Desde pequeno fui acostumado a lidar com os bichos, pois em minha casa
havia criação de galinhas, coelhos, patos, pombas, além de vacas e porcos.
Algum tempo atrás as atividades de pesca e caça eram bastante comum no dia a dia das pessoas,
sempre com o intuito de alimentar as famílias, geralmente numerosas. Além de
peixes, era costume de meus parentes e vizinhos trazerem caças ( perdizes,
lebres, catetos e tatus) par fazer parte do cardápio.
Os animais domésticos eram os gatos e cachorros, que viviam soltos pelos quintais. Os cachorros se tornavam íntimos, cúmplices de nosso cotidiano. Foi assim com o Fox paulistinha chamado Banzé, com o perdigueiro de nome Companheiro e e o vira-latas Tango. Lembro quando meu pai chegou em casa e tirou o Banzé, ainda filhote, do bolso do casaco,colocando-o numa caixa de sapatos para se aquecer embaixo do fogão à lenha. Naquela noite, demorei para dormir, entusiasmado com a chegado do novo membro da família.
Igualmente aos homens daquela época, os divertimentos do meu pai eram as carreiras de cavalo e as rinhas de galo. Em algumas épocas do ano ele ia assistir corridas de cavalo em localidades do interior e eu costumava acompanhá-lo nessas incursões. As corridas se davam aos sábados e domingos e consistiam num grande acontecimento daqueles vilarejos. As carreiras aconteciam em canchas retas, raias de terra, onde competiam dois ou três cavalos (geralmente crioulos, animais de trabalho) numa distância de 200 metros a 400 metros, sob a gritaria e apostas de um grande público. As apostas envolviam dinheiro, lotes de terra, máquinas e produtos agrícolas, relógios, jóias, armas e animais
Numa dessas carreiras voltamos para casa trazendo um galo de briga, bem novo, quase um frangote. Como ficava aprumado, altivo, sempre com a cabeça erguida, meu pai deu a ele o nome de Espada, me incumbindo de tratá-lo e levá-lo para adestramento na casa de um de nossos vizinhos, onde havia criação desses animais.
Perto de casa havia algumas vendas, onde os homens passavam os finais de tarde conversando e jogando bocha: Apesar de ter sido preparado para brigar, Espada não participava de rinhas, pois o prazer de meu consistia em levá-lo nas vendas, onde eu o apresentava aos fregueses e fazia alguns exercícios com ele, como bater asas, correr e pular, deixando aqueles homens simples encantados com suas proezas.
Meu pai ficava feliz ao ver os comentários sobre sua beleza, pois como autêntico galo índio o Espada era muito bonito, devido às cores de suas penas vermelhas, pretas e brancas, além de tons de dourado e prateado.
Acostumados à cultura das carreiras e rinhas, os homens faziam ofertas pelo galo e nesse momento meu pai ficava pensativo e olhava na minha direção dizendo que nunca o venderíamos, pois era um bicho de estimação. Isso durou uns dois anos, até que numa noite de inverno o galo foi roubado do quintal de casa, certamente levado por alguém que conhecia suas qualidades. Depois daquele dia não mais se ouviu seu canto ao amanhecer e meu pai deixou de frequentar rinhas, alegando desgosto pelo ocorrido.
Alguns meses depois eu reconheci o Espada lutando bravamente no tambor de um rinhadeiro, debaixo dos gritos e apostas daqueles mesmos homens rudes que anteriormente haviam se emocionado nas vendas. Entristecido, não consegui ficar no local para ver o final da disputa, pois se dependesse de meu pai e de mim, o Espada não deveria viver ou morrer brigando. ( Texto escrito por GERSON ANTONIO MELATTI, leitor do caderno FOLHA RURAL, extraído do espaço DEDO DE PROSA, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 2 de maio de 2015).
Os animais domésticos eram os gatos e cachorros, que viviam soltos pelos quintais. Os cachorros se tornavam íntimos, cúmplices de nosso cotidiano. Foi assim com o Fox paulistinha chamado Banzé, com o perdigueiro de nome Companheiro e e o vira-latas Tango. Lembro quando meu pai chegou em casa e tirou o Banzé, ainda filhote, do bolso do casaco,colocando-o numa caixa de sapatos para se aquecer embaixo do fogão à lenha. Naquela noite, demorei para dormir, entusiasmado com a chegado do novo membro da família.
Igualmente aos homens daquela época, os divertimentos do meu pai eram as carreiras de cavalo e as rinhas de galo. Em algumas épocas do ano ele ia assistir corridas de cavalo em localidades do interior e eu costumava acompanhá-lo nessas incursões. As corridas se davam aos sábados e domingos e consistiam num grande acontecimento daqueles vilarejos. As carreiras aconteciam em canchas retas, raias de terra, onde competiam dois ou três cavalos (geralmente crioulos, animais de trabalho) numa distância de 200 metros a 400 metros, sob a gritaria e apostas de um grande público. As apostas envolviam dinheiro, lotes de terra, máquinas e produtos agrícolas, relógios, jóias, armas e animais
Numa dessas carreiras voltamos para casa trazendo um galo de briga, bem novo, quase um frangote. Como ficava aprumado, altivo, sempre com a cabeça erguida, meu pai deu a ele o nome de Espada, me incumbindo de tratá-lo e levá-lo para adestramento na casa de um de nossos vizinhos, onde havia criação desses animais.
Perto de casa havia algumas vendas, onde os homens passavam os finais de tarde conversando e jogando bocha: Apesar de ter sido preparado para brigar, Espada não participava de rinhas, pois o prazer de meu consistia em levá-lo nas vendas, onde eu o apresentava aos fregueses e fazia alguns exercícios com ele, como bater asas, correr e pular, deixando aqueles homens simples encantados com suas proezas.
Meu pai ficava feliz ao ver os comentários sobre sua beleza, pois como autêntico galo índio o Espada era muito bonito, devido às cores de suas penas vermelhas, pretas e brancas, além de tons de dourado e prateado.
Acostumados à cultura das carreiras e rinhas, os homens faziam ofertas pelo galo e nesse momento meu pai ficava pensativo e olhava na minha direção dizendo que nunca o venderíamos, pois era um bicho de estimação. Isso durou uns dois anos, até que numa noite de inverno o galo foi roubado do quintal de casa, certamente levado por alguém que conhecia suas qualidades. Depois daquele dia não mais se ouviu seu canto ao amanhecer e meu pai deixou de frequentar rinhas, alegando desgosto pelo ocorrido.
Alguns meses depois eu reconheci o Espada lutando bravamente no tambor de um rinhadeiro, debaixo dos gritos e apostas daqueles mesmos homens rudes que anteriormente haviam se emocionado nas vendas. Entristecido, não consegui ficar no local para ver o final da disputa, pois se dependesse de meu pai e de mim, o Espada não deveria viver ou morrer brigando. ( Texto escrito por GERSON ANTONIO MELATTI, leitor do caderno FOLHA RURAL, extraído do espaço DEDO DE PROSA, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 2 de maio de 2015).
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