Estudos reforçam teoria de 1990
de que o excesso de zelo por li,mpeza
está associado a um sistema imunológico menos preparado para proteger o corpo de bactérias inimigas.
Do álcool gel à comida
pasteurizada , dos antibióticos ao aspirador de pó, do sabonete bactericida aos
banhos diários: a verdade é que nunca estivemos tão limpos. O nosso estilo de
vida , que evita ao máximo o contato com micro-organismos que podem causar
doenças, está nos deixando cada vez mais imunes às ameaças do ambiente. Mas uma
delas, em especial, tem traçado o caminho inverso.
Com uma prevalência cada vez maior na
população mundial, a alergia – em suas mais variadas formas – é hoje
considerada a doença da vida moderna. Nos Estados Unidos, ocupa o quinto lugar
no ranking de doenças crônicas. No Brasil, estima-se que, nas últimas décadas, o número de alérgicos tenha aumentado 50%. A
estimativa mundial é de que uma em cada três pessoas sofra algum tipo de reação
alérgica – um número muito maior que o da época de nossos avós. E essa incidência, preveem os especialistas, pode chegar a alcançar metade da população
mundial nos próximos 10 anos.
“Há cerca de quatro décadas, as
doenças alérgicas deixaram de ser condições até certo ponto raras, atingindo,
nos dias atuais, proporção epidêmica, o
que as têm levado a ser consideradas um problema sério de saúde pública –
explica o alergista e imunologista Giovanni
Marcelo Di Gesus, do Hospital Santa Casa de Porto Alegre.
Muitas teorias surgiram ao longo dos
últimos anos par explicar o curioso fenômeno, mas cientistas acreditam que
agora estão no caminho certo para desvendar a origem do mistério.
DEFESAS CONFUSAS
Todos somos cobertos por
bactérias da cabeça aos pés, por dentro e por fora do campo. Elas se alojam em
nossa pele, cobrem olhos e bocas e se multiplicam em nossos órgãos, excedendo
em muito, o número de nossas próprias células. Ainda que algumas sejam nocivas
para o organismo, grande parte delas não
só ajuda, como é fundamental para ao aprimoramento do nosso sistema
imunológico.
Para muitos pesquisadores, o estilo de vida moderno, tão asséptico, diminui nossa exposição a muitos micro-organismos, impedindo o nosso corpo de aprender, corretamente, quem são os verdadeiros inimigos a combater. Isso causa uma confusão nas nossas células de defesa, que podem passar a reagir violentamente (na forma de uma alergia) a coisas que não nos causam mal, como um amendoim, uma flor ou até mesmo o pó.
Chamada de “hipótese da higiene”, essa teoria já existe há algum tempo e ainda causa alguma controvérsia no meio acadêmico, mas estudos recentes têm se unido a uma gama de pesquisas que convergem nos resultados. ( JACQUELINE SORDI ( RBS )
Para muitos pesquisadores, o estilo de vida moderno, tão asséptico, diminui nossa exposição a muitos micro-organismos, impedindo o nosso corpo de aprender, corretamente, quem são os verdadeiros inimigos a combater. Isso causa uma confusão nas nossas células de defesa, que podem passar a reagir violentamente (na forma de uma alergia) a coisas que não nos causam mal, como um amendoim, uma flor ou até mesmo o pó.
Chamada de “hipótese da higiene”, essa teoria já existe há algum tempo e ainda causa alguma controvérsia no meio acadêmico, mas estudos recentes têm se unido a uma gama de pesquisas que convergem nos resultados. ( JACQUELINE SORDI ( RBS )
Monitoramento
SEM BACTÉRIAS, SEM DEFESAS
Um dos últimos estudos sobre
alergias foi conduzido pela Universidade de Helsinque, na Finlândia. Para
demonstrar que a falta de contato com a natureza poderia estar contribuindo com
o aumento do número de pessoas asmáticas, alérgicas e portadoras de outras
doenças
inflamatórias, pesquisadores monitoraram os hábitos de vida de 118
adolescentes no leste do país. Como resultado, encontraram que aqueles que viviam em regiões
mais verdes, como fazendas ou próximos de florestas, tinham maior diversidade
bacteriana na pele e menor sensibilidade a alérgenos do que adolescentes que
viviam em áreas urbanas. As conclusões, publicas na revista científica
Proceedings of the National Academy os Scienses
( PNAS ), somam-se a diversas pesquisas que seguem a mesma linha . “Já
se sabe que o fato de não apresentarmos infecções tão freqüentes, como
antigamente leva nosso sistema imunológico a não desenvolver células reguladoras,
que inibem tanto as alergias como as doenças autoimunes. Essas reações que
observamos hoje, são manifestações de um sistema desregulado, menos tolerantes
a fatores externos – complementa o alergista Momtchilo Russo, consultor da
Sociedade Brasileira de Imunologia.
IMUNE
PARTO CESÁREA NA MIRA DA PESQUISA
Para deixar o sistema de defesa do corpo mais esperto – ou, como dizem
os especialistas, melhor regulado – não só os primeiros anos, mas os primeiros
minutos de vida são fundamentais. Pesquisas recentes indicaram que o aumento no
número de cesáreas pode estar
contribuindo , e muito, para a maior incidência de alergias. Isso porque as
crianças que nascem de parto normal entram em contato com as bactérias
presentes no canal vaginal, que são importantes para fortalecer o sistema
imunológico e ser a primeira proteção contra as alergias. Foi o que demonstrou
uma pesquisa publicada neste ano na revista científica Cell Host & Microbe,
que analisou amostras de fezes de 98 bebês suecos durante seu primeiro ano de
vida. As crianças nascidas por cesarianas tinham bactérias intestinais menos
parecidas com as de suas mães do que os nascidos por via vaginal. “Aquelas
bactérias que inicialmente colonizaram o intestino e ajudam a regular o sistema
de defesa da criança são derivadas da mãe. A forma como nascemos e como nos
alimentamos nos primeiros anos de vida vai determinar o nosso microbioma, ou
seja, as bactérias com as quais conviveremos ao longo da vida”, explica o
alergista e imunologista Giovanni Marcelo di Gesu. ( Página 7, publicação do
JORNAL DE LONDRINA, segunda-feira, 22 de
junho de 2015).
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