O bareback é a prática de relações sexuais sem o uso de preservativo. O
termo foi criado pelos cowboys
(vaqueiros, em tradução livre) dos Estados Unidos e significa “montar sem
sela”. Baseados nas competições de montaria, alguns o fazem sem equipamento,
tendo contato direto com os pelos do animal. Daí a referência ao ato “direto na
carne”, sem métodos preventivos. Na década de 1980, o hábito começou a ser
difundido e, dez anos depois, já era considerado “popular”, revelando adeptos
em outros países.
Para reunir pessoas com o mesmo interesse, são promovidas diversas festas, também conhecidas como barebacking parties. Logo na entrada, há a informação de que o preservativo não é admitido. No Brasil, tais eventos ainda são tímidos, mas começaram a atrair, cada vez mais, a atenção de quem gosta de “pele na pele”.
A principal encarregada de angariar convidados é a internet. Blogs foram surgindo para incentivar a prática e são usados como portais de comunicação para as “comemorações”. Acontece que, independentemente dos motivos que levam as pessoas a não usar a camisinha, é impossível não trazer à tona a discussão sobre a transmissão do HIV.
A partir de tais eventos, teve início um movimento conhecido como “clube do carimbo”. Trata-se de pessoas autointituladas “carimbadoras”, que são as portadoras ou transmissoras do vírus. Inclusive, este é o principal propósito. Há páginas na internet que explicam os procedimentos e incentivam os praticantes mais antigos a buscarem novos membros.
Em festas de” conversão”, bug chasers (procuradores do vírus”, em tradução adaptada) não possuem HIV, mas se dispõem ao sexo sem camisinha. O objetivo é encontrar um gift giver, ou carimbador, em português, para ser contaminado . Exatamente: os soropositivos “entregam” o presente que seria o vírus. Festas de roleta-russa misturam positivos e negativos.
Inicialmente, qualquer reflexão sobre o assunto deve deixar de lado a hipocrisia. Além disso, devemos nos afastar de nossos próprios julgamentos, para não estagnar no imediatismo de demonizar ou glamourizar o barebacking.
Em primeiro lugar, não existe um termo para heterossexuais que não tiram a camisinha. Dga-se de passagem, o uso não é uma unanimidade. Aparentemente, quando o resultado fina l é uma gravidez indesejada e não a contaminação pelo HIV, a falta do preservativo é minimizada.
Em segundo, a escolha de transar sem camisinha é individual e os adeptos relatam uma sensação de liberdade plena, que vai desde a intensidade do prazer, até mesmo a autonomia de não sentir medo do HIV. Cabe um esclarecimento, porém: nem todo barebacker é “carimbador”,
Preferir se infectar a viver na expectativa ou na iminência de contrair a doença faz com que muitos abram a mão dos cuidados e se permitam flertar com a possibilidade. Se nada acontecer, o sentimento é de triunfo. Um descompromisso que é resultado de uma equivocada concepção de minimizar os efeitos do vírus.
Ignorar os malefícios do vírus é alienar-se diante de uma dura realidade. Simplficar algo que merece atenção e conhecimento, pois se trata de uma doença limitadora e, mesmo com os avanços de medicamentos, ainda não se fala em cura.
Casos como o dos “carimbadores”, ou a imagem destrutiva por trás das festas de barebacking, agravam e estigmatizam ainda mais os soropositivos. Vale recordar que eles já sofrem muito preconceito por sua sorologia. A desinformação e a polêmica são ingredientes suficientes para a sociedade alimentar seus monstros.
Fato é que, apesar de tudo, a autonomia deve ser respeitada. Os praticantes, sabendo da proposta do barebacking, se entregam às suas fantasias. O que está por trás disso? Provavelmente, não vai além do nosso julgamento. E é muito difícil nos abstermos dele, uma vez que, naturalmente, é fácil atribuir ao outro o que não aceitamos em nós mesmos. ( Texto escrito por BRENO ROSOSTOLATO, psicólogo e professor universitário, publicado pelo jornal FOLHA DE LONDRINA, quinta-feira, 2 de abril de 2015, extraído do ESPAÇO ABERTO, página 2).
