No Rio de Janeiro, no começo do século 20, a febre amarela já inspirava o escritor João do Rio a criar o conto “A peste”, relatando a situação de um personagem consumido pela epidemia. O Brasil, até quase a metade daquele século, viveu grandes surtos da doença. A última epidemia em áreas urbanas ocorreu em 1942, mas ressurge agora, sobretudo em Minas Gerais, pondo as autoridades em alerta. As Unidades Básicas de Saúde, segundo as informações, encontram-se aptas a fornecer a vacina cuja primeira dose deve ser tomada aos nove meses de idade por quem viver em áreas endêmicas, com um reforço aos quatro anos. Mas na idade adulta a vacina é obrigatória para quem vai viajar para áreas silvestres, rurais ou de mata, devendo ser tomada, devendo ser tomada, no mínimo, 15 dias antes da viagem. Em entrevista à BBC, o epidemiologista Eduardo Massad, da USP, tendo em vista a possibilidade de um retorno maior da doença nas áreas urbanas afirmou: “Estamos sentados em uma bomba-relógio”. No seu ponto de vista, o retorno da febre amarela urbana seria uma enorme tragédia, “talvez maior do que zika, dengue e chikungunya juntas – porque ela mata quase 50% das pessoas que não são tratadas”. A febre amarela é transmitida por diferentes tipos de mosquitos nas áreas silvestres, como o Haemagogus e o Sabethes, para o macaco e, ocasionalmente, para seres humanos não vacinados. Mas nas áreas urbanas o vetor é o Aedes aegypti que já vem preocupando as autoridades sanitárias há anos pela incidência de outras doenças. Até a última sexta-feira (13), a Secretaria de Saúde de Minas Gerais informou que as mortes de pessoas com febre amarela havia subido para 38 no estado. Já o número de casos suspeitos subiu para 133. A vacinação é a única garantia das pessoas não serem contaminadas, já que as causas da febre amarela estão intrinsecamente ligadas a condições ambientais.
A bióloga Márcia Chame, da Fiocrruz Rio, diz que as autoridades já haviam percebido que surtos extravasam o ambiente das florestas a cada sete anos e atingem mais pessoas no interior do País. Isso se deve, sobretudo, a um processo de perda de ambientes naturais, ou seja, a devastação das matas. Com a morte das florestas também morrem espécies como o macaco – principal hospedeiro do vírus de transmissão silvestre – e assim o surto se aproxima das populações urbanas. Por ora, as autoridades alertam também para os riscos de aglomerações humanas em grandes cidades de áreas costeiras e em eventos como o Carnaval. Para os especialistas, a possibilidade de uma pessoa levar uma picada de Aedes aegypti no Rio durante o Carnaval é de 99,99%. Tendo isso em vista, todo cuidado é pouco. (OPINIÃO, página 2, quarta-feira, 18 de janeiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário