Primavera travessa, com frio tardio, tempestades e tantos mosquitinhos por todo canto! Reclamei deles e um amigo desafio se eu faria uma crônica sobre esses seres tão pequenos quanto onipresentes.
Começaria desejando não serem portadores de nova doença, digamos a chubycuenca, sucessora de chicungunya. Quem dera os mosquitinhos nos dessem doenças com sintomas como fazer gentilezas no trânsito, inclusive as mulheres. Ciclistas, que tanto pedem respeito, passassem a respeitar sinaleiros e contramão. A gente ouvir o que o outro fala, em vez de já pensar no que responder...
Mas os mosquitinhos se foram, me deixando a lembrar George Graig Smith, o primeiro londrinense. Ele contava que quando a primeira caravana chegou às três minas de água onde abriram a clareira para a futura Londrina, tiveram de tomar banho em duplas: um tirava as roupas e se lavava depressinha, enquanto outro afugentava nuvens de mosquitos agitando folhas de palmeira. Depois dormiram em ranchos de palmito, jogando folhas verdes no fogo para fazer muita fumaça e afugentar a mosquitada. Só de pensar dá coceira...
Os machos de muitas aves são mais formosos que as fêmeas, exemplo famoso é o pavão. Mas, entre os mosquitos, as fêmeas são maiores que os machos e se alimentam não apenas de néctar e seiva, como eles, mas também de sangue, ou seja: dengue, zika, malária etc são coisas delas, não deles. Talvez porque elas precisem de muita energia para gerar as centenas de ovos que eclodem em apenas dois dias, para delícia dos sapos.
Então por isso a onda de mosquitinhos: faltam sapos! Porque faltam brejos, aterrados para virar bairros. Os mosquitinhos vieram então nos lembrar que as grandes alterações ambientais são causadas por nós, na busca incessante de território e conforto, essência da nossa natureza. Mosquiteiros já foi coisa de casas chiques, hoje chique é ar condicionado acionado por celular. Então agradeçamos aos mosquitinhos, que nos trouxeram um pouco da natureza que eliminamos de nossa vida.
Mas meu amigo diz que não posso terminar a crônica sem revelar porque mosquitos zumbem na nossa orelha: digo que não sei e ele:
- Ora, eles zumbem na orelha porque querem ser ouvidos!
Diante disso só resta encerrar com a velha quadra de Montaigne:
Me contou um pernilongo
zumbindo na minha orelha
todos querem vida longa
mas ninguém quer
ficar velho... (FONTE: Crônica escrita por DOMINGOS PELLEGRINI, escritor e jornalista, d.pellegrini@sercomtel.com.br página 3, caderno FOLHA 2, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI, 18 e 19 de novembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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