1. Futebolização.
Necessário, útil, prazeroso e saudável é o esporte, ruim é sua divinização. Os
atletas hoje são ídolos e os times comentados, defendidos, exaltados,
“adorados” como uma divindade até ao fanatismo.
Pelo time, se sofre, se faz
grandes sacrifícios, se paga caro e se briga. Mesmo perdendo se permanece
torcendo. O futebol se torna mais
importante que a religião, que a família, que a Igreja. Foi endeusado. Há uma
reverência, fascinação e arrebatamento pelos atletas e um verdadeiro “culto às
suas pessoas”. Quanto mais fascinante é uma pessoa, um time, um objeto, tanto
mais se reveste do brilho do absoluto, portanto, da divinização. Há quem lembre
mais do time do que de Deus. Falamos mais dos jogos do que do Evangelho. Todo
fanatismo, sectarismo, idolatria é desaconselhável porque é prejudicial.
Esporte sim, fanatismo não.
2. O espetáculo.Voltou o tempo do “pão e circo”. O
que chama porém a atenção é que até o mal virou espetáculo.Busca-se
aquilo que agrada, causa prazer, sensação, emoção. Mesmo as tragédias do
trânsito viraram espetáculo porque nossa curiosidade quer saber quantos
morreram. A violência, o terrorismo, a imoralidade se transformaram em
espetáculo que traz lucro. A própria
corrupção não deixa de ser um espetáculo vergonhoso. Não interessa a
verdade, a ética, a transparência. É o reino do espetáculo que se expressa
também em exorcismos, curandeirismos, exageros litúrgicos. Alegria sim,
espetáculo, não.
3. O demonismo. Voltou de
forma exagerada e superficial a satanização de tudo e de todos. Claro que
cremos na existência e na atuação do maligno. Porém, há um exagero e exaltação
do poder do mal em nossos dias. Cremos, é claro, na importância do exorcismo e
devemos levar a sério as maquinações satânicas. O demonismo, porém, é um perigo
porque as pessoas não assumem suas culpas e transferem tudo para o demônio. Não
podemos comparar o poder de Deus com o poder do mal. Deus é todo-poderoso e
ninguém mais. Não é de bom exagerar o satanismo. Precisamos de discernimento e
esclarecimento teológico, para não atribuir ao maligno o poder que não tem,
porque já foi derrotado. Discernimento dos espíritos, sim, demonismo, não.
4. A dependência eletrônica.
O desenvolvimento das redes sociais, o aperfeiçoamento das técnicas e dos
aparelhos são maravilhas dos nossos tempos. Falamos, porém, na dependência que
eles criaram nas crianças, jovens, adultos. Há famílias apavoradas com a
dependência eletrônica em seus lares. Quem não tem estrutura religiosa, ética e
emocional acaba prejudicando a própria vida pela submissão aos aparelhos. Os transtornos
atingem também as pessoas consagradas e âmbitos eclesiásticos. Como se queixam
os professores a respeito de alunos que na aula não prestam mais atenção,
totalmente distraídos, alienados dependentes do celular. Tecnologia, sim,
tecnocentrismo, dependência dos
aparelhos, não.
5. O ritualismo exagerado. A
Sagrada Liturgia requer de nós todos, conhecimento das normas, fidelidade às
orientações da Igreja, fé adulta, celebração participativa, boa comunicação.
Tudo isso faz parte da “arte de celebrar”. Outra coisa é o ritualismo radical,
a rejeição da legítima criatividade na liturgia, a importância entre liturgia e
pastoral. Não podemos ser rigorosos no rito e permissivos na vida, na
moralidade. O altar não é palco, nem passarela, nem trampolim, nem palanque
para interesses pessoais. A Igreja de
Jesus não é Igreja dos panos, mas do avental. Amor à liturgia, sim, ritualismo,
não.
6. O devocionismo. A devoção
é uma conseqüência da fé, do amor, da adoração de Deus e da religiosidade
popular. O devocionismo é o exagero, o excesso, o desvio da fé. O devocionismo
não enfoca o Evangelho, à pertença à comunidade, o trabalho pastoral, a
dimensão social da fé. Caracteriza-se
pela busca pessoal da cura,
alívio, interesses pessoais. O sofrimento humano encontra no devocionismo um
consolo. Porém, é preciso dar um passo além, porque a verdadeira religião
consiste em visitar os órfãos e as viúvas e conservar-se puro da corrupção
deste mundo (cf. Tg. 1,27). O devocionismo não se envolve com o profetismo ,
nem com a Doutrina Social da Igreja. Devoção, sim, devocionismo, não. ( \texto
escrito por DOM ORLANDO BRANDES,
arcebispo de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, 26 de abril de
2015).
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