Nos anos 1980, eu era um crente no Partido dos Trabalhadores. Panfletava,
saía em passeatas, participava de comícios em Ibiporã e região. O que mais me
seduzia eram as promessas de um país mais honesto, justo, transparente.
Sonhávamos e acreditávamos que estávamos no caminho certo.
Em 2002, o PT subia a sonhada rampa do Palácio do Planalto e a partir daí ( muito antes talvez ) alguma coisa começou a fazer barulho estranho: o bonde da moralidade descarrilava. Alguns abandonaram o bonde, outros ficaram agarrados à sua carcaça tombada no fundo de um vale pantanoso e lá na cabine destroçada continuavam os dirigentes a dizer que tudo estava bem. Se havia algo de errado,diziam, era a direita que não aceitava a revolução popular, era a elite que não suportava ver o pobre de barriga cheia.
Foi neste ponto que eu (apenas um simpatizante não ligado ao partido) perdi o fio da meada. Para muitos, o partido fazia a lição de casa, enquanto teimosamente víamos um bonde descarrilado no fundo do vale. Tudo o que de ruim fosse revelado sobre o partido, atribuía-se à dita imprensa golpista. O mestre do embuste bem que nos alertou que as palavras são mais importantes que os fatos.
E assim passamos a ser o outro: opositor reacionário que defendia os interesses escuros de uma burguesia desavergonhada. Enquanto o PT se transformava em algo tão medíocre e corrupto, aqueles que continuavam em suas fileiras, quando interpelados, apontavam os pecados do PSDB, do FHC e de outros, como se os erros destes justificassem todos os erros do PT.
O PT subiu ao poder justamente por força de seu discurso moralizador e deveria, mais do que qualquer outro partido, responder pelas incoerências que praticou. Curiosamente, sempre que discuto com pessoas que continuam a defender o PT estas se utilizam dos mesmos argumentos e palavras, como se fosse um texto combinado entre seus simpatizantes.
Intrigante é, também, pessoas que ainda relacionam o Partido dos Trabalhadores com o socialismo. Como se tal aglomerado de políticos e simpatizantes tivessem ainda a força de representar a falida utopia comunista que só existe hoje na cabeça dos excêntricos e dos cínicos.
Respeito e admiro muito os simpatizantes do PT, pois sei que são pessoas honestas, corretas, que conduzem suas vidas segundo valores que prezo , mas resta-me uma confusão no espírito: percebo também pessoas moralmente fraturadas que aceitam dois pesos e duas medidas. Por que os erros cometidos por um grupo são desculpáveis? E se cometidos por outro grupo, os mesmos erros, são condenáveis? Eu não tenho resposta para isto, apenas dúvidas. Acredito que eu me sentiria muito mais feliz se ainda pudesse acreditar e defender o PT e seu ideais como tantos o fazem. ( Texto escrito por JOSÉ DE CARVALHO JÚNIOR, servidor público estadual em Londrina, extraído do espaço ponto de vista,página 2, publicação do JORNAL DE LONDRINA, quinta-feira, 9 de abril de 2015)
Em 2002, o PT subia a sonhada rampa do Palácio do Planalto e a partir daí ( muito antes talvez ) alguma coisa começou a fazer barulho estranho: o bonde da moralidade descarrilava. Alguns abandonaram o bonde, outros ficaram agarrados à sua carcaça tombada no fundo de um vale pantanoso e lá na cabine destroçada continuavam os dirigentes a dizer que tudo estava bem. Se havia algo de errado,diziam, era a direita que não aceitava a revolução popular, era a elite que não suportava ver o pobre de barriga cheia.
Foi neste ponto que eu (apenas um simpatizante não ligado ao partido) perdi o fio da meada. Para muitos, o partido fazia a lição de casa, enquanto teimosamente víamos um bonde descarrilado no fundo do vale. Tudo o que de ruim fosse revelado sobre o partido, atribuía-se à dita imprensa golpista. O mestre do embuste bem que nos alertou que as palavras são mais importantes que os fatos.
E assim passamos a ser o outro: opositor reacionário que defendia os interesses escuros de uma burguesia desavergonhada. Enquanto o PT se transformava em algo tão medíocre e corrupto, aqueles que continuavam em suas fileiras, quando interpelados, apontavam os pecados do PSDB, do FHC e de outros, como se os erros destes justificassem todos os erros do PT.
O PT subiu ao poder justamente por força de seu discurso moralizador e deveria, mais do que qualquer outro partido, responder pelas incoerências que praticou. Curiosamente, sempre que discuto com pessoas que continuam a defender o PT estas se utilizam dos mesmos argumentos e palavras, como se fosse um texto combinado entre seus simpatizantes.
Intrigante é, também, pessoas que ainda relacionam o Partido dos Trabalhadores com o socialismo. Como se tal aglomerado de políticos e simpatizantes tivessem ainda a força de representar a falida utopia comunista que só existe hoje na cabeça dos excêntricos e dos cínicos.
Respeito e admiro muito os simpatizantes do PT, pois sei que são pessoas honestas, corretas, que conduzem suas vidas segundo valores que prezo , mas resta-me uma confusão no espírito: percebo também pessoas moralmente fraturadas que aceitam dois pesos e duas medidas. Por que os erros cometidos por um grupo são desculpáveis? E se cometidos por outro grupo, os mesmos erros, são condenáveis? Eu não tenho resposta para isto, apenas dúvidas. Acredito que eu me sentiria muito mais feliz se ainda pudesse acreditar e defender o PT e seu ideais como tantos o fazem. ( Texto escrito por JOSÉ DE CARVALHO JÚNIOR, servidor público estadual em Londrina, extraído do espaço ponto de vista,página 2, publicação do JORNAL DE LONDRINA, quinta-feira, 9 de abril de 2015)
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