O Brasil não anda cheirando
bem. A polêmica em torno de uma propaganda do O Boticário mostrou a face mais
conservadora e perversa do país. Um
anúncio absolutamente sutil que mostra casais gays provocou uma onda de
críticas a partir de segmentos religiosos cujos nomes das lideranças é melhor
nem citar. Qualquer pessoa sensível que
acompanhar comentários em sites e redes sociais sobre este fato ficará chocada
com o nível das observações dos que criticam as relações homoafetivas. Muitos
ultrapassam osl limites da discordância e chegam à grosseria. Não sei o que
acontece no país hoje, peço aos sociólogos , psicanalistas psicólogos ou
qualquer especialista versado nas relações humanas, que se ocupem do panorama
nacional para explicar o que está acontecendo que determina essa marcha ré nos
costumes.
Como já observei, a propaganda que gerou polêmica é de uma sutileza ímpar. Mostra casais heteros e homos se abraçando, trocando presentes, em atitudes absolutamente normais que em nada remetem a qualquer tipo de provocação. São pessoas que se amam, independentemente dos gêneros, e que hoje conhecemos às dezenas. Estão nas ruas, no nosso ambiente de trabalho, nos círculos de nossas amizades. Os gays são cidadãos como os outros, e me sinto até constrangida em ter de explicar isso aqui Mas vamos lá: eles amam, trabalham, pagam impostos, compram e vendem, merecem todo respeito. Então, porque não podem aparecer em anúncios? Será que voltamos à era vitoriana, recendendo a pudores, querendo limitar as pessoas diferentes a seus “cercadinhos”?
No Brasil muitos dizem que não têm preconceitos, nem contra gays nem contra negros, por exemplo, mas a ressalva surge quando aparecem em novelas, em propagandas, enfim, há um moralismo velado que propõe o respeito às diferenças, desde que os diferentes fiquem em “seu lugar”, não é mesmo?
Não bastasse o ranço de uma discriminação secular, segmentos religiosos na atualidade apostam no retrocesso para aumentar seus rebanhos. As ovelhas os seguem, porque há em pessoas com dificuldades de sentirem-se seguras por si próprias uma tendência em acompanhar quem lhes dá “abrigo”, quem lhes apresenta respostas para todos os seus problemas, para quem lhes promete a vitória nesta ou em outra vida, e a repressão faz parte dessa composição de felicidade programada, da felicidade que existe desde que você os siga. Desconfiem de lobos em peles de ovelhas. Os bons de fato não enriquecem à custa dos outros, nem ficam espiando atrás das cortinas para ver se o vizinho tem algum “pecado”.
Mas o que chama bastante a atenção é o motivo de nos depararmos com este retrocesso neste momento histórico. Propagandas que buscam a reflexão – em vez de simplesmente mostrarem o universo de pessoas brancas , heteros-sexuais, rosadas e algumas vezes irreais – existem há décadas. Nos aos 1970 e 80, teoricamente muito mais repressivos do que hoje, marcas como a Benetton já investiam na publicidade crítica mostrando casais gays e relacionamentos entre negros e brancos. Investia, até mesmo, nas críticas à repressão religiosa e temas candentes como o horror à Aids. Havia reações sim, mas lá se vão 30, 40 anos desde que as pessoas se chocavam com o que, afinal, não passa de realidade, preferindo um pacote de faz-de-conta.
O que leva pessoas, em pleno século 21, empreenderem campanhas contra marcas que ousam contemplar a diversidade? No caso em questão, fazem abaixo-assinados, exigem boicotes aos produtos, enfim, puseram em curso uma “cruzada santa” contra uma marca de cosméticos. Que bobagem.
Enquanto não me respondem sobre a razão de tudo isso, gostaria de lembrar que as propagandas mexem com o imaginário e, neste sentido, as empresas prestam um grande serviço quando tocam em tabus, isso tem um efeito maior do que o de muitas cartilhas, porque está inserido no cotidiano, não tem o caráter sisudo de aulas sobre a sexualidade, embora muitos ainda precisem delas. O anúncio em questão é absolutamente sutil, não mostra sequer um beijo, embora expresse o amor, até por isso, a malícia fica mesmo por conta da fantasia dos reprimidos. Por favor, prestem mais atenção: onde está mesmo o “pecado”? Acho que em algumas cabeças. ( Texto escrito por CÉLIA MUSILLI celiamusilli@terra.com.br página 4. FOLHA 2, espaço CÉLIA MUSILLI, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 7 de junho de 2015).
