sábado, 14 de março de 2015

UMA HORA MUITO ESPECIAL



   No pequeno “largo” da cidade, assim chamado antes de ser praça,  aquela hora era muito especial. Ao lado da Igreja de madeira, uma senhora de vestido de pregas, muito comportado, geralmente escuro ou cinza, cabelos trançados ou presos, origem italiana, chegava para tocar o sino.
   A Igreja, o sino e a mulher formavam uma  paisagem  de desenho, ao cair da tarde, quebrando o silêncio preguiçoso com badaladas que eram um convite.
   Quase ao mesmo tempo  desciam e subiam , das várias ruas, outras pessoas, especialmente mulheres e  crianças e se encaminhavam para a pequena igreja.
   Era hora do Anjo! E eu gostava disso tudo! Chegava correndo para a oração à qual se seguia a reza do terço. E logo no início ficava meditando, não sobre a oração, mas sobre a parte que dizia: “...e o Verbo se fez carne...”   Verbo  para mim era o que se decorava na escola...eu canto, tu cantas, ele canta! E como era que virou carne?! Difícil para uma criança entender, mas não impossível para crer.
   Dentro da igreja as mulheres se sentavam de um lado e os homens de outro. As casadas usavam véus  preto na cabeça e as solteiras brancos. As crianças eram convidadas a ficarem quietas  mas eram puro movimento.
   Após a oração do Angelus,  uma das senhoras, com acentuado sotaque italiano, “puxava” o terço, desfiando as contas do rosário com muito carinho, numa espécie de homenagem à Mãe de Jesus, com a qual as mulheres tanto se identificavam em suas dores e amores pela família e os filhos, num tempo de velada submissão feminina  e intensa força interior.
   Para mim, os cinco mistérios do terço eram longos... Em vez de acompanhar as contas, iam contando quantas  Ave Marias  faltavam para acabar. Sabia de cor os cantos marianos que intercalavam a reza e ainda os guardo na memória com saudade.
   Terminava o terço e começava a Ladainha. Essa era um encanto à parte. Só não entendia porque as pessoas comparavam “ladainha” com um nome de reclamações. Nenhuma semelhança!
   Começava enaltecendo as virtudes de Maria como Mãe Rainha, Virgem e outras qualidades tão cheias de ternura. A mulher de sotaque italiano ia recitando a ladainha e os demais respondendo “rogais” por nós.  Embalada pela monotonia das  aclamações, eu ia cochilando...
   Num determinado momento a voz mudava o tom e exclamava mais alto : A Rainha da Paz! “Rogais” por nós! Eu despertava e sabia que estava terminando, só faltava umas poucas Ave-Marias pelas intenções da comunidade ( que não eram poucas ).
  Encantava-me aquele ambiente e gostava de observar principalmente a vida daquelas mulheres piedosas e lutadoras, em tempos difíceis, que sabiam onde encontrar a confiança necessária para enfrentar seus problemas e os dos familiares. Outros  tempos, outros contextos, mas uma maneira simples e  sempre atual de dar sentido à vida
   Ainda hoje, nas manifestações marianas da  Igreja católica, volta à lembrança aquela imagem : seis horas da tarde, o sino, o rosário e o canto da ladainha , a devoção dos  simples, dos puros e de todos aqueles têm  amor e vivem a sua fé.  ( Texto escrito por ESTELA MARIA FERREIRA, leitora da FOLHA, extraído do espaço Dedo de Prosa, página 1 da FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 14 de março de 2015). 

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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