Temos muito facilidade em contemplar a grandeza, a majestade e a divindade do Cristo. Nós confiamos em sua onipotência, onisciência e onipresença. Como é bom saber que Deus tudo pode, tudo conhece e está presente em todos os lugares, sempre pronto a nos abençoar, proteger e guiar! Assim, celebramos o Natal com muita fé e muita esperança, desejos de que sua Paz e seu Amor se irradiem em nós e em nossas famílias.
Por outro lado, temos dificuldade – e esta dificuldade ainda é grande – em reconhecer a pequenez, a humildade e a humanidade de Jesus. Ele assumiu uma vida simples, anônima, e se colocou ao lado dos últimos da sociedade. É bem verdade que o contemplamos no presépio, em meio a animais e pessoas simples como os pastores. Mas com certeza os traços divinos se sobrepõem ao limites humanos que, no caso, parecem mais um acidente histórico que um projeto do Pai.
Mais difícil ainda é aceitar que a Igreja, para ser fiel a Jesus, deve também fazer-se pobre, pequena, servidora e solidária. Ainda é desconcertante para muitas pessoas, inclusive do clero, que os teólogos desenvolvam uma teologia a partir de baixo, a partir dos pequenos, e que toma posição a favor dos mais sofridos e necessitados. É mais fácil acolher uma teologia que se ocupa dos atributos divinos que uma teologia que envereda pela verdadeira humanidade de Jesus. E longas têm sido as discussões nesse campo...
Mas Jesus, ao assumir a natureza humana na cane – e na carne concreta do pobre, do excluído, do sofredor – assuma o lugar dos últimos para que a vida possa ser, de fato, para todos. Somente a partir dos últimos o Reino de Deus pode, de fato, estender-se a todos. Assim, os últimos se tornam um “lugar teológico”, lugar a partir de onde podemos não apenas falar de Deus, mas lugar onde Deus se manifesta e onde Deus se deixa encontrar (cf.Mt 25,40).
Nesse sentido, o Natal escandaliza. Mostra Deus fazendo-se pobre, revela Deus que se faz pequeno, que se faz verdadeiramente humano e sofredor. E tudo isso, não por acidente, mas por desígnio divino. Jesus, ao assumir a plena humanidade em seus limites e em sua pobreza, faz com que os pobres e pequenos sejam confirmados como os preferidos do Reino.
Que nosso Natal nos ajude a descer ao encontro dos últimos, a busca uma sociedade onde haja lugar, vida, justiça, paz e esperança para todos. Que saibamos reconhecer a pessoa de Cristo nos pobres e sofredores. No reconhecimento da plena humanidade de Jesus está a força dos pequenos e o caminho da missão da Igreja no mundo. Que nós nos empenhemos por um Natal feliz para todos, a começar dos últimos.
E isso é pra começo de conversa. (FONTE: IR, DENILSON MARIANO, SDN, Dezembro 2017, olutador.org.br Gráfica e Editora O LUTADOR, Belo Horizonte, MG).
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