Quando uma criança, lá pelos seus 4 anos, perguntam aos pais como nascem os bebês, está buscando a sua origem e mostrando curiosidade sobre o funcionamento da vida e dos corpos. Essas indagações por parte das crianças são importantes para que elas construam uma imagem de si própria mais realista. E agora, quando o filho é adotado e essas questões surgem? Como devem ser respondidas? Como ficam os pais adotivos?
Não se deve esconder da criança que ela é adotada. Ocultar isso seria ocultar a origem dessa criança e sua possibilidade de se construir. No entanto, muitos pais têm dificuldade de lidar com esse assunto porque este remete às suas dores particulares que não foram bem resolvidas. Quando um casal fica impossibilitado de gerar filhos biológicos pode criar uma mágoa. Seja devido à infertilidade ou qualquer outro impedimento o ideal de família que muitas vezes alimentou é destruído gerando sofrimento e sentimento de perda. Muitos pais adotivos têm medo de sentir essa perda novamente quando seus filhos questionam sobre seus pais biológicos.
A ideia de que os filhos irão certamente procurar seus pais biológicos não é verdadeira. Há muito mais curiosidade sobre sua história de vida do que qualquer outra coisa. Dúvidas sobre porque os pais o abandonaram, sobre o que aconteceu ficarão presente, mas quando pais adotivos e filhos adotados podem aceitar que isso faz parte de suas histórias e da formação de suas famílias cria a possibilidade de todos se construírem como pais e filhos numa base verdadeira. A verdade é sempre importante para todos, mesmo que traga dor. Entretanto, a mentira também traz dor e muito pior.
Pais não são quem apenas geram biologicamente uma criança, mas todos aqueles que se dedicam ao exercício diário da parentalidade. Podem ser biológicos ou adotivos, mas são aqueles que doam tempo, disposição, afeto, carinho e recursos internos e externos para a criação de um lar e de uma família. Quando os pais ficam angustiados e inseguros com o fato de terem adotado seus filhos podem impedir de criar um espaço onde a criança se sinta à vontade para perguntar e se deparar com a sua história e aprender que família é muito mais forte do que apenas semelhança entre os genes. Família é uma construção e não uma verdade biológica. (FONTE: Crônica escrita por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicoterapeuta em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, sexta-feira, 3 de novembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br).
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