Quando eu era criança ia cortar o cabelo
com meu pai na barbearia. Era um momento em que a gente passeava e conversava.
Enquanto a gente esperava no banco da barbearia,
meu pai conversava com um ou outro amigo
e o barbeiro, com a tesoura tectectec,
batia o maior papo. Era sobre futebol, política, lavoura, o que havia
saído na Folha de Londrina e o assunto não acabava nunca, enquanto o rádio
tocava alguma música de sucesso.
. Enquanto isso, um ou outro pai também trazia
o filho para cortar o cabelo. Era garotinho que chorava até não poder mais
quando chegava sua vez. O barbeiro colocava uma pequena tábua almofadada na
cadeira de barbeiro e logo começava a tiquetaquear a tesoura sobre a cabeça do
incauto freguesinho. Às vezes, uns menininhos já começavam chorando. Outras
vezes, choravam quando começava a cortar o cabelo. Em outras, os pobrezinhos só percebiam a
tesoura depois de algum tempo, lá pelo meio do corte. Alguns berravam. E ainda,
havia aqueles que nem se sentavam na tabuinha da cadeira. Era um Deus nos acuda
e se o pai não fosse firme os cabelos dos rebeldes ficavam no mesmo ninho de
guacho de quando haviam chegado. Não sei por que algumas crianças tinham tanto
medo de cortar o cabelo.
Enfim depois de tantos outros, quando a
barbearia estava cheia, chegava minha vez. Sentava na cadeira com a tabuinha e
o barbeiro vinha com uma capa para me proteger dos cabelos que seriam cortados.
Era uma sensação esquisita ficar com os braços debaixo daquilo e não poder nem
coçar a ponta do nariz. E isso me incomodava. Ia me dando um comichão de coçar o nariz. Toda vez era a mesma coisa.
E era acabar de pôr a capa e dar a coceira no nariz. Mas seo Domingos era
esperto e dizia: - Tá com coceira no nariz, não é mesmo? E dava uma coçadinha
na ponta do meu nariz. E lá ia ele com a tesourinha tectectec e quando eu via
já tinha terminado de cortar o cabelo. Depois era a vez de meu pai. Eu ia só
escutando. Assunto tinha para o dia todo. E a freguesia sempre vinha, parece
que nunca acabava de entrar gente naquela barbearia.
Hoje por comodidade e falta de tempo corto
o cabelo perto de casa e sempre que a cabeleireira coloca aquela capa para cair
os já não tantos cabelos, lembro de quando era criança e do saudoso
tectectec da tesourinha. Bons tempos em que a gente cortava o cabelo sempre no
mesmo lugar e que cortar o cabelo não era só aparar a cabeleira, mas visitar
amigos. ( Texto escrito por DAILTON
MARTINS – comerciante em Londrina (PR), publicado no espaço CRÔNFICA, da Folha 2 da FOLHA DE LONDRINA, quarta
feira, 20 de Agosto de 2014.)
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