Sempre que vejo pais
preocupados em enfeitar os pratos para dar aos seus filhos uma alimentação
saudável, me vem à lembrança o tempo de infância, passado no sítio. Tudo
começou em 1922 com a vinda dos meus avós
da Itália. Meu pai era uma criança de oito anos quando a família desembarcou no
porto de Santos e instalou-se em Nova
Dantzig, antigo nome de Cambé. No início, a família trabalhou no ramo de
serralheria e depois de muitos anos de esforço e economia, pode comprar um sítio
na Gleba Ribeirão Vermelho, na região de Rolândia. O sítio Santo Antônio tinha
20 alqueires e acabou sendo tocado pelo meu pai e meus tios, que plantavam
café, arroz, milho e feijão. Outras culturas como mandioca, batata doce e cana
eram produzidas conforme necessidade de sustento e pode-se dizer que em certas épocas havia
fartura, pois jiló, quiabo, moranga e e diversas espécies de abóboras eram
abundantes. Na horta, sempre se colhia cebolinha, couve, salsa, cenoura, rabanete,
almeirão, batata e cará. Inhame e taioba brotavam na beira do brejo enquanto os
pés de chuchu cresciam nos barrancos e iam se esparramando pelas cercas e
arbustos. Sempre se achava uma fruta conforme a estação: melancia, laranja,
pêssego, maracujá, jabuticaba, abacate, manga, goiaba, banana, mamão. Ovos eram
alimentos diários e nunca faltava galinha assada, maionese e macarronada nos
almoços de domingo. Os poucos produtos que se compravam na venda era o sal, o
açúcar e o querosene.
Mas o que me dava mais alegria era observar minha mãe preparar o almoço para eu levar na roça onde meu pai e meus tios trabalhavam diariamente. Excelente cozinheira, por volta das nove horas da manhã ela preparava a comida e meia hora depois os homens estavam esperando para comer. Eu levava os caldeirãozinhos envoltos em panos de pratos, amarrados por cima junto com a colher.
Embora fossem iguais, cada trabalhador de longe sabia qual era o seu. Não era preciso falar nada e cada qual ia pegando o seu. Eles sentavam no chão ou em troncos de árvores. Primeiro papai dobrava o joelho sobre a terra, fazia o sinal da cruz e rezava um breve agradecimento. Depois, sentado no chão, enrolava suavemente o pano de prato e tirava a tampa do caldeirão, mas não comia de imediato. Olhava para a comida e para o céu. Olhava para o céu e para a comida, como que agradecendo novamente por receber aquele alimento. Só então começava a comer, bem devagar, saboreando cada pedaço, cada grão de alimento produzido naquela abençoada terra roxa. Colocava uma colherada na boca e ficava olhando qualquer ponto distante na roça, pensando. Eu ficava ali, de cócoras, quieta, parada, olhando ele comer e ficava sonhando com o dia em que eu poderia comer daquele jeito.
Comer no caldeirãozinho é um ritual, que somente aqueles que viveram no sítio conhecem. A comida era retirada no sentido vertical, para poder pegarr um pouco de cada ingrediente: o feijão que ficava no fundo , o arroz no meio e partes da mistura e dos legumes refogados que fica vam por cima. Pedaços de carne ou de frango eram os últimos a serem degustados, porque não era todo dia que faziam parte da boia.
Depois de comer, ele bebia uma caneca d’água ou de limonada e, se tivesse, chupava uma laranja ou manga, depois começava a tirar um breve descanso. Embora tivesse uma enorme vontade de comer no caldeirão, eu voltava feliz, pois sabia que a mamãe já me esperava com o almoço servido, não sem antes pedir paa eu arriar os calderãozinhos e pendurá-los no paneleiro, deixando-os pronto para a lida do dia seguinte. ( Texto escrito por MARIA DE LOURDES PIVETTA e GERSON ANTONIO MELATTI, leitores da FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 20 de junho de 2015).
Mas o que me dava mais alegria era observar minha mãe preparar o almoço para eu levar na roça onde meu pai e meus tios trabalhavam diariamente. Excelente cozinheira, por volta das nove horas da manhã ela preparava a comida e meia hora depois os homens estavam esperando para comer. Eu levava os caldeirãozinhos envoltos em panos de pratos, amarrados por cima junto com a colher.
Embora fossem iguais, cada trabalhador de longe sabia qual era o seu. Não era preciso falar nada e cada qual ia pegando o seu. Eles sentavam no chão ou em troncos de árvores. Primeiro papai dobrava o joelho sobre a terra, fazia o sinal da cruz e rezava um breve agradecimento. Depois, sentado no chão, enrolava suavemente o pano de prato e tirava a tampa do caldeirão, mas não comia de imediato. Olhava para a comida e para o céu. Olhava para o céu e para a comida, como que agradecendo novamente por receber aquele alimento. Só então começava a comer, bem devagar, saboreando cada pedaço, cada grão de alimento produzido naquela abençoada terra roxa. Colocava uma colherada na boca e ficava olhando qualquer ponto distante na roça, pensando. Eu ficava ali, de cócoras, quieta, parada, olhando ele comer e ficava sonhando com o dia em que eu poderia comer daquele jeito.
Comer no caldeirãozinho é um ritual, que somente aqueles que viveram no sítio conhecem. A comida era retirada no sentido vertical, para poder pegarr um pouco de cada ingrediente: o feijão que ficava no fundo , o arroz no meio e partes da mistura e dos legumes refogados que fica vam por cima. Pedaços de carne ou de frango eram os últimos a serem degustados, porque não era todo dia que faziam parte da boia.
Depois de comer, ele bebia uma caneca d’água ou de limonada e, se tivesse, chupava uma laranja ou manga, depois começava a tirar um breve descanso. Embora tivesse uma enorme vontade de comer no caldeirão, eu voltava feliz, pois sabia que a mamãe já me esperava com o almoço servido, não sem antes pedir paa eu arriar os calderãozinhos e pendurá-los no paneleiro, deixando-os pronto para a lida do dia seguinte. ( Texto escrito por MARIA DE LOURDES PIVETTA e GERSON ANTONIO MELATTI, leitores da FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 20 de junho de 2015).
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