Para reunir pessoas com o mesmo interesse, são promovidas diversas festas, também conhecidas como barebacking parties. Logo na entrada, há a informação de que o preservativo não é admitido. No Brasil, tais eventos ainda são tímidos, mas começaram a atrair, cada vez mais, a atenção de quem gosta de “pele na pele”.
A principal encarregada de angariar convidados é a internet. Blogs foram surgindo para incentivar a prática e são usados como portais de comunicação para as “comemorações”. Acontece que, independentemente dos motivos que levam as pessoas a não usar a camisinha, é impossível não trazer à tona a discussão sobre a transmissão do HIV.
A partir de tais eventos, teve início um movimento conhecido como “clube do carimbo”. Trata-se de pessoas autointituladas “carimbadoras”, que são as portadoras ou transmissoras do vírus. Inclusive, este é o principal propósito. Há páginas na internet que explicam os procedimentos e incentivam os praticantes mais antigos a buscarem novos membros.
Em festas de” conversão”, bug chasers (procuradores do vírus”, em tradução adaptada) não possuem HIV, mas se dispõem ao sexo sem camisinha. O objetivo é encontrar um gift giver, ou carimbador, em português, para ser contaminado . Exatamente: os soropositivos “entregam” o presente que seria o vírus. Festas de roleta-russa misturam positivos e negativos.
Inicialmente, qualquer reflexão sobre o assunto deve deixar de lado a hipocrisia. Além disso, devemos nos afastar de nossos próprios julgamentos, para não estagnar no imediatismo de demonizar ou glamourizar o barebacking.
Em primeiro lugar, não existe um termo para heterossexuais que não tiram a camisinha. Dga-se de passagem, o uso não é uma unanimidade. Aparentemente, quando o resultado fina l é uma gravidez indesejada e não a contaminação pelo HIV, a falta do preservativo é minimizada.
Em segundo, a escolha de transar sem camisinha é individual e os adeptos relatam uma sensação de liberdade plena, que vai desde a intensidade do prazer, até mesmo a autonomia de não sentir medo do HIV. Cabe um esclarecimento, porém: nem todo barebacker é “carimbador”,
Preferir se infectar a viver na expectativa ou na iminência de contrair a doença faz com que muitos abram a mão dos cuidados e se permitam flertar com a possibilidade. Se nada acontecer, o sentimento é de triunfo. Um descompromisso que é resultado de uma equivocada concepção de minimizar os efeitos do vírus.
Ignorar os malefícios do vírus é alienar-se diante de uma dura realidade. Simplficar algo que merece atenção e conhecimento, pois se trata de uma doença limitadora e, mesmo com os avanços de medicamentos, ainda não se fala em cura.
Casos como o dos “carimbadores”, ou a imagem destrutiva por trás das festas de barebacking, agravam e estigmatizam ainda mais os soropositivos. Vale recordar que eles já sofrem muito preconceito por sua sorologia. A desinformação e a polêmica são ingredientes suficientes para a sociedade alimentar seus monstros.
Fato é que, apesar de tudo, a autonomia deve ser respeitada. Os praticantes, sabendo da proposta do barebacking, se entregam às suas fantasias. O que está por trás disso? Provavelmente, não vai além do nosso julgamento. E é muito difícil nos abstermos dele, uma vez que, naturalmente, é fácil atribuir ao outro o que não aceitamos em nós mesmos. ( Texto escrito por BRENO ROSOSTOLATO, psicólogo e professor universitário, publicado pelo jornal FOLHA DE LONDRINA, quinta-feira, 2 de abril de 2015, extraído do ESPAÇO ABERTO, página 2).
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