Atender exclusivamente mulheres é um bom nicho de mercado para empresas e profissionais liberais
O medo de assédio faz com que muitas mulheres acabem recorrendo a outras mulheres quando precisam de determinados tipos de serviço como pequenos reparos domésticos, transporte e cuidados pessoais. Se por um lado isso é ruim por demonstrar o quanto a sociedade ainda precisa evoluir, por outro abriu diversas fontes de trabalho para as mulheres, inclusive em áreas tradicionalmente masculinas.
A “faz tudo” Marly Oliveira, de Cambé, diz que tem clientes homens, mas 80% dos seus serviços são feitos para mulheres. Ela divide sua rotina entre os serviços autônomos e o emprego em um edifício comercial, onde é responsável, entre outras coisas, pela manutenção.
“Tem mulheres que moram sozinhas e se sentem mais confiantes recebendo outra mulher em casa. Outras trabalham o dia todo e apenas os filhos estarão em casa na hora que eu vou. E já teve casos em que o marido prefere o meu serviço ao de outro homem porque a esposa estará sozinha. Muitas também dizem que é porque mulher é mais organizada e detalhista”, justifica.
Ela conta que faz desde a parte elétrica e hidráulica até pintura, reparos em pequenos eletrodomésticos, portas de armário, instala antenas e ventiladores de teto, entre outros. Aprendendo de forma autodidata, ela afirma ter feito apenas um curso para montagem e manutenção de computadores. “Minha mãe fala que desde pequena eu gostava de montar e desmontar as coisas. Fui observando as pessoas fazendo as coisas e aprendendo. Meu primeiro serviço foi quando quebrou uma porta eletrônica no prédio onde trabalho. Eu olhei uma porta que estava funcionando, observei o que tinha quebrado – era apenas uma mola e fiz o conserto. Depois troquei o reator de uma luminária. A partir daí foram surgindo outros pedidos e comecei a cobrar pelo que fazia”, descreve.
Oliveira reconhece que o mercado nessa área de atuação é formado basicamente por homens, por isso é um campo de trabalho para as mulheres. “Outro dia fui convidada para um jantar em homenagem ao dia do eletricista e era a única mulher. Tem quem fique curioso ao me ver, pergunta se eu sou a dona da empresa e se espanta quando eu conto que sou eu quem faz todo o serviço. O que precisa fazer, sendo honesto, eu faço: desentupir privada, subir no telhado, eu preciso trabalhar”, afirma.
NICHO
O Sebrae não tem dados sobre o número exato de empresas que atendem exclusivamente mulheres, mas informa que elas estão empreendendo mais. O consultor do Sebrae em Londrina Rubens Negrão aponta que o número de empreendedoras vem crescendo anualmente, segundo a pesquisa global Entrepreneurship Monitor ((GEM).
“Outro número aponta que as mulheres estão mais capacitadas do que os homens, o nível de escolaridade é maior entre elas. Pensando por esse lado, estão estudando mais e empreendendo mais preparadas. O empreendedorismo pode acontecer por oportunidade ou por necessidade e independentemente disso, elas estão mais preparadas educacionalmente!, diz.
Negrão aponta que o atendimento voltado exclusivamente às mulheres é um nicho de mercado e uma tendência das empresas, sendo uma estratégia de diferenciação do modelo de negócios. Entretanto, escolher um público específico não é suficiente, a empreendedora precisa estar preparada para que o negócio tenha sucesso.
“Passamos do “vender de tudo para todo mundo” para “vender algo para alguém”. Atender apenas mulheres é um nicho de mercado de confiança, de relacionamento, de falar a mesma linguagem do cliente, um nicho que trabalha relacionamento e fidelização. Se a proposta de valor é essa, essas empresas têm que adotar ferramentas para conhecer mais as clientes, estar com a cliente durante a vida dela: saber as preferências de cor, tamanho, modelo, frequência com que compra, saber se a mulher é mais voltada aos estudos, ao trabalho, à família. Para isso pode usar desde o tradicional caderno até o softwares. A longevidade e o sucesso da empresa vão depender de quanto ela conhece seu cliente. Quanto melhor conhecer, mais consegue ajustar sua decisão”, ensina. (FONTE: ÉRICA GONÇALVES – Reportagem Local, FOLHA EMPREGOS & CONCURSOS, segunda-feira, 30 de outubro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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