salários para ajudar nas despesas da casa. 
   Num fim de semana, recebemos a visita de seu Augustinho, padrinho de nosso caçula Mauro. Vendo a nossa situação ele prontamente disse: - Compadre, vocês vão morar no meu outro sítio. No primeiro ano não quero nenhuma renda e a seguir 50% da renda do café e os mantimentos que produzir será todo seu. 
   Lá fomos de mudança. A casa era bem confortável e a propriedade muito bem cuidada. Em quatro anos que estávamos lá, tivemos uma grande melhora na vida e acima de tudo dignidade. Meus dois irmãos mais velhos já mecânicos, e o Moacir era contínuo no banco. Compramos uma casa na cidade e nos mudamos para lá, onde meu pai comprou um táxi e nossa vida teve uma grande melhora. Porém meu pai nunca esqueceu a agricultura, mesmo com o passar dos anos. (SIDNEY GIROTTO, leitor da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, FOLH RURAL, 14 e 15 de janeiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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