Inauguração da primeira fase das obras foi cerada de polêmica; muitos eram contrários à iniciativa
Há quarenta anos, no dia 10 de dezembro de 1977, Londrina completava 43 anos e, para comemorar o aniversário da cidade o então prefeito Antonio Belinati inaugurou a primeira fase das obras do Calçadão, que ia da antiga prefeitura, na rua Minas Gerais, até a praça Gabriel Martins. A construção fazia parte do Projeto Centro e foi elaborada pelo arquiteto curitibano Jaime Lerner. O evento contou com a presença de autoridades do governo federal e foi um acontecimento precedido de muita polêmica.
Entre os defensores de fechar uma parte da avenida Paraná para a circulação de veículos, os principais argumentos eram o reforço à segurança de pedestres e a revitalização do espaço. Uma forma de evitar atropelamentos com mortes, como os muitos casos que haviam sido registrados até então, e acabar com a "vadiagem” no local. Para aqueles contrários à iniciativa, a construção do Calçadão iria prejudicar o comércio e demandar investimentos muito altos que poderia ser empregados em obras consideradas por eles mais urgentes.
Em seu discurso, o prefeito ressaltou o aspecto da humanização e da revitalização do centro que a obra iria propiciar. Belinati lembrou que a rede bancária havia adquirido quase todos os imóveis da avenida Paraná e a via se transformava em uma via bancárias. O Calçadão, afirmava ele, surgia para dar “nova destinação à via”, valorizando o comércio e o turismo locais. Ele destacou ainda que o projeto se enquadrava nos padrões estabelecidos pelo governo federal, que tinha como meta principal o transporte público e os pedestres.
Quatro décadas depois, o Calçadão segue aquecendo discussões. Não pela necessidade ou não do projeto, já que hoje em dia é raro encontrar alguém que considere a obra desnecessária. O calçamento que cobriu boa parte da extensão da avenida é um dos ícones da cidade. Localizado no coração da região central, é ponto de encontro e palco para manifestações políticas e culturais. Mas algumas mudanças estéticas promovidas nos últimos anos e a retirada de serviços ainda não foram assimiladas pela população, que também reclama da falta de cuidado com o espaço.
A produtora de rádio, artista sonora e pesquisadora Janete El Haouli mudou-se para um edifício no Calçadão em fevereiro de 1975, onde viveu até 1982. Em 2001, voltou para o mesmo apartamento onde está até hoje. Em todos esses anos, viu acontecerem sob a sua janela as muitas transformações no local. E é com tristeza que ela observa hoje o nosso espaço. “Tivemos momentos em que existia uma movimentação humana, com muitas atividades artísticas e culturais e isso se perdeu no momento em que teve a reforma (em 2009), que retiraram o petit pavê, os quiosques, algumas árvores. Não houve uma revitalização. Houve um retrocesso”, avalia. “O Calçadão foi ficando triste, vazio no sentido humano. A retirada do coreto foi uma facada, não só para mim, mas para muitas pessoas.”
Para El Haouli, mesmo após o retorno dos quiosques, neste ano, não foi possível recuperar o clima que havia alí décadas atrás. “ A sensação que eu tenho é que parece algo artificial. Não voltou aquele movimento que tinha antes. Esses quiosques, no meu entender, não contribuíram muito para a vitalização porque existe uma memória do que era que foi destruída”, lamenta. E após o encerramento das atividades no comércio, ressalta ela, o problema é a falta de segurança. (Leia mais na página 2). (FONTE: SIMONI SARIS – Reportagem Local, caderno FOLHA CIDADES, PROJETO CENTRO, sexta-feira, 8 de dezembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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