Ninguém percebeu quando, no começo da manhã, o urutau pousou
silenciosamente no galho seco de uma árvore, num pesque e pague da cidade de
Jataizinho, às margens do rio Tibagi. Ali permaneceu por várias horas e teria
passado despercebido naquele dia de
verão, se o meu sobrinho Caio não me dissesse ter visto um galho se mover numa
árvore, ao lado do nosso ponto de pesca.
Mas isso se deu no final da tarde, em torno das dezoito horas, creio que
num momento em que o pássaro trocou de lugar ao se acomodar devido a posição do
sol, para depois ficar estático camuflando-se de modo a parecer, à primeira vista, uma autêntica extensão do
galho.
De início não dei muita atenção às palavras de meu sobrinho, pois como qualquer adolescente ligado em tecnologia ele estava mais concentrado no celular do que na pescaria, que naquela tarde não estava dando resultado. Fazia duas horas que estávamos tentando pegar alguns peixes e, a exemplo da maioria dos pescadores, continuávamos com os puçás vazios, com exceção de um casal de idosos japoneses que já havia fisgado muitas tilápias.
Disse ao Caio que os japoneses conseguem pegar mais peixes porque têm uma isca que os outros pescadores não possuem: paciência. Foi nesse momento que, olhando meio sem querer para o alto, acabei vendo o urutau: impassível, imponente, maravilhoso . Fiquei mais de meia hora com o coração acelerado apreciando a descoberta e só depois indaguei o achado para o Caio , pedindo que não contasse aos outros.
Mas meu plano não deu certo porque ele, correndo para debaixo da árvore, passou a registrar o fato no seu celular e em seguida várias pessoas largaram a pescaria para admirarem o pássaro, É claro que muita gente não conseguia visualizá-lo, mas aqueles que o faziam ficavam eufóricos e, gritando, atraíam mais e mais curiosos.
Pipocaram flashes de máquinas fotográficas e celulares , mas a estrela da tarde continuava do mesmo jeito: sossegada, soberana, belíssima. Um homem querendo apontar o pássaro aos filhos bateu a vara de pesca no galho e ainda assim o urutau permaneceu imóvel, inabalável. Falei para as pessoas ao meu redor que o urutau tem hábitos noturnos, se alimenta de insetos, répteis e pequenos animais, podendo ficar vários dias parado no mesmo lugar porque tem um terceiro olho em cima da cabeça que fica espiando tudo a sua volta.
Ouvindo aquilo uma mulher puxou os filhos para perto de si, dizendo que a ave é conhecida como a mãe da lua e traz maus presságios. Outro senhor disse que fora criado na roça e desde pequeno ouvia as pessoas mais velhas contarem que se tratava do pássaro fantasma, um bicho de mau agouro, e quem o assustasse ou o fazia abrir os olhos teria uma desgraça na família.
Fiquei contente quando o gerente comunicou que todos deveriam ir embora porque o pesqueiro fecharia às vinte horas, mas minha alegria foi ainda maior quando soube que no dia seguinte muita gente compareceu para ver a novidade, mas o urutau não estava mais naquele lugar. ( Texto escrito por GERSON ANTONIO MELATTI, extraído do espaço Dedo de Prosa, página 2, FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 7 de março de 2015)
De início não dei muita atenção às palavras de meu sobrinho, pois como qualquer adolescente ligado em tecnologia ele estava mais concentrado no celular do que na pescaria, que naquela tarde não estava dando resultado. Fazia duas horas que estávamos tentando pegar alguns peixes e, a exemplo da maioria dos pescadores, continuávamos com os puçás vazios, com exceção de um casal de idosos japoneses que já havia fisgado muitas tilápias.
Disse ao Caio que os japoneses conseguem pegar mais peixes porque têm uma isca que os outros pescadores não possuem: paciência. Foi nesse momento que, olhando meio sem querer para o alto, acabei vendo o urutau: impassível, imponente, maravilhoso . Fiquei mais de meia hora com o coração acelerado apreciando a descoberta e só depois indaguei o achado para o Caio , pedindo que não contasse aos outros.
Mas meu plano não deu certo porque ele, correndo para debaixo da árvore, passou a registrar o fato no seu celular e em seguida várias pessoas largaram a pescaria para admirarem o pássaro, É claro que muita gente não conseguia visualizá-lo, mas aqueles que o faziam ficavam eufóricos e, gritando, atraíam mais e mais curiosos.
Pipocaram flashes de máquinas fotográficas e celulares , mas a estrela da tarde continuava do mesmo jeito: sossegada, soberana, belíssima. Um homem querendo apontar o pássaro aos filhos bateu a vara de pesca no galho e ainda assim o urutau permaneceu imóvel, inabalável. Falei para as pessoas ao meu redor que o urutau tem hábitos noturnos, se alimenta de insetos, répteis e pequenos animais, podendo ficar vários dias parado no mesmo lugar porque tem um terceiro olho em cima da cabeça que fica espiando tudo a sua volta.
Ouvindo aquilo uma mulher puxou os filhos para perto de si, dizendo que a ave é conhecida como a mãe da lua e traz maus presságios. Outro senhor disse que fora criado na roça e desde pequeno ouvia as pessoas mais velhas contarem que se tratava do pássaro fantasma, um bicho de mau agouro, e quem o assustasse ou o fazia abrir os olhos teria uma desgraça na família.
Fiquei contente quando o gerente comunicou que todos deveriam ir embora porque o pesqueiro fecharia às vinte horas, mas minha alegria foi ainda maior quando soube que no dia seguinte muita gente compareceu para ver a novidade, mas o urutau não estava mais naquele lugar. ( Texto escrito por GERSON ANTONIO MELATTI, extraído do espaço Dedo de Prosa, página 2, FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 7 de março de 2015)
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