Se abacaxi falasse gritaria:
- Parem de me bater! Me derrubam na colheita, me jogam em carreta, despejam em armazém, lançam em caminhão, no mercado me tombam, no supermercado levo mais alguns tombos e assim acabo todo batido!
A banana balbuciaria:
- Pois eu te invejo, diz que apanhou mas nem se vê, enquanto eu...
A maçã murmuraria:
- Eu tenho a sorte de viajar em caixote, mas sempre jogada e despejada de qualquer jeito, também acabo manchada de pancadas. Gente me pega, olha, joga de volta, mais uma pancadinha...
- Sei disso melhor que ninguém, apartearia a pera – Pois sou colhida bem verde por ser tão frágil ,de casca fina, onde depois vão aparecendo as pancadas conforme vou murchando...
- Em mim também – bradaria o abacate – tanto me batem!
- E em mim então? – emendaria o mamão.
Todos daí olhariam para a melancia que enfim falaria:
- Por que olham para mim? Sou a maior mas também nada posso contra a pancadaria! E, se tenho esta casca grossa que me protege, acho que, se levar tombo, será um só e me esborracho!
Então cochicharia aliviado o limão:
- Que bom ser pequeno e azedo...
- Mas que paranoia! – bradaria a atemoia – Quem se conforma vive conforme ou luta por melhora! Por que não mudamos essa história? Sem frutas, as pessoas viveriam doentes, sabiam?
As frutas em coro responderiam saber disso muito bem mas, suspiraria a cereja, fazer o quê?
- Lutar – gritaria a atemoia – Frutas do mundo, uni-vos! Basta de pancadarias! Abaixo o transporte bruto! Viagens com embalagem! Manuseio com amor! Respeito para as frutonas, carinho para as frutinhas!
O figo então falaria então fidagalmente:
- Minhas queridas frutas, vocês sabem que fui a fruta de imperadores e nobres, tão saborosa quanto delicada, com vasta experiência de vida e, portanto, também com avançada visão. E sei que revoltas levam a nada, tudo só se resolve com educação. É preciso fazer os humanos entenderem que, tratando mal as frutas, diminuem a renda dos produtores, o lucro dos mercadores e os empregos dos trabalhadores, aumentando apenas o lixo. Portanto...
- Menos falação e mais ação – reagiria a manga – A atemoia tem razão, se ficarmos falando do que precisamos, estaremos apenas imitando os humanos. Precisamos fa-zer!
- Mas – suspiraria novamente a cereja – Não temos mãos, nem ao menos pés, embora chamem as caramboleiras de pés de carambola. Nada podemos fazer senão continuar nossa missão de vida que, sabem todos, será sementear ou ser comidas.
- Ou virar lixo – lamentaria a ameixa – Mas meu sonho é virar sorvete ou geleia...
- Ora, não delre – se revoltaria a uva – Eu viro suco e vinho e...
- Che-ga! – comandaria a laranja – Vocês estão parecendo gente, tão cheias de ego, quanto de sementes! Vejam ali o cronista a anotar, quem sabe possa ser nosso porta-voz!
Todas as frutas então olhariam esperançosamente para o cronista, até o caqui pedir: - Fale por nós! – e as frutas repetiriam: fale por nós, e enfim todas as frutas se juntariam em coro: fale por nós, fale por nós...
O cronista prometeria fazer o que pode, uma crônica, e as frutas se calariam, algumas até meio murchando, a esperança michando, o maracujá enrugado a resmungar:
- Pouco me importo! Em mim podem bater, seco como sou...
Mas a romã ainda sussurraria corando:
- Ah, eu não desisto de ser tratada com amor... Já viram que romã ao contrário é amor? Então...
- Não se vanglorie – fala a jaca – Já ouvir falar de rejeição?
- E eu então – começa a jaboticaba, mas o cronista avisa que toda crônica acaba (Crônica escrita por DOMINGOS PELÇEGRINI, dpellegrini@sercomtel.com.br caderno Folha 2, página 3, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI, 21 e 22 de julho de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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