É preto
e luzidio feito uma pequena
lápide.
É um nenetrônico que precisa mamar na tomada todo dia.
Fala, fota, filma, , edita conecta e até dança, vibrando e deslizando encima da mesa.
Mas tem me servido para nada, pois, quando lembro de levar, está descarregado, ou, quando está carregado, esqueço de levar.
E já me deu vexame. Eu voltava da cidade, cansado do inferno do trânsito, parei num boteco pertinho de casa para aquela cerveja sem culpa.
Aí toca a musiquinha do celular, fui tirar do bolso, deixei cair, peguei, tentei atender, procurando botão, é só tocar, então toquei aqui e ali, e nada.
Notei que todos estavam me olhando, tinha virado um teatreco, teatro de boteco, todos esperando o tal escritor atender o celular.
O sujeito da mesa ao lado estendeu a mão: - Posso ajudar?
Dei o celular, o samaritano fuçou daqui-dali, até descobrir.
- Tá descarregado, tio, - assim me botando no devido lugar, um velho antiquado e distraído.
Perguntei como podia estar descarregado se tinha tocado. Então tocou de novo, e ele atendeu o celular dele, com musiquinha igual a do meu. O meu não tinha tocado.
Tomei a cerveja, cheguei em casa, botei o danado na tomada e fui tomar banho, aí ele tocou. Me enxuguei depressa, atendi, era a telefônica querendo me vender não sei o que. Acho que ele é programado pela telefônica para tocar sempre que estou almoçando ou tomando banho.
Mas celular é bom, é muito bom – para ser esquecido mais que guarda-chuva.
Já esqueci no banco, no açougue, na farmácia e no supermercado, até aprender que ele não pode andar na mão, tem de andar no bolso.
Então ando com a carteira num bolso, no outro o celular , parecendo aqueles peões que, nos anos 50, depois de meses derrubando mata, desembarcavam na rodoviária com maços de dinheiro tão grossos, nos bolsos, que os vigaristas viam de longe e iam atrás.
Mas fomos viajar e Dalva acionou o GPS do celular, que maravilha! Sair daqui e chegar lá onde for, com um mapinha em tempo real te indicando o caminho, uma voz te prevenindo onde virar que saída pegar na rótula, eteceteretrans, cheguei a beijar o celular.
Mas os planos de entrar no Facebook , motivo pelo qual comprei o danado, esqueci. Simplesmente não tenho paciência para ficar falando de mim, postando banalidades e recebendo em troca trivialidades.
Dalva diz que há um mundo por descobrir no celular se eu tiver um pouco de paciência e um mínimo de interesse. Então acho que nada tenho de paciência e interesse nenhum, pois continuo só recebendo e fazendo chamadas, para tão pouca gente a quem dei o número, que fico pensando porque tenho celular afinal.
Mas bati umas fotos. Estão não sei onde dentro do Pretinho, como passei a chamar o celular, Espero que nenhuma sociedade de defesa dos direitos humanos me processe por e-racismo.
E descobri que ele é bom mesmo para anotar as idéias que me vem. Lembro de alguma coisa, pego o papel que sempre levo no bolso de trás da calça, e faço a anotação no papel sobre o celular a palma da mão, e ele que assim se torna uma mini-escrivaninha, a escrita sai legível e alinhada.
Mas às vezes a anotação é longa, idéia para alguma crônica, por exemplo. Então estou pensando em comprar um celular maior, mesmo que não caiba no bolso, pendurarei no pescoço.
Dalva diz que eu devo procurar um psicólogo. E eu nem sabia que já tem psicólogo especializado em celular . Vivendo e...Epa, ele tocou! Quem será? Só atendendo pra saber. Mas cadê o botão? ( Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINI, d.pellegrini@sercomtel.com.br , pág. 21, espaço DOMINGOS PELLEGRINI, publicado no JORNAL DE LONDRINA, domingo, 8 de março de 2015)
É um nenetrônico que precisa mamar na tomada todo dia.
