"Eu não tenho mais família, os colegas de república agora são minha família", diz um dos moradores, de 52 anos" |
A casa, que completa dois meses de funcionamento em Londrina, abriga oito pessoas
A república de moradores em situação de rua de Londrina, completou dois meses de funcionamento no dia 12 de dezembro. Inaugurado para comportar até dez pessoas, o espaço atualmente abriga oito pessoas que tiveram acompanhamento no Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), e que conseguem ter controle sobre os remédios que auxiliam no vício em álcool e drogas.
“Existem três modelos de república; a de idosos, a de jovens, que são aqueles que saem da fase de abrigo de criança e adolescente, e essa, que é de moradores em situação de saída de rua, que já podem tomar os remédios, que conseguem ter autocontrole e podem, de alguma maneira, viver entre eles”, explica Josiane Nogueira, diretora de equipe de Assistência Social do Município. “O próximo projeto é a criação de república de jovens, que é a única que Londrina não possui em nenhum modelo”, acrescentou.
Segundo informações da secretaria de Assistência Social, 90% dos moradores de rua de Londrina são usuários de alguma substância psicoativa. O atendimento às pessoas nesta situação na cidade é feita por uma equipe multidisciplinar – de várias secretarias. Os moradores atendidos no Centro Pop recebem acompanhamento psicológico, além de participarem de campanhas promovidas por outras áreas.
“O morador de rua não é apenas da assistência social, ele é de todas as políticas. Eles são acompanhados por outras secretarias, como Saúde, Educação, Esporte. Temos alguns que estão cadastrados no Sine, outros que estão desenvolvendo oportunidades na Sema”, aponto a secretária de Assistência Social de Londrina, Nádia Oliveira.
A proposta da república em Londrina é de ter um espaço para fortalecer a convivência e os vínculos entre os residentes da casa. “A nossa maior preocupação é como eles iriam lidar com essa situação de liberdade. Todos já moraram na rua ou quando estava em situação de acolhimento sempre alguém fiscalizava. Aqui a ideia é que eles se organizem entre si, que se unam e dividam tarefas. No início aconteceram algumas brigas entre eles, mas hoje a convivência já é diferente”, afirmou Nogueira, uma das responsáveis pelo projeto.
Vivem na república oito pessoas, sendo sete homens e uma mulher, que é casada com um deles. Seis moradores moram em uma casa maior, que ocupa a parte da frente do terreno; já o casal reside em um imóvel no fundo da área. Eles confessam que não deixaram de bebere saem algumas vezes para não atrapalhar a rotina da casa, já que a utilização de substâncias é proibida no local
“Quando eu ficava lá fora eu bebia e às vezes não sabia onde eu estava me metendo, onde eu ia dormir. Aqui, depois de beber, posso deitar no meu canto que ninguém vai fazer nada comigo, todo mundo já se conhece. Eu estou numa casa e tenho pessoas que vão me amparar se eu cair no banheiro, por exemplo”, afirmou um dos moradores da república, de 52 anos. “Eu não tenho mais família, eles (os colegas de república) agora são minha família. Aqui a gente aprende de novo a cuidar do outro”, explicou, informou que morou um ano na rua depois e perder o emprego. “Fui despejado, rodei muito, fui para Umuarama, Cianorte, mas voltei para cá.
CENSO
Em janeiro de 2018 será realizado um censo de moradores em situação de rua em Londrina. Uma equipe de monitoramento e trabalho está sendo montada para levantar esses dados. Segundo informações disponibilizadas pela Prefeitura, em dezembro de 2016 foram atendidas 471 pessoas em situação de rua pelo Centro Pop.
De acordo com dados do IBGE divulgados em 2012, 82% de pessoas em situação de rua no Brasil são homens com idade entre 25 e 44 anos, sendo que 67% são pardos ou negros. Na mesma pesquisa, foram registrados 1,8 milhões de pessoas fazendo do espaço público sua moradia, quase 1% da população. (FONTE: MATHEUS CAMARGO – Reportagem Local, caderno FOLHA CIDADES, página 3, sexta-feira, 15 de dezembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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