sábado, 28 de março de 2015

LEMBRANÇAS DA RUA TRAPICHEIRO



   Minha vó sempre conta com alegria sobre a infância dela na casa da família na Rua Trapicheiro no bairro do Carrão, zona leste de São Paulo. Ela diz que a nonna – que teve 12 filhos e perdeu alguns  ainda crianças – era uma cozinheira de mão cheia. E tinha mesmo que ser porque precisava alimentar a filharada, quatro meninos e quatro meninas, com o pouco que conseguia comprar na venda do bairro. Às vezes ela precisava apelar para o fiado, mas quase sempre tinha na mesa e macarronada preparada pela matriarca com as próprias mãos. E o cuscuz que até hoje é lembrado pelas netas e reproduzido pela minha avó.
   Italiana, a nonna mudou-se para o Brasil já adolescente, acompanhando o pai. Eram só os dois. A vó conta que os padrinhos dela a colocaram no navio sem que ela soubesse que faria a viagem  e quando ela se deu conta, estava atravessando o oceano rumo a terras desconhecidas.
   Chegando aqui, no começo do século passado, com os pertences guardados em baús, o bisnonno e a filha foram trabalhar numa fazenda de café no interior paulista. A filha, linda como ela só, chamava a atenção da homarada, então o pai teve que fugir do campo para proteger a honra da filha.
   Na capital paulista, a nonna já adulta, foi trabalhar de cozinheira na casa  de um rico português que morava em uma mansão na Avenida Paulista. Seus dotes culinários eram tão admirados – e sua beleza e educação também -, que o patrão resolveu buscar um irmão fanfarrão que morava em Portugal para casar-se com a italiana.
   Pois no início ela não queria saber do gajo, que só gostava de curtição, mas acabou se rendendo e partindo com ele para a zona leste da cidade que não era nem sombra da metrópole que é hoje.
   O quintal da família ítalo-portuguesa era enorme e no início abrigava apenas a casa grande – mas que não era nenhuma mansão  -, onde pais e filhos dividiam poucas camas na hora de dormir. Minha vó lembra que dormia virada para os pés de uma das irmãs. Como tinham pouca diferença de idade, dividiam ainda roupas sapatos e brinquedos, que eram escassos.
   E a vó conta que além da horta com ervas e verduras, a nonna costumava criar porcos no quintal. Ela mesma os matava e conservava em grandes latões cheios de banha. Era como se eles morassem num sítio no meio da cidade. E eu só fico imaginando como seria o cheirinho do tempero  do arroz e feijão da minha bisavó e da carne com batatas que minha vó aprendeu a fazer com ela e que me faz salivar  só de lembrar do gosto.
   Os anos se passaram e o terreno abrigou as famílias de alguns dos  filhos casados. Minha mãe foi uma das netas que nasceram naquele quintal  da Rua Trapicheiro.
   Não conheci o vovô português e minha nonna  morreu quando eu tinha dez anos. Não lembro muito dela, só dos  seus  cabelos brancos. Mas lembro que aquela casa  antiga onde vez ou outra eu a visitava era enorme e tinha uma fachada linda. Na minha época, o pátio era todo cimentado e ficava difícil imaginar porcos fuçando por ali. Mas prefiro ficar com as histórias da vó, que sempre derrama  uma lágrima de saudade quando fala da sua infância dura, mas carinhosa (Texto escrito por MARIANA GUERIN, jornalista na FOLHA, extraído da página 2, espaço  DEDO DE PROSA,  do caderno FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 28 de março de 2015).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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