Roney Marczak, diretor da Escola de Música Sol Maior: "Nosso desejo é ampliar oportunidades" |
O universo musical está além do aprendizado de um instrumento; vivenciá-lo é uma oportunidade de construir novas histórias
Não é novidade e está comprovado cientificamente: a música impacta a capacidade de processamento de informação do cérebro. ‘Tocar um instrumento durante um longo período de tempo, tem o potencial de mudar sua função e estrutura, especialmente quando iniciada antes dos sete anos de idade.
A constatação é do pesquisador de música, o neurologista Gottfried Schlaug, da Escola Médica de Harvard, que também destaca que, “o treinamento musical intenso gera novos processos dentro do cérebro, em diferentes estágios da vida e com uma série de impactos na criatividade, cognição e aprendizado”.
Essas afirmações foram feitas durante a edição de 2013 da Sociedade de Neurociência, em San Diego, na Califórnia, e tem sido uma aposta par o currículo de muitas escolas.
“Nos Estados Unidos, por exemplo, todas as escolas têm uma orquestra, mas no Brasil o ensino da música não tem visibilidade, pois ao contrário do esporte que resulta em um troféu ou medalha, a música não tem um reconhecimento palpável em um curto período de tempo”, comenta o violinista londrinense Roney Marczak.
Ele vive a música há quase quatro décadas e durante muito tempo, vem projetando o olhar para crianças e jovens que desejam aprender música, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social.
Desde 2001, a Escola de Música Sol Maior abriga o projeto homônimo. Dos 160 alunos, 78 são bolsistas. Em troca do aprendizado de um instrumento, eles devem mostrar um bom desempenho escolar e disciplina nas aulas do projeto.
Até hoje, a escola já atendeu mais de oito mil alunos, número que revela também o papel de formação cidadã do projeto Sol Maior. “Em sala de aula, as diferenças de idade e classe social desaparecem. A música revela às pessoas que elas têm direitos e oportunidades iguais”, afirma Marczak.
Com o violoncelos em mãos, o aluno Matheus Oliveira Ribeiro, 20, conta que sonha estudar música fora do País, e que para isso, tem se dedicado muito aos estudos do instrumento.
Até os 16 anos, ele tinha outro desejo. Se imagina no futuro como professor de educação física. Até que um dia escutou música clássica pela primeira vez e ficou impressionado. “Passei a escutar em casa e quis aprender. Minha vida mudou bastante, pois antes só queria saber de jogar bola”, diz. Ribeiro e o pai economizaram o dinheiro da venda de raspadinha e compraram um violoncelo. Mas não foi possível dar continuidade às aulas particulares.
Mas como a paixão pela música só crescia em Ribeiro, ele conseguiu uma bolsa no projeto Sol Maior e hoje é integrante da Orquestra Jovem, com o objetivo de se profissionalizar e conquistar os palcos do mundo.
Samuel Ângelo Teodoro, 22 anos, : de bolsista a professor , hoje ele tem 45 alunos |
A mesma oportunidade foi dada ao Samuel Ângelo Teodoro, 22, há cerca de sete anos. Ele foi bolsista e hoje é professor na Escola, ensinando violino para 45 alunos.
Ele conheceu o instrumento através de um projeto na escola. Quando vi o Roney tocando a música “Brasileirinho” no violino, eu desejei fazer igual”, conta ele, ao enfatizar que foi importante ter alguém em quem se inspirar.
“Quero ser o mesmo para meus alunos e mostrar o quanto a música me abriu caminhos Eu mudei nos relacionamentos interpessoais, pois era muito tímido, fiz minha primeira viagem de avião por conta de uma apresentação de música e ganhei uma profissão”, comemora.
Larissa Galdiano Ribeiro, 17 anos: "Depois das aulas de violino, tenho muito mais concentração" |
Para a aluna Larissa Galdiano Ribeiro, 17, o universo musical transformou também suas notas no boletim. “Sempre fui distraída e tirava notas baixas. Depois das aulas com violino, isso mudou porque a música trabalha muito a concentração. É um aprendizado que ajuda em todos os aspectos e traz uma motivação”, afirma.
Ribeiro pretende fazer faculdade de música na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e está se preparando tecnicamente. “Todos os dias eu estudo em casa”, diz.
Marczak conta que o maior desafio da música não está no instrumento em si, mas na vontade de tocá-lo. Por esse motivo, ele continua direcionando o olhar para os talentos que batem à porta do projeto Sol Maior.
A cada dois alunos mensalistas na escola, uma vaga de bolsista é aberta. “Nosso desejo é ampliar essas oportunidades. Temos uma lista de espera de aproximadamente 70 alunos e por este motivo, quem está aqui dentro é bastante exigido”, afirma. (FONTE: MICAELA ORIKASA – Reportagem Local, FOLHA CIDADANIA, terça-feira, 21 de novembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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