Fala, fota, filma, , edita conecta e até dança, vibrando e deslizando encima da mesa.
Mas tem me servido para nada, pois, quando lembro de levar, está descarregado, ou, quando está carregado, esqueço de levar.
E já me deu vexame. Eu voltava da cidade, cansado do inferno do trânsito, parei num boteco pertinho de casa para aquela cerveja sem culpa.
Aí toca a musiquinha do celular, fui tirar do bolso, deixei cair, peguei, tentei atender, procurando botão, é só tocar, então toquei aqui e ali, e nada.
Notei que todos estavam me olhando, tinha virado um teatreco, teatro de boteco, todos esperando o tal escritor atender o celular.
O sujeito da mesa ao lado estendeu a mão: - Posso ajudar?
Dei o celular, o samaritano fuçou daqui-dali, até descobrir.
- Tá descarregado, tio, - assim me botando no devido lugar, um velho antiquado e distraído.
Perguntei como podia estar descarregado se tinha tocado. Então tocou de novo, e ele atendeu o celular dele, com musiquinha igual a do meu. O meu não tinha tocado.
Tomei a cerveja, cheguei em casa, botei o danado na tomada e fui tomar banho, aí ele tocou. Me enxuguei depressa, atendi, era a telefônica querendo me vender não sei o que. Acho que ele é programado pela telefônica para tocar sempre que estou almoçando ou tomando banho.
Mas celular é bom, é muito bom – para ser esquecido mais que guarda-chuva.
Já esqueci no banco, no açougue, na farmácia e no supermercado, até aprender que ele não pode andar na mão, tem de andar no bolso.
Então ando com a carteira num bolso, no outro o celular , parecendo aqueles peões que, nos anos 50, depois de meses derrubando mata, desembarcavam na rodoviária com maços de dinheiro tão grossos, nos bolsos, que os vigaristas viam de longe e iam atrás.
Mas fomos viajar e Dalva acionou o GPS do celular, que maravilha! Sair daqui e chegar lá onde for, com um mapinha em tempo real te indicando o caminho, uma voz te prevenindo onde virar que saída pegar na rótula, eteceteretrans, cheguei a beijar o celular.
Mas os planos de entrar no Facebook , motivo pelo qual comprei o danado, esqueci. Simplesmente não tenho paciência para ficar falando de mim, postando banalidades e recebendo em troca trivialidades.
Dalva diz que há um mundo por descobrir no celular se eu tiver um pouco de paciência e um mínimo de interesse. Então acho que nada tenho de paciência e interesse nenhum, pois continuo só recebendo e fazendo chamadas, para tão pouca gente a quem dei o número, que fico pensando porque tenho celular afinal.
Mas bati umas fotos. Estão não sei onde dentro do Pretinho, como passei a chamar o celular, Espero que nenhuma sociedade de defesa dos direitos humanos me processe por e-racismo.
E descobri que ele é bom mesmo para anotar as idéias que me vem. Lembro de alguma coisa, pego o papel que sempre levo no bolso de trás da calça, e faço a anotação no papel sobre o celular a palma da mão, e ele que assim se torna uma mini-escrivaninha, a escrita sai legível e alinhada.
Mas às vezes a anotação é longa, idéia para alguma crônica, por exemplo. Então estou pensando em comprar um celular maior, mesmo que não caiba no bolso, pendurarei no pescoço.
Dalva diz que eu devo procurar um psicólogo. E eu nem sabia que já tem psicólogo especializado em celular . Vivendo e...Epa, ele tocou! Quem será? Só atendendo pra saber. Mas cadê o botão? ( Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINI, d.pellegrini@sercomtel.com.br , pág. 21, espaço DOMINGOS PELLEGRINI, publicado no JORNAL DE LONDRINA, domingo, 8 de março de 2015)
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