Meu pai criava canários por hobby, ou seja, buscava se ocupar nas horas em que não havia nada para ele fazer. Além do valor sentimental e do prazer de ter a beleza e qualidades sonoras de tais pássaros, papai tinha brancos, amarelos, alaranjados, azuis, vermelhos, etc. Um arco-íris expandido. Colírio para os olhos minha gente!
Mansos, os canarinhos se adaptam bem, se aninham de modo tranquilo, e se reproduzem sadiamente em gaiolas e viveiros.
Os canarinhos, quer em gaiolas individuais ou não, tomavam banhos, iam pulando de um a outro poleiro, como se estivessem brincando de pega-pega. Nos balanços, as avezinhas ficavam se balançando durante algum tempo, tal como fazem as crianças. Era um deleite e uma graça assistir às necessárias movimentações que eles realizavam naqueles espaços. Necessárias, porque os canários, também precisam de exercícios para não engordarem demais e para não ficarem doentes.
Quanto à alimentação, papai reservava um bom período da manhã para tratar de seus bichinhos queridos. Limpava as gaiolas, lavava e enchia os recipientes com água boa, limpa e fresca, sempre. Fornecia alimentações certas para cada qual das frágeis avezinhas. E não era pouco os canários que ele criava.
Havia uma grande gaiola viveiro que as pessoas chamavam, também, voadeira, onde cabia muitos de seus canários.
Mas também havia gaiolas individuais e outras para acasalamento. O que chamava muito a minha atenção, era a gaiola do acasalamento. Era dividida internamente, em três partes. Na do meio ele colocava o machinho e, em cada uma das laterais, uma canária. E ficava atento ao que ali acontecia porque, quando “chegada a hora” (só ele sabia o momento certo), ele abria um dos compartimentos laterais e o canário macho passava para lá para “namorar”. Seguiam-se, a partir desses momentos, outros cuidados de parte do criador.
Reservava para alimentar suas delicadas e lindas avezinhas um arsenal de alpiste e sementes de girassol. Mesmo apesar de saber que se desse muito alimento aos canarinhos eles poderiam vir a adoecer e, quem sabe, até morrer.
Verduras, ele as escolhia e lavava muito bem. E dava almeirão e couve, as quais colocava penduradas entre as varetas da gaiola. Às vezes servia frutas cortadas em pedaços. E quando se aproximava a procriação (momentos dos quais só ele sabia ao certo), dava ovo cozido bem durinho para as aves que iam procriar. Depois de nascidos os filhotinhos, ele dava só as gemas de ovos aos recém-nascidos e dizia que era para eles se preparem para, futuramente, poderem comer o alpiste.
As plumagens dos canarinhos sofrem mudanças logo que o ano começa, podendo, a troca ou muda, durar por dois meses ou pouco mais. A muda começa pelas asas e cauda e, algum tempo depois, renovam-se as peninhas do corpo. Ah, a muda de pena não acontece na cabeça dessas aves. Nesse período, papai sempre colocava um pouco de linhaça junto com o alpiste porque, dizia, assim as penas ficavam mais viçosas e brilhantes.
Os ninhos, ele colocava um pouco acima dos poleiros das gaiolas e tratava com muito carinho da higienização deles porque era ali que as fêmeas punham seus ovos para procriar.
Sabe-se que existem concursos para julgar os mais belos e melodiosos cantos dos canários, mas meu pai nunca levou os seus para participar de qualquer concurso, muito embora, seus cantos fossem algo digno de parar ouvir. (Sabia que só os machos cantam? São raríssimas as fêmeas que o fazem).
Os cantos, gorjeios e trinados dos canarinhos de papai, logo cedo, nos acordavam com tamanha e variada sinfonia a nos animar e motivar para um bom e feliz dia. (FONTE: MARIA I. BEATRIZ POLÔNIO, leitora da FOLHA, caderno FOLHA RURAL, página 2, coluna DEDO DE PROSA, 2 e 3 de dezembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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