De uma forma ou de outra, sempre buscamos alimentar nossa fé e nossa esperança. Quando buscamos uma bênção, buscamos uma forma de experimentar mais de perto a presença de Deus. Alguns fazem caminhadas ou romarias em honra ao santo de sua devoção; outros fazem peregrinações a lugares sagrados. Nas mais variadas formas, com água benta, com objetos religiosos, com sinais, gestos e promessas, cada um usa de um meio para aproximar-se de seu santo ou santa, usa uma forma de apresentar-se do sagrado, enfim, um modo de achegar-se a Deus. Uma forma de alimentar a sua fé.
Trata-se ainda de um caminho para alimentar a esperança. Um caminho de espiritualidade em que os atos exteriores querem expressar o que acontece por dentro, o que vai no coração do fiel. Expressões de uma fé simples, mas que guarda sua profundidade. Aos olhos de muitos a profundidade dessa fé simples passa despercebida, pois é preciso ler os gestos de devoção com os olhos do coração. Perceber nos gestos dos romeiros, a esperança e a fé que eles trazem em seu interior.
Isso não dispensa a necessidade de também ajudar a purificar os gestos devocionais e as práticas de devoção de seus exageros ou das expressões que se distanciam do Evangelho. Se temos o lado sadio da devoção, temos também o devocionismo, que é o desvio ou distanciamento da devoção de sua sadia expressão de fé. Uma coisa é fazer um voto na intenção de alcançar um favor de Deus. Outra bem diferente é negociar o favor como se fosse uma troca ou uma barganha. “Se o Senhor me atender... eu vou fazer isso ou aquilo....” Não é honesto querer negociar com Deus... O fiel é aquele que se confia às mãos de Deus, nele deposita sua fé e nele alimenta sua esperança.
Celebramos 300 anos de Aparecida. A Virgem da Conceição aparece em meio à luta e aos sofrimentos de seu povo. A simplicidade dos pescadores permitiu enxergar naquele acontecimento algo muito mais profundo. Deus não se esqueceu de seu povo e veio em seu socorro. Com o aparecimento da Virgem, veio ser solidário aos pobres e negros, quebrados e diminuídos pela escravidão. A imagem negra, pequena, quebrada, despida, despertou a fé e fez nascer uma nova esperança no meio do povo. A Senhora do céu assumiu na pele as dores e o sofrimento de seu povo. E o povo reconheceu: “Ela se fez uma de nós. Ela é nossa mãe”. A mãe dos aflitos, mãe dos pequenos, mãe dos desvalidos, mãe da nossa fé, mãe da esperança...
São 300 aos de fé e esperança. Tempo favorável para recuperar o lado sadio da devoção que não nos distancia do Evangelho, antes nos aponta para Ele. Que não cede às pressões do comércio e da mídia, antes aguça nosso senso crítico diante deles. Que não instrumentaliza a fé do povo para interesses políticos, antes faz abrir os olhos diante da realidade social.
E neste momento em que a corrupção toma conta e anseia roubar-nos a esperança, com certeza a Virgem da Conceição, mais uma vez, junta-se a seu povo como aliada da luta, para elevar a voz e novamente proclamar a esperança “o Senhor vai derrubar do trono os poderosos e elevar os humildes”. (Lc 1,52. Ele vai despedir de mãos vazias os corruptos e encher de bens os famintos e injustiçados. Ela recorda que outro é o projeto de Deus.
E isso é pra começo de conversa.] (IR. DENILSON MARIANO, SDN. Editorial, Revista O LUTADOR, Outubro 2017, Belo Horizonte, Minas Gerais).
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