No último fim de semana, a divulgação do grupo com o qual a Seleção Brasileira irá jogar na primeira etapa da Copa na Rússia, em 2018, trouxe à memória os preparativos para a Copa de 2014 no Brasil, sob uma enxurrada de protesto e com milhares de manifestantes na rua. A cena política contrária à realização de megaeventos se repetiria em 2016 com as Olimpíadas, dando a medida da insatisfação de parte da população com gastos excessivos ainda que os governos anunciassem com garbo os “legados” que deveriam beneficiar o país, desde a construção de estádios milionários a obras de mobilidade urbana, muitas delas inconclusas até hoje. Nada menos que nove estádios, dos doze construídos ou reformados, figuram nas delações da Lava Jato como objetos de propina. Os desvios renderam nada menos que R$ 120,9 milhões aos acusados, dentro de um cálculo ainda considerado modesto. Tendo isso em vista, a entrevista do técnico Tite, no último sábado, após a divulgação dos grupos que deverão se enfrentar na primeira fase da Copa da Rússia, soa como um desabafo, muito além do alento da Seleção ter pegado um grupo relativamente fácil. Ele disse: “O fim da impunidade da prisão para o corrupto, é muito maior que a Seleção Brasileira”.
A sua afirmação reverbera mais ainda quando se sabe que cartolas da CBF e da Fifa também acabaram presos com a boca na botija e a mão nos cofres. O fato é que a dobradinha política e futebol tem dado péssimos exemplos no território da ética. Ainda ressoam os descalabros financeiros no rio de Janeiro – com a corrosão dos recursos públicos – depois das gestões do governador Sérgio Cabral, hoje preso, e do prefeito Eduardo Paes, cuja administração também está sendo investigada. A declaração de Tite soa assim como um alerta para que os brasileiros não vislumbrem apenas os gols em campo, mas os gols que a nação deveria fazer na vida, na tentativa de alterar sua dura realidade para uma situação mais condizente com suas necessidades. Claro que todo mundo torce para o Brasil consagre sua fama de reunir em campo “os melhores do mundo”, mas craque mesmo é o país que dá conta de suas carências reverberando as declarações de Tite, como uma mensagem que sinaliza o fim da era dos malandros, tanto na política quanto no esporte. Coisa difícil de se acreditar mesmo após a passagem das maiores ondas do tsunami nacional porque sabemos que o naufrágio sobrou para a população, enquanto os protagonista da crise no campo político ainda nadam de braçadas não rumo à Copa, mas às eleições de 2018. E isso sim significa a repetição de um 7 a 1 muito mais traumático. (FONTE: OPINIÃO opinião@folhadelondrina, página 2, quarta-feira, 6 de dezembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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