Como já observei, a propaganda que gerou polêmica é de uma sutileza ímpar. Mostra casais heteros e homos se abraçando, trocando presentes, em atitudes absolutamente normais que em nada remetem a qualquer tipo de provocação. São pessoas que se amam, independentemente dos gêneros, e que hoje conhecemos às dezenas. Estão nas ruas, no nosso ambiente de trabalho, nos círculos de nossas amizades. Os gays são cidadãos como os outros, e me sinto até constrangida em ter de explicar isso aqui Mas vamos lá: eles amam, trabalham, pagam impostos, compram e vendem, merecem todo respeito. Então, porque não podem aparecer em anúncios? Será que voltamos à era vitoriana, recendendo a pudores, querendo limitar as pessoas diferentes a seus “cercadinhos”?
No Brasil muitos dizem que não têm preconceitos, nem contra gays nem contra negros, por exemplo, mas a ressalva surge quando aparecem em novelas, em propagandas, enfim, há um moralismo velado que propõe o respeito às diferenças, desde que os diferentes fiquem em “seu lugar”, não é mesmo?
Não bastasse o ranço de uma discriminação secular, segmentos religiosos na atualidade apostam no retrocesso para aumentar seus rebanhos. As ovelhas os seguem, porque há em pessoas com dificuldades de sentirem-se seguras por si próprias uma tendência em acompanhar quem lhes dá “abrigo”, quem lhes apresenta respostas para todos os seus problemas, para quem lhes promete a vitória nesta ou em outra vida, e a repressão faz parte dessa composição de felicidade programada, da felicidade que existe desde que você os siga. Desconfiem de lobos em peles de ovelhas. Os bons de fato não enriquecem à custa dos outros, nem ficam espiando atrás das cortinas para ver se o vizinho tem algum “pecado”.
Mas o que chama bastante a atenção é o motivo de nos depararmos com este retrocesso neste momento histórico. Propagandas que buscam a reflexão – em vez de simplesmente mostrarem o universo de pessoas brancas , heteros-sexuais, rosadas e algumas vezes irreais – existem há décadas. Nos aos 1970 e 80, teoricamente muito mais repressivos do que hoje, marcas como a Benetton já investiam na publicidade crítica mostrando casais gays e relacionamentos entre negros e brancos. Investia, até mesmo, nas críticas à repressão religiosa e temas candentes como o horror à Aids. Havia reações sim, mas lá se vão 30, 40 anos desde que as pessoas se chocavam com o que, afinal, não passa de realidade, preferindo um pacote de faz-de-conta.
O que leva pessoas, em pleno século 21, empreenderem campanhas contra marcas que ousam contemplar a diversidade? No caso em questão, fazem abaixo-assinados, exigem boicotes aos produtos, enfim, puseram em curso uma “cruzada santa” contra uma marca de cosméticos. Que bobagem.
Enquanto não me respondem sobre a razão de tudo isso, gostaria de lembrar que as propagandas mexem com o imaginário e, neste sentido, as empresas prestam um grande serviço quando tocam em tabus, isso tem um efeito maior do que o de muitas cartilhas, porque está inserido no cotidiano, não tem o caráter sisudo de aulas sobre a sexualidade, embora muitos ainda precisem delas. O anúncio em questão é absolutamente sutil, não mostra sequer um beijo, embora expresse o amor, até por isso, a malícia fica mesmo por conta da fantasia dos reprimidos. Por favor, prestem mais atenção: onde está mesmo o “pecado”? Acho que em algumas cabeças. ( Texto escrito por CÉLIA MUSILLI celiamusilli@terra.com.br página 4. FOLHA 2, espaço CÉLIA MUSILLI, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 7 de junho de 2015).
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