FLAMBOIÃ é exposição viva da natureza. Desfolha-se no
inverno, reenfolha-se na primavera e, quando flore, numa mesma rama vemos
flores abertas e flores ainda em botão, ao lado de vagens secas e escuras do
ano passado e novas vagens verdinhas. Além disso, é um parque de parasitas, com
musgos e liquens que parecem mortos, de tão secos, mas basta uma chuvinha e
reverdecem, tão resistentes quanto jubilantes. Abriga pássaros, de vez em quando um pica-pau
com seu toc-toc animado E sustenta uma corda pendurada num galho, o “balanço do
Tarzã” dos netos. É mais que uma árvore, é uma comunidade.
DESCONSOLO e decepção com os
serviços públicos é norma nesta república. Na vizinha rua Massao Ouya, tem poste com lâmpada acesa
de dia, há meses, Já notificamos a Copel, duas vezes, e depois a Sercomtel, e a
lâmpada continua acesa. Quando comunicamos, sempre pedem que a gente anote o
protocolo, parece um modo de dizer que o serviço não será efetivado, apenas protocolarmente anotado. E
pedem tua identidade, o teu endereço, e o endereço do poste. Mas a rua só tem
um quarteirão e só três postes. E a notificação já somou três protocolos. E a
lâmpada continua acesa. Protocolarmente e realmente acesa, símbolo de descaso.
MANDIOCAS só nos dão satisfação.
Este ano estão maiores, decerto porque não tiveram de enfrentar seca. Dalva
adora colher e descascar, dizendo que mandioca lembra sua infância no Distrito
da Selva. Fazemos mandioca frita uma vez por quinzena , e comemos também com salada, cozida
e regada com azeite e ervas, e até assada, embrulhada em papel alumínio para
acompanhar qualquer tipo de carne, mandioca só não combina com frutos do mar. E
inventamos purê de mandioca: bem cozida, amassar com garfo, daí misturar com
cebola picadinha frita na manteiga, acrescentar leite ou creme de leite, queijo
ralado e manjericão , mexer bem, regar com azeite e tentar comer com moderação.
BRAVO está ficando grisalho no lombo. Esperamos pé de atemoia dar
as primeiras flores. Fizemos podas, temos lenha para as fogueiras do inverno.
Antúrios mudam de cor conforme o vaso
muda de lugar. Tudo muda, tudo transa, tudo caminha. A chácara é barco no mar
do tempo.
BEIJA-FLOR entra pela janela,
talvez porque enfeitamos o almoço com muitas flores, e paira voejando acima da
mesa, todos os talheres paralisam. O bichinho zune, voltejando acima das cabeças como se escolhendo quem
bicar, daí zum, sai chipando por outra janela: lá fora as flores tem néctar, aqui são só enfeite.
VERÃO, dormimos com o
janelão do quarto aberto. Outono e
primavera, a pedido de Dona Bexiga levanto
no meio da madrugada, visito o amigo Vaso, depois fecho o janelão. Inverno, dormiremos com o janelão fechado e, nas noites mais frias,até com suas
vidraças fechadas. A casa é um ser vivo, as janelas são olhos e narinas, as
portas são bocas, o fogão é o coração, a sala é o pulmão e varanda é a primeira
a receber nossa mais freqüente visita, o vento. Casa, te amamos/do assoalho às telhas/do fogão ao chão/que comungamos. (
Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINI, página 21, espaço DOMINGOS PELLEGRINI d.pellegrini@seromtel.com20.br publicação do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 19 de abril de 2015).
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