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EU SONHO roteirista de começo de filme, por exemplo: delegada federal acorda, assustada de ver onde está, medo nos olhos, vendo na tv que é procurada por ter sumido durante a Operação “Mãos Se Lavam”.
“A delegada” – gagueja apresentador centenário lendo telinha diante do nariz - !a delegada é suspeita de comandar quadrilha policial para embaralhar as investigações dos vícios entre os poderes públicos”, e a apresentadora, adolescente em cadeira de rodas, complementa: “Suspeita-se também que a delegada pode ter sido sequestrada ou morta por quadrilha que estaria investigando.”
Abre zoom e vê que o telejornal é parte de um programa de auditório, onde um palhaço grita: Essa delegada, meninas, será vilã ou heroína? – e a plateia responde em coro: - Ve-re-mos! Nosso drone, diz a apresentadora, conseguiu imagens ao vivo da delegada, e em telões aparece ela a se arrastar numa cemitério de automóveis que começa a ser metralhado, e ainda estamos só na metade dos letreiros: como falei: quero escrever só começo de filmes.
2
ENTÃO O CORAÇÃO dispara quando você acorda com barulho no terraço e, atenção, não foi folha de palmeira voando em ventania, nem foi vagem do flamboiã estralando no chão, não, é coisa compassada, são passos mesmo, pisando nas folhas secas do terraço, bem ali depois do janelão diante da tua cama.
Então você escorrega as pernas pela beirada da cama, os pés achando o chão, para agachar e tatear o criado-mudo até achar a lanterna, daí sai para o terraço com o co-ra-ção estrondando, pronto para enfrentar seja lá o que for com a lanterna.
Então dá com a cachorra mordendo pato de plástico que range parecendo passos, e você se vê pelado na noite estrelada, coração amansando, a cachorra te olhando como a perguntar: e então?
3
O ET CHEGA como sempre quando tenho insônia, quando vejo já meperguntando: e aí, na vidinha de sempre?
Não tenho disco voador, falo logo, pra viver flanando pelo universo a se meter na vida dos outros, e ele ri: mania de pensarem que usamos disco voador...
Como é que viajam então, pergunto eu, e ele fala como se fosse criança: o ser que você vê, aqui na sua frente, é só projeção de minha mente, pois eu mesmo estou no futuro, não noutra galáxia distante mas aqui mesmo, muito tempo depois de agora.
Mas como assim, pergunto, como você é só uma projeção se é tão real... e quero pegar pelo braço, meu braço lhe atravessa o corpo, e ele sorrindo se desfaz no ar, enquanto eu sinto um friozinho por dentro e fico a pensar: Deus, será que o ET é descendente meu? (FONTE: Crônica escrita por DOMINGOS PELLEGRINI, jornalista e escritor, página 2, caderno FOLHA 2, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI, 2 e 3 de dezembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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