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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O BARBEIRO


     Quando eu era criança ia cortar o cabelo com meu pai na barbearia. Era um momento em que a gente passeava e conversava.
     Enquanto a gente esperava no banco da barbearia, meu pai conversava com um ou  outro amigo e o barbeiro, com a tesoura tectectec,  batia o maior papo. Era sobre futebol, política, lavoura, o que havia saído na Folha de Londrina e o assunto não acabava nunca, enquanto o rádio tocava alguma música de sucesso.
 .   Enquanto isso, um ou outro pai também trazia o filho para cortar o cabelo. Era garotinho que chorava até não poder mais quando chegava sua vez. O barbeiro colocava uma pequena tábua almofadada na cadeira de barbeiro e logo começava a  tiquetaquear a tesoura sobre a cabeça do incauto freguesinho. Às vezes, uns menininhos já começavam chorando. Outras vezes, choravam quando começava a cortar o cabelo.  Em outras, os pobrezinhos só percebiam a tesoura depois de algum tempo, lá pelo meio do corte. Alguns berravam. E ainda, havia aqueles que nem se sentavam na tabuinha da cadeira. Era um Deus nos acuda e se o pai não fosse firme os cabelos dos rebeldes ficavam no mesmo ninho de guacho de quando haviam chegado. Não sei por que algumas crianças tinham tanto medo de cortar o cabelo.
     Enfim depois de tantos outros, quando a barbearia estava cheia, chegava minha vez. Sentava na cadeira com a tabuinha e o barbeiro vinha com uma capa para me proteger dos cabelos que seriam cortados. Era uma sensação esquisita ficar com os braços debaixo daquilo e não poder nem coçar a ponta do nariz. E isso me incomodava. Ia me dando um  comichão  de coçar o nariz. Toda vez era a mesma coisa. E era acabar de pôr a capa e dar a coceira no nariz. Mas seo Domingos era esperto e dizia: - Tá com coceira no nariz, não é mesmo? E dava uma coçadinha na ponta do meu nariz. E lá ia ele com a tesourinha tectectec e quando eu via já tinha terminado de cortar o cabelo. Depois era a vez de meu pai. Eu ia só escutando. Assunto tinha para o dia todo. E a freguesia sempre vinha, parece que nunca acabava de entrar gente naquela barbearia.

     Hoje por comodidade e falta de tempo corto o cabelo perto de casa e sempre que a cabeleireira coloca aquela capa para cair os já não tantos  cabelos,  lembro de quando era criança e do saudoso tectectec da tesourinha. Bons tempos em que a gente cortava o cabelo sempre no mesmo lugar e que cortar o cabelo não era só aparar a cabeleira, mas visitar amigos.     ( Texto escrito por DAILTON MARTINS – comerciante em Londrina (PR), publicado no espaço CRÔNFICA,  da Folha 2 da FOLHA DE LONDRINA, quarta feira, 20 de Agosto de 2014.)

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